Capítulo III

Robert McDalle

Logo após de apenas marcar presença no baile, Robert foi para onde sempre ia no fim dos bailes: o bar. Lá foi onde tudo foi ganho e tudo foi perdido, todos o conheciam como McDalle, a fama da própria família, mas ele não queria ser um McDalle, ele queria ser Robert, e foi assim que ele conquistou tudo em sua vida, nos casinos, bares são onde os grandes jogadores fracassados vão quando perdem uma partida, e foi ali onde ele aprendeu tudo que sabe sobre jogos, roubando uns truques de um, uns blefes de outros, descobriu que o jogo era mais que sorte, era probabilidade e lábia, e tendo uns dos dois você ja era ótimo, então tendo os dois você virava o melhor, e foi o que Robert foi, por bons anos, conquistou sua mansão, fortuna, fama...mas como todo jogador, não soube a hora de parar, e era como seu pai sempre dizia "Sempre vai haver alguém melhor que você" e por um tempo Robert duvidou, até conhecer Ravid Dallvis, o homem que tomou tudo dele, casa, fortuna, e o título de melhor jogador da época, tudo isso em uma única partida de poker.

Toda vez que ele se sentava no bar, na mesma cadeira, tomando o mesmo whisky ruim, ele se lembrava que ja esteve em tempos melhores.

-Por acaso você veio acompanhado hoje? -Perguntou Benny, seu amigo de bar favorito, amigo de bar significa que os dois bebiam juntos e fora do bar fingiam que não se conheciam pois haviam compartilhado muita coisa quando estavam bêbados.

-Eu nunca venho acompanhado, eu não teria coragem de trazer alguém aqui. -Robert ainda nem tinha tocado no seu whisky, mas ja sabia exatamente o sabor que ele tinha.

-Então você se deu bem, pois alguém veio ate você.

-O que quer dizer?

-Tem uma mulher lhe procurando, perguntou sobre você para todos no caminho ate aqui, você realmente arrasa corações.

-Não ideia de quem seja, não quero ver ninguém. 

-Se eu fosse você não deixaria a herdeira esperando...

-Herdeira?

-Sim, Sophie McVille...aposto que ja ouviu falar, herdou a fortuna da família, seu pai e seu irmão sumiram no mar...e agora só tem ela...sinto tanto por ela. -Disse Benny tomando um gole com amargura.

-O que ela quer comigo?

-Vai ter que perguntar para ela. -Ele disse apontando para o fundo do bar onde todos estavam, Robert não fazia ideia do que ela queria com ele, e nem sabia que ela o conhecia, pois ele nunca ouviu falar dela. Quando se aproximou que viu ela no meio dos homens que pareciam cães vendo um pedaço de osso. Para ser sincero Robert nunca viu uma única mulher entrar naquele bar, e a primeira que entrava estava procurando por ele.

-Senhores, estou procurando por Robert McDalle, e somente ele. -Ela não estava nem um pouco intimidada, e falava seu nome como se tivesse familiaridade com ele.

-Em que posso te ajudar? -Quando ele disse isso ela se virou para ele, estava surpresa com um tom de aliviada, ela suspirou e disse que eles precisavam conversar, ele não fazia ideia do que tinha para conversar com ela. -Ah, certo. Você quer ir para algum lugar ou...

-Não, aqui está ótimo, não pretendo demorar.  -Ela não hesitou um segundo, realmente o assunto parecia sério. 

-Como quiser madame.

-Me chame de Sophie, será que não tem algum lugar...um pouco menos barulhento?

-Venha comigo.  -Robert a levou para os fundos, era o escritório do dono do bar, ele sempre viajava essa época do ano, Robert ia para lá quando queria ficar sozinho, ele abriu a porta e Sophie entrou depressa e foi para o outro lado da sala, quando ele fechou a porta ela levou um susto. -Perdão, força do hábito, quer que deixe aberta?

-Deixe como está. -Ele se surpreendeu por ela ter sentado na cadeira em frente a mesa, como se realmente a sala fosse dela, Robert riu e se sentou em sua frente.

-Soube que estava me procurando...

-Estava...estou no caso. Eu ouvi falar muito de você...

-Espero que tenha ouvido boas coisas sobre mim.

-Na verdade não, porem pelo que eu ja vi sobre você, eu discordo de algumas coisas.

-Espera você...leu sobre mim no jornal? Não me lembro de ter saído no jornal.

-Pois já, e não foi a primeira vez, inclusive você sempre está no jornal.

-Qualquer jornal?

-Bem provável estar em todos. -Ele pegou um jornal que estava em cima da mesa e começou a folhea-lo.

-Até neste?

-Provavelmente página 5, sobre os homens solteiros de Nova Iorque. 

