Segundo

Voltando ao horror, isso, terror, medo, raiva e ódio, muito ódio... Para quem ficou quinze anos me evitando, agora o todo poderoso Cel. Kim, sobrenome, o qual, eu ocultava sempre que podia, aparece no meu departamento, com Jinwoo Park, que, por sinal, é seu sobrinho, filho do irmão mais velho da SunHee, sua esposa, com vinte e sete anos, certo, bonito ele é! O tipo de homem, que, como diria minha avó, que era meio “irreverente” às vezes, deu vontade de pular no pescoço e dizer, me... Espera, irão me censurar! Ainda bem que sou equilibrada, caso contrário, teria feito mesmo! Que homens altos desta família, já acho o Jonzinho alto, Jinwoo é ainda mais alto, com uns, 1,86 de altura, chega a ser injusto comigo, como serei respeitada assim?! Ele é coreano, formado em psicologia, e, claro... Era, Coronel, como, o avô, o pai e os tios... Saiu do exército, por causa da oferta de entrar na inteligência e me auxiliar no trabalho!

Olha que linda situação...

Que trabalho? Não tinha nada para fazer naquele lugar, e quanto à estratégia, eu já havia até montado uma, se caso, acontecesse uma guerra. Só para você entender, o quanto tenho de trabalho... Dividir nada, por dois. Bom, não precisei me ocupar com a apresentação dele, meu digníssimo papai o fizera. Não necessito me preocupar, ele sempre estará presente na minha vida aqui, este lugar... Entrei para minha sala e fui seguida por “vossa excelência”!

- Bom dia, filha!

- Bom dia, senhor! Em que posso lhe ajudar? Irei apresentar os demais departamentos para o Jinwoo, mais tarde, fique tranquilo, ele será mais bem tradado do que eu sou, pelos demais.

- Obrigado! Mas não precisa ser formal comigo. Aproveitei para vê-la, sei que passou o fim de semana com o Jonguin.

 - Sim, passamos juntos, no meu apartamento, queríamos fugir do mundo... Da civilização, daí nos tocamos para o mato...

- Quanto sarcasmo, filha!

- Vamos combinar uma coisa, senhor, meu nome é Katy, não filha!

- Certo, Katy! SunHee e eu, conversamos semana passada, e achamos que você está sendo prejudicada com a distância que temos em nossa família. Comprei um apartamento para cada um de meus outros filhos, aqui estão as chaves do seu apartamento! Pensamos, em como seria bom se Jonguin e você, morassem perto, então, comprei aquele que estava vago no prédio dele.

Bem, como ele nunca conviveu comigo, não sabia quão desiquilibrada, sarcástica e malcriada, eu poderia ser, dependendo do meu interesse, tudo ao mesmo tempo... Neste dia ele presenciou, e todo o centro de Seul também!

