Capítulo 05

ENZZO

COM AS MÃOS FIRMES NO VOLANTE, tudo que vinha em minha mente era em que lugar deixar essa desconhecida. Com esse contratempo, acabei por deixar de lado aquilo que sempre deve ser a minha prioridade, a razão por me manter forte e seguir em frente todos esses anos.

Eu, Enzzo Demisovski, devo isso aos meus pais, que foram mortos covardemente por aquele a quem sempre viram como um aliado. Omar Petrovci é como um câncer maligno, que aos poucos vai corroendo por dentro tudo que está a sua volta.

Passei anos acordando no meio da noite e por ser tão pequeno, não conseguia explicar ao meu tio o motivo que sempre vinha me atormentando naqueles malditos pesadelos. Com o passar do tempo, era sempre o mesmo rosto e aqueles olhos onde tinha uma sombra diabólica, que sempre surgiam em minhas lembranças. Quando olhei a foto daquele desgraçado pela primeira vez, eu sabia que era ele, pois a sensação que eu tinha, era que já tinha visto aqueles olhos muito além dos meus pesadelos.

Dias, meses e anos se passaram e o meu único propósito era aprender tudo o que Hulk tinha para me ensinar. Superando os meus medos e testando todos os meus limites. Ele, assim como Yolanda, sempre dizia que eu era um guerreiro por ter sobrevivido aquele assassinato coletivo, porém para mim, o único motivo de ter saído ileso foi por uma única razão: FAZER JUSTIÇA.

Nada e nem ninguém vai ficar entre mim e o meu maior objetivo, destruir Omar Petrovci e toda a sua descendência. Eu irei até o inferno quantas vezes forem necessárias, mas não irei descansar até exterminar aquele traidor maldito.

Direciono meus pensamentos novamente para a mulher, que se encontra desfalecida no banco de trás do carro. Agora vários pensamentos inundam minha cabeça. Não posso deixá-la em qualquer lugar, pois se fosse para morrer, a teria deixado naquele carro, porém se a levar para o hospital, posso perder muito tempo justificando o fato de tê-la encontrado e ainda correr o risco dessa notícia ganhar uma proporção maior e como consequência, ter o meu rosto estampado em alguma manchete de jornal, o que não esta nos meus planos.

Parecia que minha mente estava ligada o tempo todo, girando e girando como uma máquina de lavar e quando os pensamentos pararam, tomei uma decisão consciente, para que nem um obstáculo viesse a interfere nos meus planos.

Alguns instantes depois...

Assim que parei o carro em frente à cabana, saí do veículo e caminhei até o banco de trás. Abri a porta e meu olhar ficou cravado na imagem a minha frente. Seu rosto estava coberto pelos cabelos negros como a noite, que caíam soltos sobre os ombros. Peguei a sua mochila e coloquei nas minhas costas, em seguida, meus braços envolveram o seu corpo frágil, aconchegando-a em meus braços. O cheiro dos seus cabelos invadiu minhas narinas e me deixou completamente extasiado, era inebriante e viciante. Um aroma que era uma mistura de frutas e flores.

Sinto o vento gelado no meu rosto, me tirando do estado de entorpecimento que me encontrava. Meus passos apressados queriam me levar o mais rápido possível para dentro de casa. Instantes depois, assim que adentrei o ambiente, andei em direção ao quarto, colocando-a em seguida sobre a cama. Afastei-me um pouco, me livrando da pequena bolsa, assim que me aproximei novamente dela, sentei-me no canto da cama e levei uma de minhas mãos ao encontro do seu rosto, retirando algumas mechas de cabelos de sua fase.

Imediatamente senti uma corrente de eletricidade percorrendo meu corpo. Um arder em minha pele, como se estivesse me queimando aos poucos. Minha respiração ficou acelerada, meu coração batia tão descompassado, ela era tão linda, que fez com que eu a olhasse quase paralisado. O seu rosto parecia ter sido entalhado em mármore raro, lábios carnudos e a sua pele era branca como a neve, fazendo o contraste perfeito com seu cabelo negro como o ébano.

Meus dedos tocaram a sua pele lisa como um veludo e quando fui afastar outra mecha de seu cabelo, que caía em sua testa, percebi um corte superficial em sua pele de porcelana pálida. Como que por instinto, me levantei e comecei a andar na direção do banheiro. Já dentro do cômodo, procurei entre as prateleiras o pequeno estojo, quando enfim o encontrei, peguei a maleta de primeiros socorros e novamente voltei para junto dela. Nos momentos seguintes, comecei a limpar cada centímetros do ferimento e depois de retirar todo o sangue seco do local, fiz um pequeno curativo.

Sua respiração estava regular, e o peito subia e descia docemente. Pelo impacto e gravidade do acidente, foi muita sorte ela ter sobrevivido e mais ainda, ter somente um pequeno ferimento, no entanto só saberei se não teve consequências piores ou alguma sequela, assim que ela acordar. Pela sua idade, certamente era filha do homem que acabou tendo um fim trágico naquele acidente.

Caminhei novamente em direção ao banheiro, pois precisava urgentemente tomar um banho. Passei um bom tempo debaixo da ducha fria, perdido em meus pensamentos, no entanto o rosto da mulher que estava deitada a alguns metros de distância, não saia um só minuto dos meus pensamentos.

"O que está acontecendo comigo?"