-Uau, eu realmente estou aqui, "Um dos solteiros mais cobiçados "  eu realmente tinha expectativa de ter o primeiro...

-A questão é que...ja ouvi falar muito sobre você, e já pesquisei bastante sobre e acho que você é adequado para o que eu quero.

-Ah não, sinto muito mas eu não quero me casar agora, fico lisonjeado, ninguém nunca havia me pedido em casamento antes....

-Eu não estou te propondo em casamento!! Como pode pensar nisso?

-Não consegui pensar em outra coisa.

-Voce não... enfim, você deve saber sobre mim...

-Bem pouco, ja me falou seu nome e tenho certeza que se me perguntarem daquia a uma hora não saberia responder.

- ...deve saber que meu pai e meu irmão estão desaparecidos.

-Achei que estivessem mortos.

-Achei que não sabia nada sobre mim.

-São só detalhes...

-Pois eles estão desaparecidos, e eu não tive muito contato com a administração dos negócios, pois estava certo de que meu irmão iria assumir os negócios.

-Certo...

-Porem como eles não voltarem ainda, já vai fazer dois meses...que está tudo parado.

-Entendi...

-E eu não tenho a mínima noção de como cuidar das finanças da família, até porque não são algumas terras mais sim milhares de hectares por ai.

-Compreendo...

-E eu ouvi falar de você, conquistou tudo do zero, sozinho e ja foi um dos melhores investidores da época. Com certeza foi por você saber muito bem administrar suas coisas.

-Correto...

-A essa altura você ja deve saber porque preciso sua ajuda.

-Ainda não está claro para mim...

-Quer saber? Foi uma péssima ideia, desculpa desperdiçar seu tempo. -Sophie disse se levantando e indo até a porta. 

-Espera!! -Robert disse, o que fez ela parar onde estava. -Voce quer que você lhe ajude a administrar os negócios de sua família.

-Bom...achei que eu ia precisar desenhar. -Ele ignorou o tom de ironia.

-Não sei se sabe...mas eu sou um falido agora, no fundo do poço, bem la embaixo.

-Ouvi falar.

-Eu perdi tudo. Não tenho mais nada, voltei a morar na casa da minha família...

-Sim, eu sei.

-Eu fico nesse bar a noite toda, bebendo somente um copo pois é o que eu posso pagar.

-Certo ja entendi.

-Se depois disso tudo, você ainda querer minha ajuda, ai está a prova que você realmente não entende de negócios.

-Só porque perdeu tudo não significa que seja um mau administrador, não da para ganhar sempre, muitos investidores perdem...mais poucos chegaram onde você chegou investindo tão pouco. -Sophie disse andando de um lado para o outro enquanto explicava.

-Você realmente procurou afundo sobre mim.

-Voce não tem ideia, eu realmente preciso de ajuda. Meu pai investiu a vida toda no negócio da família, 24 horas de dedicação e eu não estou tendo nem uma hora pois não sei por onde começar. 

-Seu pai não tinha nenhum conselheiro financeiro ou algo do tipo?

-Ele não confiava em ninguém, exatamente tudo que acontecia ou deixava de acontecer, era obra dele.

-Se você quer uma opinião sincera, de um investidor, você deveria arrumar um marido para cuidar dessas coisas.

-E você acha que eu irei encontrar alguém que não esteja interessado na fortuna da minha família?

-Tem razão, é um fardo muito grande para carregar, nenhum homem conseguiria viver sobre essa pressão.

-Voce esta zombando da situação, não é?

-Eu só não vejo como isso poderia dar certo. O que exatamente você quer que eu faça?

-Que seja meu conselheiro financeiro, e que faça mais do que dar conselhos.

-E eu vou entrar e sair da casa de uma herdeira solteira que mora complemente sozinha e ajudá-la nos negócios? Isso é pedir para destruir sua reputação.

-Se destruir minha reputação é o preço para não destruir a economia da minha família, eu acho até justo.

- Voce sabe que nos automaticamente vamos ter um caso e viver na libertinagem em sua casa? Exatamente assim que sairá nos jornais.

-Não me importo o que digam, eu faço qualquer coisa pela minha família.

-Não sei que estou disposto a sujar minha reputação dessa maneira.  -Disse Robert se levantando e se servindo de whisky que estava em cima da mesa.

-Voce com certeza...ja fez coisas piores.

-E o que eu ganho com isso?

-Essa é a parte que eu estava esperando, eu soube que você tem algumas dúvidas.

-Meu bem, eu sou coberto de dívidas que nem sinto frio.

-Eu podia lhe dar uma quantia suficiente para paga-las.

-Não tenho mil reais de dívidas, é bastante dinheiro.

-Eu estava pensando em um milhão. -Robert riu mas quando viu que Sophie estava seria ele parou.