- Que boazinha que ela é... - Era mesmo, mas eu estava brava. - Eu não preciso de esmolas... Escuta aqui, Sr. Kim, se acha que me comprando um apartamento, manipulando meio mundo para me transferirem para cá, o torna meu pai, não mesmo! Sabe muito bem, que minha capacidade ultrapassa a sua patente, sua posição e sua influência com as pessoas, que fazem o que você quer, por medo... Eu estava com tudo acertado para ir à Nova York, e o senhor, sabe disso. Não tinha ninguém para me superar naquela vaga, passei em tudo, com uma diferença inquestionável. E, para minha surpresa, recebo duas cartas, uma me dispensando do cargo, e, outra solicitando minha transferência. Fiquei quieta até agora, não subestime minha competência. Sabe que tenho capacidade para coisas, que o senhor, sequer, pensou em realizar. Fui a primeira de todas as turmas de tiro em estratégia, em negociação com reféns, líder do grupo no treinamento do esquadrão antibombas... Fui e sou capaz de me cuidar sozinha. - Neste momento só as pessoas do prédio me ouviam, gesticulei apontando para as pessoas, para todos verem e ouvirem. - Imagina que estou feliz, com todas essas pessoas achando que estou aqui somente por sua causa? Ninguém quer saber quem eu sou, apenas, pensam que sou sua filha! Nenhum deles, tem ideia do que passei para chegar aqui. Não fui para do exército, tal como, todos que aqui estão, mas... Eu trabalhei nas favelas, em meio ao tráfico, coisa que, 99% deles, não sabem nem o que é! Já tomei tiro, e tive que extrair a bala do meu braço, com a ajuda, de uma mãe apavorada, rolando no chão, com seus dois filhos deitados embaixo da cama, torcendo, que não invadissem o barraco, para que não nos matassem! – Neste momento eu havia me alterado novamente. Saí da minha sala, e o Cel. Irani kim, ficou me olhando, como se tivesse sentindo orgulho de tudo aquilo que estava vendo... Continuei falando parada no meio da sala do departamento, todos já estavam de pé mesmo, só fui falar mais claro. - Nunca fui para uma guerra, mas duvido, que qualquer um de vocês, saibam o que é subir um morro, onde os bandidos têm armas melhores que as nossas, também duvido, vocês aguentarem três dias sangrando, e só ter analgésico e antitérmico para aliviar a dor. Usar vinagre, para desinfetar a ferida. Tenho tantas tatuagens, quanto um soldado, inclusive, para esconder uma cicatriz no braço. - Virei para o meu amado primo, que acabara de conhecer. - Já levou um tiro?

- Não. –  Ele respondeu prontamente.

- Então, não acredite, quando dizem que não dói... Dói muito! E, só para acabar com qualquer coisa, que possa ficar mal entendida dentro do departamento! Eu queria estar aqui, tanto quanto vocês me querem aqui, odeio ter que vir trabalhar, da mesma forma que vocês me odeiam, mas infelizmente, minha vaga já foi preenchida em Nova York, por um cara, que não atingiu nem a metade da minha pontuação final. Portanto, não quero mais ouvir, que estou, ou podem, sim, dizer... Que eu só estou aqui por ser filha dele. - Virei e reverenciei meu pai. - Agradeçam a ele. Vocês não conhecem o meu trabalho, e desculpem-me, sei que me alterei, que não esperam isso de uma diretora. Realmente, eu peço desculpas a todos. - Virei para Jinwoo. – Você também, me desculpe!

Entrei na minha sala, ereta e com a cabeça levantada, sem olhar mais para trás.

- Filha!

- Não pedirei desculpas ao senhor!

- Você! – Meu pai deu uma pausa e suspirou... – Lembra-me muito meu pai, no gênio e minha mãe na aparência, frágil, bonita e simpática, igual ao Jon! Eu peço desculpa por tudo que lhe causei, eu era apenas um jovem confuso, com uma esposa grávida, e uma carreira em ascensão. Não sabia o que fazer. Sei, que não irei reparar a falta que fiz na sua vida. Mas aceite o apartamento, ficará perto dos seus irmãos e da civilização, como você diz... Se não quiser fazer por mim, ou por você, faça pelos seus irmãos, vocês ficarão todos juntos, eles irão adorar ter você por perto, sempre quiseram, mas quando decidimos trazer você, sua avó não deixou!

Opa, quando quiseram, minha avó não deixou? Sem deixar meu orgulho de lado, olhei-o.

- Está certo, por eles... E fui eu quem não quis vir, a vovó não teve nada com isso!

- Quero pedir, que, por favor, me chame de pai! Compreendo, que vinte e dois anos, é muito para começar a fazer isso, mas, senhor não. Não me chame mais assim! E cuide do seu primo, ele mereceu estar aqui... É tão bom quanto você, apenas falta sua experiência. Posso te abraçar, minha filha?

Agora é a hora de engolir todo meu orgulho ferido. Dei um suspiro.

