Capítulo 3

Hadiya 

Escuto meu celular tocar e é minha amiga doidinha, Lara, quem eu amo muito!

— O que devo a honra dessa ligação?

— Amiga, hoje tem uma inauguração de uma boate e quero que você vá comigo.

— Ótimo, preciso mesmo sair para me distrair um pouco.

— Como é seu novo patrão? 

— É o homem mais lindo que já vi na vida.

— Uau, você está falando assim de um homem, o achando lindo. 

— Falou minha amiga com deboche.

— Ah, por favor, eu acho outros bonitos também.

— Mas não falar com toda essa empolgação toda.

— Para de pensar bobagem, ele é um homem casado, ok.

— Sério? Ah! Droga minha amiga.

— É uma droga mesmo e ele tem até uma filha.

— Ah, amiga, mas não tem nada, vamos para essa boate e vai aparecer um super gato para você transar à vontade.

— Para de falar tanta bobagem, Lara.

— Está bom. As dez horas passo aí para te pegar. Está certo?

— Ok.

Descansei por um instante, não estava com fome, não entendo o que está acontecendo com meu coração. Aquele sujeito, parece que eu já o vi antes, mas tenho certeza de que nunca cruzamos caminho, com aqueles olhos verdes penetrantes. Homem extremamente atraente! Quando chega a hora, tomo um banho demorado, arrumo meus cabelos com cuidado e passo a prancha, prefiro meu cabelo liso e, embora seja naturalmente cacheado, dá um trabalhão. Coloco uma calça escura, uma blusa e uma jaqueta, afinal o clima em São Paulo está gelado.

Finalizo colocando uma bota, aplicando maquiagem e estava completamente pronta para aproveitar a noite. Com vinte e sete anos, ainda me considero jovial e preciso desfrutar ao máximo, pois não aproveitei tanto quando era mais nova, por isso faço isso agora. Lara começou a buzinar feito louca, que sai correndo, essa garota é maluca.

— Aí gata, pronta para curtir? 

— Com certeza. 

Ao chegarmos na boate, estacionamos e ficamos na fila.

— Amiga, a fila está enorme. Caraca, como isso vai lotar.

— Sim, já estou vendo muitos gatos. 

Entramos e quando olhei envolta quase tive um treco, era lindo por dentro com muitas luzes coloridas. Ah! Meu Deus aqui dentro está bombando, nunca estive em uma boate na minha vida e a verdade é que nem gosto de sair, só finjo gostar, pois minha amiga fica azucrinando meu juízo. 

Fomos para o bar, pedimos uns drinques e bebemos. Depois de alguns drinks que já não estava comendo, já me sentia meio alegrinha. Sabe quando se tem a sensação que está sendo observada, estou me sentindo assim desde que entrei aqui...

Droga, mas não estou vendo ninguém me olhando. Minha amiga estava na pista dançando, quando aparece um moreno e fala: 

— Oi gata, quer dançar?

— Eu estou com cara de quem quer dançar? Se estou aqui no bar é porque não quero dançar. Me desculpe.

Homens que não aguentam ver uma mulher sozinha e já querem dar em cima, comigo não tem essa.

— Mas puxa, uma mulher linda como você e quer ficar sozinha? 

— Fuzilei o cara com meu olhar e ele se vai.

— Vai se catar, que saco quero ficar sozinha.

De repente surge uma voz falando nos alto-falantes.

— Agora, queremos apresentar o dono da boate. O homem que fez tudo isso para vocês. — Olho em direção ao palco e acabo sendo surpreendida.

Nossa, não acredito, ele também é dono disso. Quanto dinheiro esse cara tem? Pelo amor de tudo que é mais sagrado!

Seus olhos encontraram os meus e nesse momento compreendi de onde vinha aquela sensação de estar sendo vigiada. Fixei meu olhar nele e em todos os aspectos do seu corpo deslumbrante. Meu Deus, que físico impressionante! Vestia calças jeans e uma camisa polo que realçava seus músculos incríveis. Que homem tentador! Mas lembrei a mim mesma, Hadiya, ele é proibido para você.

