Eu vinha fugindo a tanto tempo que nem ao menos me lembrava como era ter um lugar para ficar em paz. Fiquei tão feliz quando finalmente consegui aquele emprego na lanchonete e não hesitei em guardar cada centavo para que pudesse ter o dinheiro suficiente para alugar um lugar só meu.
Mas ali estava eu sendo perseguida por ele mais uma vez. Não sei como ele me encontrou tão rápido dessa vez, eu não sabia mais o que fazer, para onde fugir, onde me esconder dele.
Por isso quando aquele estranho, que tinha acabado de salvar minha vida, me estendeu a mão me garantindo que ninguém iria me incomodar mais eu aceitei.
Poderiam até me chamar de maluca, por confiar em um homem que eu não conhecia, mas para falar a verdade as pessoas que eu conheci a minha vida inteira foram responsáveis por eu estar onde estou hoje.
Encarei o homem ao meu lado, a roupa impecável, a postura perfeitamente ereta, ele era rico e eu nem precisava olhar para o carro chique ou o relógio de marca em seu pulso.
— Porque você me ajudou? Porque correu atrás de mim e me puxou de lá? Poderia ter me deixado cair e tudo estaria resolvido.
Ele apertou o maxilar com ainda mais força quando ouviu minhas últimas palavras, fazendo os músculos se destacarem.
— Você poderia ter soltado e caído antes que eu a alcançasse. — ele disse se virando para mim. — Isso é porque você não queria se matar, ninguém que queira morrer seguraria a borda com tanta força pra aguentar o próprio peso.
— Eu...
— E sobre te ajudar, eu vi você ontem a noite dormindo no banco na praça e por mais que quisesse te ajudar ontem, algo me fez te seguir durante o dia acompanhando sua rotina, então quando eu a vi prestes a pular eu precisei intervir. — ele confessou como se não fosse nada de mais me perseguir.
— Acho que eu vou descer agora. — murmurei me virando para a porta com medo do que ele podia fazer comigo, afinal quem segue uma pessoa pelo dia inteiro sem motivos?
— Não precisa ter medo, não vou te fazer nenhum mal...
— E você quer que eu acredite na palavra de uma pessoa que acabei de conhecer? — questionei o óbvio enquanto eu continuava tentando abrir a porta do carro.
— Você tem razão em não confiar em um desconhecido, mas novamente, eu poderia ter deixado você cair daquele telhado...
— O que só prova que tem alguma segunda intenção por trás da sua ajuda! — gritei o interrompendo e baixando a janela pronta para pular se preciso. — Me deixe sair, me deixe sair agora! Você me viu na rua ontem, sozinha e me seguiu procurando a oportunidade perfeita de se aproximar e conseguiu...
— Eu estou morrendo! — ele exclamou interrompendo minhas palavras e me deixando em choque. — Foi por isso que eu estava andando na praça aquela hora da noite, quando vi você ali c
om tão pouco mexeu comigo. Claro que eu poderia te dar algum dinheiro e seguir com a minha vida pelo próximo ano que me resta, mas acho que posso fazer mais por você, na verdade podemos fazer mais um pelo outro.
Engoli em seco voltando a me sentar direito no banco e encarando o homem novamente. Ele não parecia estar doente, nem era alguém de idade, talvez em torno dos quarenta, mas não parecia nenhum pouco como uma pessoa com uma sentença de morte.
— Nos ajudar? Como isso, como eu poderia ajudar um homem que tem tudo?
— Eu não tenho tudo, mais dinheiro do que posso gastar, muitas propriedades ao redor do mundo, empresas bem sucedidas, sim tenho tudo isso. Mas não tenho o mais importante: tempo! — ele disse com sinceridade e não de uma forma que tenta se exaltar, estava apenas citando os fatos.
Eu poderia desconfiar que a história fosse verdade e com toda certeza ficaria de olho nisso se aceitasse o que ele tinha a oferecer, mas a tristeza refletida no rosto dele, os ombros caindo em derrota ao falar que não tinha tempo, parecia estar sendo verdadeiro.