- Sim, senhor Kim, quer dizer, desculpe, sim. Mas sinceramente merecer... Ele não serve para isso!

Ele me abraçou. – SunHee disse, que se precisar, ela pode ir com você para comprar os móveis para o apartamento.

- Agradeça a ela, mas pedirei para o Jon ir comigo.

- Sim, filha. Tenha um bom dia de trabalho!

Nem respondi, depois daquele show, queria um buraco para me enfiar. Chamei Jinwoo, e comecei a mostrar-lhe os sistemas, os procedimentos, assim se foi o dia todo... Coisa horrível, agir no instinto, quando se está brava. Perde-se a razão, e metade das coisas você não lembra que falou! Mas todos lembram o que ouviram...

                                                                                  XXX

Estou aqui no prédio, quero conhecer o tal apartamento, para poder comprarmos os móveis. Quando cheguei, Jon, já estava me esperando.

- Fica dois andares acima do meu!

- 14° andar? É a cobertura?

- Sim, só tinha esse apartamento aqui no prédio. Ele é lindo, praticamente igual o meu.

Nós entramos no apartamento, fiquei muito impressionada com a incrível semelhança dos apartamentos, segundo o olhar do meu irmão.

- Jonzinho! Nossa... É idêntico... Tirando o fato, de ser praticamente o dobro do seu, e único no andar!

- Escolhi para você poder trabalhar em casa, podemos decorar, ainda sobra espaço para nós dançarmos!

- Sabe há quantos anos eu não danço? Acho que nem sei mais usar uma sapatilha.

- O da Louquinha e do Chin, também são grandes assim?

- Louquinha! Nem lembrava mais desse apelido... Lembra-se da confusão que foi?

- Lembro, ficamos quase um mês de castigo, por causa dela.

- Tínhamos era que ter ganhado uma medalha, não castigo. Você sempre teve esse instinto protetor no sangue, né, Katy? Eu nunca pularia daquele jeito para segurá-la, ninguém a mandou subir na árvore e pular.

- Ela cairia em cima da enxada, se não morresse, iria ficar muito machucada. E ainda ficou brava porque eu a xinguei... Ninguém quis nos escutar, lembro-me do seu pai, gritando com a gente, a vovó, me dando banho, para me levar ao hospital para colocar o gesso no dedo quebrado, a sua mãe, dando banho nela, para dar pontos no braço, e o vovô, chorando, por ter deixado a enxada lá em baixo da árvore, virada para cima!

- Lembra-se de nós pulando as janelas, para ir brincar atrás daquela casa velha, que tinha nos fundos?

- Lembro-me, Jon. Era divertido... Não aprendi nada de coreano e nem você de português! Recordo-me, também, quando comecei a estudar inglês, e conseguimos nos falar, de verdade, pela primeira vez... Já se passou dez anos, desde quando conseguimos nos entender conversando, sem mais jogos de mímica. Mas você não respondeu, eles têm um apartamento tão grande quanto o meu?

- Não, sua teimosa, insiste no assunto... Fui eu quem escolheu o apartamento, o pai nem veio ver. Eu só disse o valor, e ele comprou. Foi simples assim! Não reclama. Se quiser brigar com alguém, briga comigo. Não te falei nada porque eu sabia que iria recusar. Os dois irão ficar muito felizes de você estar perto, nem irão notar o tamanho do seu apartamento, sabe que eles não são assim! Vamos, quero te levar em uma loja linda, onde iremos comprar suas coisas... Chamei o Key para nos ajudar!

- Eu dirijo, não quero lesmas passando por mim! Key?

- Eu acho que essa coisa de perseguição policial, não te fez bem! Deve ter mexido algo aí por dentro, só pode...

- Key. Nossa, Key, que confusão, o Key vai com a gente, vai ser legal!

