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Capítulo 2 - Sophia

Eu vinha fugindo a tanto tempo que nem ao menos me lembrava como era ter um lugar para ficar em paz. Fiquei tão feliz quando finalmente consegui aquele emprego na lanchonete e não hesitei em guardar cada centavo para que pudesse ter o dinheiro suficiente para alugar um lugar só meu.

Mas ali estava eu sendo perseguida por ele mais uma vez. Não sei como ele me encontrou tão rápido dessa vez, eu não sabia mais o que fazer, para onde fugir, onde me esconder dele.

Por isso quando aquele estranho, que tinha acabado de salvar minha vida, me estendeu a mão me garantindo que ninguém iria me incomodar mais eu aceitei.

Poderiam até me chamar de maluca, por confiar em um homem que eu não conhecia, mas para falar a verdade as pessoas que eu conheci a minha vida inteira foram responsáveis por eu estar onde estou hoje.

Encarei o homem ao meu lado, a roupa impecável, a postura perfeitamente ereta, ele era rico e eu nem precisava olhar para o carro chique ou o relógio de marca em seu pulso.

— Porque você me ajudou? Porque correu atrás de mim e me puxou de lá? Poderia ter me deixado cair e tudo estaria resolvido.

Ele apertou o maxilar com ainda mais força quando ouviu minhas últimas palavras, fazendo os músculos se destacarem.

— Você poderia ter soltado e caído antes que eu a alcançasse. — ele disse se virando para mim. — Isso é porque você não queria se matar, ninguém que queira morrer seguraria a borda com tanta força pra aguentar o próprio peso.

— Eu...

— E sobre te ajudar, eu vi você ontem a noite dormindo no banco na praça e por mais que quisesse te ajudar ontem, algo me fez te seguir durante o dia acompanhando sua rotina, então quando eu a vi prestes a pular eu precisei intervir. — ele confessou como se não fosse nada de mais me perseguir.

— Acho que eu vou descer agora. — murmurei me virando para a porta com medo do que ele podia fazer comigo, afinal quem segue uma pessoa pelo dia inteiro sem motivos?

— Não precisa ter medo, não vou te fazer nenhum mal...

— E você quer que eu acredite na palavra de uma pessoa que acabei de conhecer? — questionei o óbvio enquanto eu continuava tentando abrir a porta do carro.

— Você tem razão em não confiar em um desconhecido, mas novamente, eu poderia ter deixado você cair daquele telhado...

— O que só prova que tem alguma segunda intenção por trás da sua ajuda! — gritei o interrompendo e baixando a janela pronta para pular se preciso. — Me deixe sair, me deixe sair agora! Você me viu na rua ontem, sozinha e me seguiu procurando a oportunidade perfeita de se aproximar e conseguiu...

— Eu estou morrendo! — ele exclamou interrompendo minhas palavras e me deixando em choque. — Foi por isso que eu estava andando na praça aquela hora da noite, quando vi você ali c

om tão pouco mexeu comigo. Claro que eu poderia te dar algum dinheiro e seguir com a minha vida pelo próximo ano que me resta, mas acho que posso fazer mais por você, na verdade podemos fazer mais um pelo outro.

Engoli em seco voltando a me sentar direito no banco e encarando o homem novamente. Ele não parecia estar doente, nem era alguém de idade, talvez em torno dos quarenta, mas não parecia nenhum pouco como uma pessoa com uma sentença de morte.

— Nos ajudar? Como isso, como eu poderia ajudar um homem que tem tudo?

— Eu não tenho tudo, mais dinheiro do que posso gastar, muitas propriedades ao redor do mundo, empresas bem sucedidas, sim tenho tudo isso. Mas não tenho o mais importante: tempo! — ele disse com sinceridade e não de uma forma que tenta se exaltar, estava apenas citando os fatos.