-Está brincando, não é? E de onde você tiraria todo esse dinheiro?

-Isso mostra que você não conhece minha família. Eu podia dar até o dobro, mas você está sendo muito difícil. 

-Agora eu entendi porque você é tão disputada, Sophie Mcville, você não brinca com os negócios. -De repente alguém entra na sala, era Hobby, um dos caras que ele devia.

-Espero não estar atrapalhando.

-Não, eu ja disse que o que tinha falar falar, espero que pense com carinho na minha proposta. 

-Irei, com certeza. -Sophie sorriu e saiu da sala. 

-Voce realmente atira para o alto, amigo.

-Olha, eu ainda não tenho seu dinheiro, mas ano que vem eu...

-Esquece isso, o que são meio milhão de reais comparado a nossa amizade. -Disse Hobby segurando no ombro de Robert que ja tinha ouvido um estalo no mesmo.

-Fico feliz que coompreende minha situação.

-É claro, o que é esse dinheiro comparado ao quanto você vai ter se ficar ao lado dessa bela dama. -Disse ele apontando para onde Sophie tinha saido.

-Acho que temos pensamentos divergentes aqui... -Disse Robert tentando se afastar. 

-Então vamos te sintonizar nos meus pensamentos, acho que você e ela seriam um ótimo casal.

-Com certeza teríamos um casamento bem sincero...

-A questão é o seguinte, ela está sozinha, toda sua família morreu mas ela ainda acredita que estão vivos, então você chega, dá apoio moral à ela com esse seu charme que faz tanto sucesso....

-Na verdade, não faz tanto sucesso assim. -Nessa hora ele vê Hobby tirar do paletó uma arma e apontar para ele. -Pensando bem ninguém nunca reclamou.

-A convence lhe oferecendo ajuda para cuidar das finanças, ganha o amor e afeto dela, descobre onde o velho guarda o dinheiro, pois ele não tem uma conta no banco, então deve estar em casa, e depois disso você nos da nossa parte e depois faça o que quiser com a mulher, fuja do país, não me interessa. Não é um bom plano?

-Ótimo na verdade, não poderia pensar em algo melhor. 

-Só espero que você o coloque em ação antes que alguém o faça. De acordo?

-Só me falar onde eu assino.

-É bom fazer negócios com você, Robert. -Disse ele praticamente lhe dando adeus com a arma.  Robert respirou fundo e voltou para o bar, sentou na sua cadeira de sempre.

-Quando Hobby entrou lá eu pensei "Robert foi um bom amigo " -Disse Benny se sentando ao seu lado.

-Eu pensei o mesmo, mas infelizmente estou aqui.

-O que ele disse?

-Ele quer que eu dê um golpe na tal herdeira. 

-E você vai?

-Ele não parecia estar me perguntando se eu queria.

-Tem razão, era melhor ele ter te matado. E agora?

-Agora começa o jogo mais difícil que eu ja entrei. 

-Sei que você vai dar seu jeitinho, amigo. Mas se não der, foi muito bom beber com você. 

Robert somente deu um sorriso amarelo, ele não achava que essa ideia iria dar certo, apesar de Sophie estar sozinha agora, ela era exatamente esperta e inteligente, e parecia saber muita coisa sobre ele. Porem se ele não fizesse o que Hobby mandou ele iria morrer bem mais rápido do que esperava, porem ele não queria entrar nessa, ainda mais com Sophia, que não tinha cara de quem caia nessas coisas.

Porem a vontade de viver falou mais alto e no dia seguinte ele estava em sua porta tocando a campainha, ele tocou duas vezes porem ninguém atendeu, quando se virou para ir embora viu uma gata no seu pé, ela estava se esfregando nele.

-Parece que ela gostou de você. -Disse Sophie quando ele olhou para cima, ela estava suada, como se estivesse acabado de voltar de uma corrida. -Ela é uma fêmea difícil. 

-Que bom que sou acostumado com esse tipo. 

-Eu sabia que você ia voltar. 

-Parece que você me conhece mais do que eu mesmo, aliás... -Quando Robert se ajoelhou na frente dela, Sophie o olhou em pânico.

-Robert, não...

-Sophie, quer casar comigo? -Quando ela olhou para trás, tinha várias pessoas com câmeras e outras apenas olhando a cena.

-Isso é jogo sujo. -Disse Sophie sussurrando.

-Voce vai perceber que esse é o melhor jeito.

-Quero que você se levante agora e entre em casa para que eu possa mata-lo sem testemunhas. -Sophie lhe lançou um olhar mortal e entrou em casa. Ele escutou os suspiros de tristeza dos repórteres, a gata se esfregou nele.

-Acho que eu pedi a pessoa errada em casamento. -Ele disse e se levantou pegando ela no colo e a levando para dentro.

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