— E como eu posso lhe dar tempo? — perguntei ainda não entendendo onde ele queria chegar com aquilo.
Meus olhos foram atraídos para fora enquanto deixavamos a parte pobre da cidade e entravamos onde as grandes propriedades, as lojas de grife e a maior parte do dinheiro do país estavam instalados.
— Não pode me dar tempo, mas pode me dar uma forma de manter meu legado. — minhas sobrancelhas se cruzando em confusão devem ter me entregado, pois ele continuou a falar. — Meu avô lutou para tirar minha família da pobreza e meu pai depois dele continuou com o trabalho, passando para mim e nosso trabalho duro foi recompensado, fizemos noss nome no mercado e agora tudo está prestes a acabar comigo daqui a um ano.
— Você está querendo dizer que quer...
— Um filho! Um herdeiro para toda a fortuna e para levar o nome da minha família em frente... — Ergui minha mão acertando em cheio a cara dele.
— Eu sabia! Sabia que você queria algo com sexo! — gritei voltando a puxar a trava da porta tentando abrir. — Vocês homens são todos iguais, o que vocês pensam é pegar tudo o que desejam sem se importar com nada! Achou que seria fácil pegando a pobre, solitário e burra, me achou bonita e já pensou em me levar para sua cama.
— Por Deus garota, cale a boca por um segundo! — ele bradou me falando no mesmo instante. — Você é linda, mas em nenhum segundo eu disse que queria levá-la para a cama, nem pensei nisso pra dizer a verdade!
— Mas você...
— Um filho, é o que eu quero e para isso não preciso nem mesmo encostar em você, todo o procedimento pode ser feito por fertilização. Eu vou querer sim acompanhar a gravidez de perto e por isso você teria que morar comigo, mas eu jamais a tocaria. Em troca a senhorita vai ter tudo o que me pertence, vai levar meu sobrenome.
Olhei em volta vendo o carro entrar em uma propriedade enorme, passando pelos portões dourados, o lugar era tão grande que eu me perdi olhando o jardim e o gramado perfeito a perder de vista, a casa que se erguia ao fundo era uma construção imponente de uma mansão antiga, parecendo ter sido tirada de um filme de época.
O carro parou bem em frente a porta principal e um segurança desceu as escadas da entrada abrindo a porta do carro e esperando que o homem ao meu lado saísse.
— Mas você pode ter qualquer pessoa, pode contratar uma barriga de aluguel e pronto.
— Não quero uma barriga de aluguel, quero que meu filho tenha uma mãe, uma pessoa que vá cuidar dele, estar presente. — ele desceu do carro, mas permaneceu na porta. — E por toda a sua gritaria e recusa, apesar de saber que eu tenho dinheiro, eu sei que vai ser uma pessoa que vai cuidar muito bem do dinheiro até que meu filho possa assumir tudo.
— Homens nunca foram confiáveis, na verdade nenhuma pessoa na minha vida foi, então me perdoe se eu não acredito nas suas palavras.
E ele salvou a minha vida, mesmo sem me conhecer, mas na minha vida nada vem sem um preço.
— A escolha é sua. — ele estendeu a mão para dentro do carro como um convite. — Você pode ficar e ter uma boa vida, fazer um homem feliz em seus últimos dias e continuado legado da minha família, ou pode ir.
Eu poderia me arrepender profundamente depois, poderia apenas estar sendo enganada e atraída para uma armadilha. Porém pela segunda vez naquele dia eu aceitei a mão dele e deixei que me tirasse do carro.
— A propósito me chamo Sophia. — murmurei enquanto sabíamos os degraus para dentro da casa.
— William, me chamo William. — ele respondeu abrindo um sorriso largo que de forma surpreendente me passou confiança.