- Posso te pedir para me chamar de Ky, não, que não goste, que você me chame de Jon, mas gosto mais de Ky, e você fica tão linda me chamando assim... Seu sotaque é tão legal!

- Está bem, Ky! Agora será confuso nos chamar com o mesmo nome!

- Quando você capotou o carro, o que passou na sua cabeça?

- Que merda, estou capotando o carro!

- Sério, só isso?

- Sim, depois eu desmaiei...

- Estaciona ali, a não, não cabe!

- Cabe, sim, quase dois...

- Como você consegue? Cara, você sempre foi boa em distância, e espaços... Seu cérebro parece uma calculadora!

- Sei lá, é automático. Nunca pensei em como posso! No Rio, meu segundo dia de trabalho, não conhecia nada. Tivemos uma perseguição e eu era a motorista da equipe que estávamos, entramos em alguns lugares, que achávamos que o carro iria trancar nas paredes das casas, mas, eles estavam subindo, eu iria subir também!

- E conseguiram pegá-los?

- Não. Eles desceram e fugiram a pé, e não quisemos arriscar... Tivemos que sair de ré, porque não tinha como fazer a volta. Tomamos uma suspenção de três dias.

- Olha, essa é a loja que eu te falei, eu conheço a gerente. Venha! O Key já está lá nos esperando...

Ele nos apresentou, garantindo que minhas coisas seriam entregues, e, montadas no mesmo dia. Escolhemos tudo, escolhemos, é quase a palavra certa, eles escolhiam e eu dizia, sim... Assim, meu apartamento foi mobiliado. Fomos na minha antiga moradia, pegar minhas poucas coisas e cancelar o contrato do aluguel, almoçamos, depois ficamos esperando as coisas chegarem. Passei na sede, que fica menos de dez minutos da minha nova casa, dá para ir a pé... Adorei. Estava tudo certo até o momento. Conversei com Jinwoo, depois voltei. Credo, fiquei tanto tempo fora, pareceu ser tão rápido. Já estava quase tudo montado e arrumado. SunHee, estava ajudando o Jon e seu amigo. Achei estranho chamar o Key pelo apelido, pois eu também sou chamada assim, pelos mais íntimos... Organização a casa... Ok! A presença dos dois, não me incomodavam, mas a dela, sim. Respirei fundo e sorri.

- Oi, Katy. Eu vim dar um apoio, estou muito feliz por ter aceitado o apartamento, agora o Jon não ficará mais sozinho aqui, e você sozinha lá... Seu pai me disse que você mostrou no departamento para que veio... Parabéns! Ele está muito orgulhoso de você!

Fiquei olhando-a sem responder, embora minha vontade fosse de mandá-la embora.

- Key! Venha cá, olha que eu comprei para nós, coloquei aqui, no quarto vazio.

- Uma barra de exercícios, pesos e uma sapatilha de ballet. Acha que eu ainda posso dançar? Sério! Dê-me uma pistola ou uma metralhadora com um alvo, que acho que será mais bonito!!! Eu te amo, mano!

Ele me pegou no colo, e me encheu de beijos.

- Eu te amo!

- Ainda não perdeu essa mania chata de me beijar.

- Não, sua chata.

Deitou no chão e me puxou, comecei a fazer cócegas nele. SunHee entrou, e falou, como ela sempre falava conosco, isso eu entendia, pois, ela dizia toda vez que brincávamos assim: - Olha, não vão se machucar, não esquece que ela é menina, é mais fraca que você, Jon!

Parecíamos crianças novamente... Levantamos e fomos nos despedir do Key, é, ele, não eu, que confusão! Tá, eu fiquei, e o amigo, foi... Isso, resumindo!

- Crianças, quem sabe vocês comem lá em casa, já está tarde, não terão tempo de fazer comida.

Jon me olhou, nos entendíamos assim, apenas com olhares.

- Está bem, eu dirijo!

Jantamos e logo voltamos para casa...

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