Seu olhar intenso parecia transmitir a vontade de me consumir.

Que expressão surpreendente!

Oh! meu Deus, ele está maravilhoso, acho que estou quase tendo um ataque cardíaco.

Quando minha amiga se aproximou de mim, percebi que nossos olhares se encontraram e me distraí completamente.

Caramba, é como se ele estivesse me despir com seu olhar sedutor.

— Amiga, está me ouvindo?

— O quê? 

— Estou aqui há séculos falando com você e não me ouve.

— Ah! Desculpe.

— Sei, estava de olho no gato. Que homem é esse? Gente nunca vi homem tão lindo! Quem é ele?

— Meu patrão.

— A merda, Hadiya, você está fodida. — Falou Lara.

— Ah, novidade. — Digo e ela logo se afasta, voltando para a pista de dança outra vez e me deixando sozinha.

Ele interrompe a conversa e se aproxima de mim, meu coração acelera como se fosse pular para fora a qualquer instante, porém me recordo de que ele tem uma esposa maravilhosa e não me encara como se fosse me seduzir, essa sensação é apenas fruto da minha imaginação pervertida.

— Oi! Você está linda. — Ele fala.

— Obrigada, Senhor. 

— Não precisa me chamar de senhor.

— Está bom. — Pego minha bebida e a viro de uma vez só, pois, esse homem está me deixando louca. Que merda! 

O que está acontecendo comigo? Droga, desde o primeiro instante que o vi, meu coração bateu estranho, isso deve ser um pesadelo.

— Você tem que parar de beber tanto assim.

Eu estava quase embriagada, não tenho o hábito de consumir bebidas alcoólicas, por isso, se eu exagerar, não terei memória de amanhã ao acordar.

Tudo ao meu redor ficará em branco. Sinto a urgência de ir ao banheiro e por pouco não caio, se não fosse pela mão que me tocou e me deixou tremendo.

O inferno se controla, Hadiya. Falo com minha mente que não quer me obedecer diante desse homem, que merda.

— Olha, por favor, pode deixar que vou sozinha. — Droga por que estou sendo grossa com ele? 

Estou completamente perdida. Fui ao banheiro com extrema dificuldade, pois acabei exagerando na bebida. Sério, será que é esse homem que está mexendo com a minha cabeça e me deixando completamente atraída por ele? Meu Deus, o que fazer nessa situação?

Quando estou entrando, vejo o mesmo idiota que me convidou para dançar.

— Está indo aonde, coisa mais linda? Era só o que me faltava.

— Escuta, eu realmente preciso usar o banheiro, senão vou acabar fazendo xixi nas calças. — Ele me impede e encaro o rosto do idiota.

— Se não me soltar, vai se arrepender. — A pessoa ri, recebendo um soco no rosto em seguida. — Solte ou vou te arrebentar completamente, entendeu? Mesmo embriagada, não se importava com o porte físico do indivíduo.

— Você é uma mulher louca, batendo em um homem do meu tamanho. Posso te pegar e te dar uma porrada, amo dar uma porrada em uma mulata, principalmente se for uma porrada de pica.

— Tenta, idiota. — Sou louca mesmo, o cara é gigante, mas ninguém mais vai me desrespeitar assim. — Vou ao banheiro e você, patético, some daqui. — ele vai embora e diz que sou maluca. — Vai se catar, idiota. É para isso que eu aprendi autodefesa, para me proteger de homens chatos e adivinha quem estava atrás de mim, o outro imbecil que decidiu me perseguir.

— Qual o motivo da sua presença aqui? Por favor, me deixe em paz. — Eu costumava ter um problema, que era falar sem filtros quando bebia, algo que não acontece quando estou sóbria.