Eu poderia desconfiar que a história fosse verdade e com toda certeza ficaria de olho nisso se aceitasse o que ele tinha a oferecer, mas a tristeza refletida no rosto dele, os ombros caindo em derrota ao falar que não tinha tempo, parecia estar sendo verdadeiro.

— E como eu posso lhe dar tempo? — perguntei ainda não entendendo onde ele queria chegar com aquilo.

Meus olhos foram atraídos para fora enquanto deixavamos a parte pobre da cidade e entravamos onde as grandes propriedades, as lojas de grife e a maior parte do dinheiro do país estavam instalados.

— Não pode me dar tempo, mas pode me dar uma forma de manter meu legado. — minhas sobrancelhas se cruzando em confusão devem ter me entregado, pois ele continuou a falar. — Meu avô lutou para tirar minha família da pobreza e meu pai depois dele continuou com o trabalho, passando para mim e nosso trabalho duro foi recompensado, fizemos noss nome no mercado e agora tudo está prestes a acabar comigo daqui a um ano.

— Você está querendo dizer que quer...

— Um filho! Um herdeiro para toda a fortuna e para levar o nome da minha família em frente... — Ergui minha mão acertando em cheio a cara dele.

— Eu sabia! Sabia que você queria algo com sexo! — gritei voltando a puxar a trava da porta tentando abrir. — Vocês homens são todos iguais, o que vocês pensam é pegar tudo o que desejam sem se importar com nada! Achou que seria fácil pegando a pobre, solitário e burra, me achou bonita e já pensou em me levar para sua cama.

— Por Deus garota, cale a boca por um segundo! — ele bradou me falando no mesmo instante. — Você é linda, mas em nenhum segundo eu disse que queria levá-la para a cama, nem pensei nisso pra dizer a verdade!

— Mas você...

— Um filho, é o que eu quero e para isso não preciso nem mesmo encostar em você, todo o procedimento pode ser feito por fertilização. Eu vou querer sim acompanhar a gravidez de perto e por isso você teria que morar comigo, mas eu jamais a tocaria. Em troca a senhorita vai ter tudo o que me pertence, vai levar meu sobrenome.

Olhei em volta vendo o carro entrar em uma propriedade enorme, passando pelos portões dourados, o lugar era tão grande que eu me perdi olhando o jardim e o gramado perfeito a perder de vista, a casa que se erguia ao fundo era uma construção imponente de uma  mansão antiga, parecendo ter sido tirada de um filme de época.

O carro parou bem em frente a porta principal e um segurança desceu as escadas da entrada abrindo a porta do carro e esperando que o homem ao meu lado saísse.

— Mas você pode ter qualquer pessoa, pode contratar uma barriga de aluguel e pronto.

— Não quero uma barriga de aluguel, quero que meu filho tenha uma mãe, uma pessoa que vá cuidar dele, estar presente. — ele desceu do carro, mas permaneceu na porta. — E por toda a sua gritaria e recusa, apesar de saber que eu tenho dinheiro, eu sei que vai ser uma pessoa que vai cuidar muito bem do dinheiro até que meu filho possa assumir tudo.

— Homens nunca foram confiáveis, na verdade nenhuma pessoa na minha vida foi, então me perdoe se eu não acredito nas suas palavras.

E ele salvou a minha vida, mesmo sem me conhecer, mas na minha vida nada vem sem um preço.

— A escolha é sua. — ele estendeu a mão para dentro do carro como um convite. — Você pode ficar e ter uma boa vida, fazer um homem feliz em seus últimos dias e continuado legado da minha família, ou pode ir.

Eu poderia me arrepender profundamente depois, poderia apenas estar sendo enganada e atraída para uma armadilha. Porém pela segunda vez naquele dia eu aceitei a mão dele e deixei que me tirasse do carro.

— A propósito me chamo Sophia. — murmurei enquanto sabíamos os degraus para dentro da casa.

— William, me chamo William. — ele respondeu abrindo um sorriso largo que de forma surpreendente me passou confiança.

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