HELENA

Um estrondo, a dor e a escuridão. São as últimas lembranças que dominam a minha mente. Minha cabeça está tão pesada e a sinto tão grande que não posso movê-la. Minhas têmporas latejam e as pálpebras estão coladas.

Sinto uma dor, uma dor muito forte e aguda em algum lugar e um calor insuportável, como se meu corpo estivesse queimando. Meus olhos permanecem fechados, mas dava para sentir a forte luz que vinha do ambiente onde eu estava. Comecei a respirar profundamente para me acalmar e, em seguida, forcei a mente tentando buscar as informações armazenadas, para assim poder entender o motivo que provocou toda esta dor no meu corpo, esta angústia e escuridão. As primeiras lembranças que vieram na minha memória foram as do som da voz de Thadeu e logo após o carro girando e girando. Minha cabeça começou a doer novamente e minha garganta se trancou de imediato assim que me lembrei da dor terrível que atravessou a minha cabeça e tudo se dissolver no escuro sem fim.

"Eu morri?"

Diante daquele pensamento, meus olhos se abriram, mas o arrependimento veio logo depois. Uma forte claridade arregaça minha retina e só piorava a dor em minha cabeça. Voltei a fecha-los de imediato.

Instante depois, abri novamente meus olhos, tentando me adaptar àquela luz, e quando tentei me mexer, a sensação era como se meu corpo estivesse em chamas e nada, nem um músculo se mexeu. O pânico me atingiu, meu corpo começou a tremer em cima da cama, sentia que ele estava cada vez mais pesado, como se fosse afundar.

Antes de tudo se transformar em uma escuridão total, meus olhos foram de encontro à imagem que surgiu no meu campo de visão. Ele era lindo, cabelos negros, que estavam molhados e escorriam em sua testa. Seu rosto era perfeito, com uma boca bem desenhada e com enormes olhos azuis acinzentados. Sua beleza não parecia ser deste mundo. Ele parecia um anjo. Um anjo vestido de preto.

No dia seguinte – Mansão Petrovci...

Meu coração estava agitado em meu peito, a saudade tomou conta de mim e por mais difícil que a distância se apresentasse, o amor sempre seria maior. Eu sei que fiz a escolha certa e não importa o que aquele demônio faça comigo, pois agora, ela estará em segurança. Espero que Thadeu não demore a entrar em contato me dando a confirmação de que ela chegou ao destino programado. Meus pensamentos foram interrompidos quando a voz do infeliz se fez presente, me deixando atordoada ao ouvir suas palavras.

— Achei que aquela imprestável já estivesse acordada. Mande chamá-la agora mesmo, pois teremos uma longa conversa antes dela conhecer o seu futuro marido.

OMAR PETROVCI

A noite foi regada a muita bebida e sexo. Quando retornei para casa, tive um descanso revigorante que me deixou recuperado de todo cansaço da noite anterior. Assim que acordei, andei em direção ao banheiro e de banho já tomado e arrumado, precisava falar com a infeliz para que tudo saísse do jeito como planejei ou caso contrário, hoje eu não só deixaria o seu corpo marcado, como faria um bom estrago naquele rosto que se tornou o meu maior tormento.

Com passos decididos, segui em direção ao primeiro andar, não me agradava ter que começar o meu dia olhando para o rosto da m*****a, mas era necessário para que o jantar de hoje a noite fosse perfeito e como consequência, ter o apoio total de Gustavo Albrantes. Quando adentrei o ambiente, a tola da Isabella parecia perdida em seus pensamentos e assim que ouviu a minha voz, ficou imóvel por alguns instantes e logo após sua voz irritante se fez presente.

— Ela não está se sentindo muito bem. Diga o que deseja que quando estiver melhor, direi tudo a ela.

Se tratando da inútil que ela tem por filha, seria bem provável que estivesse indisposta, porém pouco me importa o que ela esteja sentindo, hoje vai tratar de colocar um belo sorriso em seu rosto e agradar o futuro marido.

— Darei 10 minutos para que ela esteja em minha frente ou caso contrário eu a farei descer escada abaixo.

Meus olhos avaliam a mulher a minha frente, no mesmo instante que um calafrio atravessou a minha espinha. Isabella segurava as mãos como se estivesse tentando controlar o seu nervosismo, o que me deixou em total alerta. Virei-me em direção as escadas e quando me movi, novamente ouvi a voz dela.

— Aonde você vai?

— Eu mesmo irei buscá-la.

Com passos largos caminhei em direção as escadas. Subi os degraus praticamente correndo e, em seguida, atravessando o corredor na velocidade de uma bala, indo em direção ao alvo. Meus batimentos estavam alterados e quando cheguei a alguns metros de distância da porta do seu quarto, uma forte claridade surgiu em minha frente e como flashes, a imagem daquele infeliz apareceu diante de mim e ao contrário da última vez que vi o desgraçado do Vitor Demisovski, ele tinha um largo sorriso em sua face. Fechei os meus olhos e quando voltei a abrir novamente a única coisa que tinha no meu campo de visão eram as paredes e a m*****a porta.

De supetão a abri, depois que dei algumas passadas e meus olhos passearam por todo ambiente, fui até o banheiro e assim que entrei no maldito cômodo, uma fúria descomunal me atingiu e naquele momento só um pensamento se apossou de minha cabeça.

"Eu vou matar essas duas infelizes”.

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