Eu nem acreditava que tinha feito mesmo aquilo, peguei uma completa estranha na rua e a trouxe para dentro de casa.Eu soube pelo olhar de Brian, meu motorista e segurança, que ele achava que eu estava enlouquecendo. Não posso culpa-lo, eu nunca fiz nada desse tipo, nunca ousei na vida ou fiz algo que fugisse do padrão esperado para um magnata do petróleo.Ao menos eu podia culpar a doença, podia dizer que estava mexido com as notícias e isso me fez tomar uma decisão maluca.Porém a verdade é que eu não sabia o que tinha visto nela, mas algo mexeu comigo e me impulsionou a querer cuidar dela, me fez desejar poder dar a ela uma vida diferente.Por isso quando a vi naquele terraço prestes a pular, não pensei duas vezes de correr para salvá-la.A ideia de ter um filho foi algo um tanto aleatório, confesso que disse mais como uma desculpa para que ela viesse comigo, mas agora observando Sophia encantada com cada canto da casa que eu mostrava, a ideia começava a se assentar na minha cabe
Era estranho estar dentro daquela casa enorme, com aquele homem imponente com aqueles olhos intensos cor de mel sobre mim, enquanto continuava a falar sobre a oferta mais insana que alguém poderia fazer.— Está me dizendo que não fará nada comigo que eu não queira? — perguntei, precisando ter certeza de que ele não teria outras intenções ali.— Eu jamais tocaria em você sem o seu consentimento. — ele respondeu com a voz tão baixa quanto a minha. — Tudo o que quero é que sejamos amigos e que você carregue o futuro dos Donavan. É isso o que também quer?Não tinha ideia de como responder aquilo, mas meus olhos desceram pelo rosto impecável, contornando a barba fina que envolvia seus lábios carnudos e que parecia sempre ostentar um leve sorriso.William era a mistura de poder, dinheiro e beleza, homens assim eram perigosos. Mas eu não sabia o porquê ele me passava uma confiança, talvez fosse por ter me impedido de cair do prédio, ou apenas por ter me tirado rapidamente da rua. O fato é qu
Por um instante eu a tive perto demais de mim, tão perto que eu consegui ver os pontinhos verdes espalhados nas íris azuis. Estávamos tão próximos um do outro que eu podia tê-la beijado, aquela ideia passou por minha cabeça e eu tratei de esquecer. Sophia tinha concordado com o bebê e eu deveria me manter como seu amigo, eu tinha que segui-lo por mais difícil que fosse, especialmente depois de vê-la usando aquele vestido que a fez parecer ainda mais doce.— Ela é proibida pra você, William. Se controle!— Quem é proibida para você? — A voz de Megan me trouxe de volta para o presente. — É tão bom te ver depois de tanto tempo, Will.— É bom te ver também, Megan. — me aproximei a cumprimentando com um beijo no rosto.— Confesso que fiquei surpresa com a sua chamada, especialmente com Amber fora do país. — Megan disse deslizando as unhas por minha camisa, de uma forma irritante. — Nós só nos encontramos quando é com ela.— Bem, hoje é uma ocasião diferente. — falei me afastando para fugir
William não aceitou meus protestos em ganhar aquelas roupas novas, ele já estava fazendo muito por mim e eu não queria abusar, mas minha negação foi engolida pela conversa dele durante o café da manhã e então ele desapareceu no escritório, me deixando sozinha com aquela mulher.— Bem, eu estava esperando algo diferente de você. — Megan falou dando uma olhada em uma das três araras expostas no quarto. — Mas acho que posso encontrar algo aqui.Eu nunca tive contato com alguém desse nível antes, para ser realista William foi o primeiro rico com quem tive contato, mas eu sabia bem quando alguém não simpatizava comigo e podia dizer com toda a certeza que isso tinha acontecido com Megan.O olhar que ela havia me lançado desde que entrou na sala de jantar ainda queimava em minha mente, seus olhos desceram por meu corpo com desprezo e qualquer pensamento feliz que William me fez ter sobre aquele vestido tinha ido embora.— Todas essas roupas são lindas. — murmurei passando minhas mãos nos ves