— Apenas desejava saber se estava tudo bem.

— Estou muito bem, obrigada. — Respondo antes de entrar no maldito banheiro e fechar a porta.

Que situação complicada, esse homem comprometido não me deixa em paz. Finalizei minhas tarefas, limpei minhas mãos antes de sair e adivinha quem estava lá fora me aguardando? Isso mesmo, o próprio pecado querendo perturbar minha consciência.

— Que saco, você é meu patrão e mais nada.

— Você parece ter bebido um pouco demais. É melhor você voltar para casa. — Afirma ele.

— Recomendo que você se preocupe com seus próprios assuntos, com sua esposa, e me deixe em paz. Vou voltar para o bar com ele seguindo atrás de mim. "Por gentileza, mais uma bebida", solicito, porém ele teve a coragem de interromper meu pedido.

— De forma alguma. Você não irá ingerir mais nada.

— Ah! Me deixa. Você não manda em mim, sabia? Por favor me dê a minha bebida, moço. — eu estava mesmo muito bêbada, procurei por Lara, mas ela havia sumido. Como vou para casa agora? Vou ter que ir sozinha mesmo, a louca deve estar se agarrando com alguém por aí e estou vendo tudo rodar. Preciso mesmo ir para minha casa urgente.

— Eu irei te acompanhar. Qual é o endereço da sua residência?

— Não possuo uma casa, a casa pertencia à minha mãe Maitê, se alguém aparecer me expulsará dela sem cerimônia. Acabo ficando nas ruas, mas não me importo, sinto-me amaldiçoada. Todos que amo partem, nunca possuo nada, até mesmo meu amigo me abandonou. O Kevin, ele era o único, além de minha mãe Maitê, que se importava comigo, mas seus pais o afastaram de mim há muitos anos. Ele apenas me deixou uma carta que nunca tive coragem de abrir, mesmo depois de aprender a ler. Não queria que fosse a única lembrança que eu teria dele. E agora, que ironia, ele tinha apenas catorze anos e teve que estudar longe, esperei tanto tempo, mas ele nunca voltou. — Suspiro. — Desculpe, estou me sentindo enjoada e preciso sair daqui. — Passo rapidamente pela multidão, na esperança de que o homem que me causa desconforto tenha desaparecido do meu campo de visão.

O que está acontecendo comigo? Desde o início, quando o vi pela primeira vez, algo mexeu dentro do meu peito, mas não consigo identificar o que é.

Vou chamar um carro, espera, será que já paguei pelas bebidas? E se eu não tiver acertado o cara bonitão, que é casado com uma mulher maravilhosa, afinal, esse lugar é todo dele.

Que coisa horrível!

Estou refletindo sobre um homem rico, que é casado e que nunca consideraria uma pessoa de poucos recursos, que sequer possui residência própria.

Estou completamente enlouquecida, extremamente animada por causa da bebida, refletindo sobre esse homem maravilhoso que me faz ficar excitada sempre que me encara com seus olhos verdes.

Inicio a gargalhar sem companhia, parecendo completamente desequilibrada, perdi o controle, as pessoas me encaram enquanto rio solitariamente.

E qual seria minha atitude? Deixo de lado, a questão é dele!!

Existem diversas pessoas neste mundo que já zombaram de mim, quando me diziam algo desagradável, que já me habituei. Compreendo que não é correto normalizar coisas negativas, porém já vivi tantas situações assim em minha vida.

Estou quase perdendo o equilíbrio por conta da embriaguez, porém não faço ideia de como chamar um táxi, acho que vou acabar dormindo aqui mesmo, neste passeio, estou com dificuldade para caminhar e toda vez que tento dar um passo parece que vou cair, e olha que não bebi tanto assim, de repente vejo a meu pecado surgir.

— Aonde você acha que está indo? — Indaga. Se ele tivesse ideia de que estou considerando passar a noite neste lugar.

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