Fui arrastado para o escritório a contragosto, o trabalho me forçou a deixar as duas mulheres a sós quando, na verdade, os meus planos eram ver como Sophia se saia escolhendo as roupas, eu queria entender mais do gosto dela, poder conhecê-la melhor antes que ela estivesse carregando meu filho.— O que mais tem para mim, Dylan? — questionei meu assistente que tagarela a do outro lado da chamada de vídeo.— Vou enviar o último contrato por email, o senhor pode ler e assinar amanhã. — ele respondeu revirando os olhos por trás dos óculos.— Eu ainda posso te ver.— Não tenho culpa que decidiu tirar o dia de folga hoje, deixando todas as reuniões em aberto. Se eu soubesse que não viria hoje teria reagendado e tudo estaria em paz, mas não...— Dylan, se acalme. Não é o fim do mundo e sim apenas mais um dia. — O silenciei antes que ele tivesse um infarto com a papelada que estava lidando. — Me envie esse e-mail e vá para casa, resolvemos o resto amanhã.— Com todo respeito, mas ficou maluco
Pela primeira vez eu não me importei com a repercussão que poderia trazer na mídia se me vissem entrando em meu prédio com uma garota. Apenas corri com Sophia no colo em direção ao elevador assim que Kevin parou, eu podia ouvir os murmúrios questionamentos quando passei pelo lobby, com a garota inconsciente nos braços.— Acorde Sophia, não faça isso comigo agora que te encontrei. — murmurei enquanto o elevador subia até a cobertura, mas além dos sons das engrenagens eu só conseguia ouvir nossas roupas gotejando no chão.Ela estava pálida e pela hora que fugiu não havia comido desde o nosso almoço, sabe Deus que refeições teria feito pela manhã. Eu não tinha dúvidas de que ela estava fraca e mal nutrida, vivendo nas ruas era de se esperar, mas não esperava vê-la daquele jeito.Quando finalmente entrei no apartamento corri a colocando na cama e tentando livrá-la daquela roupa molhada. Se tirasse a jaqueta e o vestido eu tinha certeza que seu frio diminuiria.Eu arranquei o tecido molhad
Senti braços em volta de mim e um corpo quente contra o meu enquanto alguém gritava do lado de fora. Mas parecia que eu estava imersa em um sonho, minha cabeça estava aérea e meus ouvidos pareciam tapados, e cada pedacinho de mim estava dolorido. Tive a certeza de que era apenas um sonho estranho quando o perfume de William invadiu meu nariz.— Vá para o inferno. — foram as palavras que me fizeram despertar completamente e abrir os olhos, pois eu a reconheceria em qualquer lugar.— AHHHHHHHH! — gritei me dando conta de que eu não estava sonhando, eu estava mesmo na cama abraçada com um homem.Eu afastei minhas mãos estapeando o corpo do safado, bati contra seu rosto, peito, braços. Não prestei atenção em onde estava acertando ele, só queria me livrar dos seus braços.— Droga. — William resmungou quando caiu de bunda no chão e ergueu o olhar me encarando como se eu fosse uma maluca. E eu finalmente olhei para baixo, me dando conta que estava usando uma camisa branca e fina que definiti
— Noiva? Amber é minha noiva? — ele perguntou rindo como se eu tivesse acabado de contar uma piada. — Quem te disse uma insanidade dessas?— Ela não é sua noiva? Você pareceu reconhecer o nome quando eu falei.— Sim, eu reconheço. Conheço Amber a minha vida toda, crescemos juntos já que nossas famílias sempre foram próximas. — ele confessou, mostrando que Megan não havia mentido sobre isso. — Nós já nos envolvemos antes, tentamos namorar na adolescência e nossos caminhos se distanciaram na faculdade.— Megan me disse que suas famílias prometeram um ao outro, ou algo do tipo, desde crianças.— Prometeram. — ele riu com escárnio. — Em que século nós estamos, Sophia? Acha mesmo que eu me sujeitaria a algo assim?Eu dei de ombros realmente não tendo uma resposta para ele naquele momento. Não nos conhecíamos bem o suficiente para que eu dissesse o que o caráter dele e sua personalidade o levariam a fazer.— Não sei o que faria, mas eu tenho a certeza de que várias famílias ricas tentavam u