RubensNiterói — Horas depoisPassamos a noite inteira em Niterói só aguardando a chegada de João. Mas como isso só vai acontecer amanhã e estamos exaustos, decidimos procurar um lugar para passar a noite. Caso contrário, não aguentamos até o dia seguinte.Depois de muito procurar, Celso e eu encontramos uma pensão um pouco próxima da casa de repouso. Vamos até lá e pedimos um quarto simples com duas camas de solteiro, só para tomarmos um banho, trocarmos de roupa e comermos alguma coisa para aguentar até o dia seguinte. Pagamos adiantado na recepção, mas antes de subirmos para o quarto, passamos numa loja e compramos uma muda de roupa para cada um. Estamos o dia inteiro na rua, e com toda essa correria, já dá pra imaginar nosso estado, né? Um bagaço. Compramos o necessário e, quando voltamos à pensão, já é noite.Já passa das dez quando enfim conseguimos tomar banho. Depois disso, pedimos nosso jantar, que chega rápido. Comemos, abrimos uma garrafa de vinho e ficamos conversando por
Rubens - Niterói Algumas horas depois... — Dormiu feito uma pedra, hein, mestre!? Quase não consigo te acordar — comento, enquanto ele sorri tomando um café forte. — Faz tanto tempo que não bebia... devo ter exagerado um pouco. Falei alguma besteira ontem? — pergunta, colocando os óculos escuros. — Só disse que sou teu genro e que está gamadão por uma mulher misteriosa — digo, e ele se engasga com o café. — Eu? Gamadão? Só pode estar brincando — responde, desacreditado. — Tô falando sério. Até levei um susto quando ouvi aquilo, né? Logo você, todo sério, falando de sentimentos desse jeito. Mas só faltou dizer o principal — falo, enquanto estaciono o carro um pouco antes da casa de repouso. — Faltou eu dizer o quê? — Celso pergunta, retirando o cinto de segurança. — O nome da felizarda que mexeu com teu coração. Eu conheço, mestre? — pergunto, vendo-o ficar sem graça. “Aí tem coisa... e eu vou descobrir.” — Para com esse assunto, Rubinho, ou te corto do teu posto de genro ag
Durval Horas depois da prisão de CarmenCelso me liga e informa tudo o que acaba de acontecer em Niterói. Carmen e João finalmente são capturados. Isso me afeta mais do que gostaria de admitir, pois, mesmo tentando negar, passo uma vida inteira acreditando que Carmen é minha irmã. Descobrir, de repente, que tudo não passa de uma ilusão — uma mentira cruel — me desestabiliza. Especialmente por saber das loucuras que Jorge comete por conta de sua paixão obsessiva por Brenda, uma mulher que jamais sente o mesmo por ele. Com tudo isso na cabeça, sinto que estou prestes a explodir.Recordo meu passado com a mãe de Jorge e percebo como paixões, muitas vezes, só servem para arruinar vidas. Ainda assim, espero que, com esse tempo na prisão, ele reflita e compreenda que a vida é curta demais para ser desperdiçada desse jeito.Hoje sou imensamente grato a Deus por ter Maria ao meu lado. Minha amiga, companheira, namorada, esposa, amante e mãe dos meus filhos. Sou, sem dúvida, um homem abençoad
BrendaNunca imagino que esse dia chegaria tão rápido, mas por sorte — ou vontade de Deus — minha liberdade, enfim, é decretada. Agora sigo a caminho da delegacia, onde tudo será oficializado. Estou prestes a conquistar o que tanto desejei: uma nova chance de ser feliz de verdade.Errei, sofri, chorei. Mas, quem diria que hoje estaria aqui... ao lado do grande amor da minha vida, do meu melhor amigo, do meu companheiro, do pai do meu filho. O homem que me enlouquece em todos os sentidos e que promete nunca soltar minha mão — esteja o mundo caindo ou não.Nunca desejei tanto a liberdade quanto agora. Hoje, finalmente, entendo o que minha mãe passou para criar a gente. Só agora, prestes a me tornar mãe, compreendo a dimensão da preocupação, do amor e do desejo profundo de oferecer o melhor para um filho.Depois de algum tempo no carro, enfim chegamos à delegacia. Gregório permanece ao meu lado, segurando firme a minha mão. Ele não queria que eu viesse, mas Garcia exigiu minha presença p
Sempre sou muito intensa em todas as áreas da minha vida. Sou do tipo que se entrega de corpo e alma a tudo o que faz. Se sinto que algo ou alguém me faz bem, estou sempre por perto. Amo conversar, conhecer novas pessoas, explorar novos lugares e buscar a felicidade todos os dias. Curto demais viver novas experiências e, mesmo quando algumas me machucam — como foi o caso do Alessandro —, procuro extrair algum ensinamento de cada situação.Aprendo desde cedo, com a perda da minha mãe, que muitas pessoas que amamos não poderão estar eternamente ao nosso lado, nem mesmo nos momentos mais felizes. Mas posso eternizá-las no meu coração e nas minhas lembranças.Imaginem o que é para uma menina crescer sem o apoio e o carinho que só uma mãe de verdade pode oferecer. Apesar da dor constante da ausência dela, não tenho o direito de reclamar. Tive o privilégio de ter Celso José Gutierrez como pai — e melhor ainda: poder chamá-lo de pai.Meu pai é um homem maravilhoso, íntegro, meu super amigo,
Isabel Gutierrez A música termina e continuamos dançando até sermos surpreendidos por aplausos. Afasto-me de Rubens, envergonhada, e ele logo agradece, olhando para o público que ainda nos aplaude.— Ela é linda demais, não é, pessoal? — comenta, me deixando ainda mais sem graça.— Rubens, por favor! — peço, tentando esconder o rosto com a mão.— Que evolução tivemos em pouco tempo. Assim que cheguei, você me chamou de senhor Paiva, e agora sou Rubens? — diz ele, sorrindo, enquanto beija a minha mão, que está completamente gelada de tanto nervosismo e vergonha.— Você é terrível, hein, senhor Paiva! — falo, balançando a cabeça, pegando o pedido dele no balcão e entregando em sua mão.— Não era bem isso que eu queria receber depois dessa dança maravilhosa. Mas já é um bom começo — afirma, pegando a fatia de bolo e me olhando fixamente.— E o que você queria receber, senhor Rubens Paiva? — pergunto sorrindo, brincando, até me surpreender com a resposta.— O seu beijo. E a sua boca me c
Isabel Gutierrez Depois de algumas horas, enfim, chegamos ao hospital. Estou muito ansiosa para ter notícias do Rubens e não consigo sequer esperar o meu tio Durval estacionar o carro direito. Abro a porta apressada, desço e corro em direção à recepção.— Isabel! Espera um pouco, menina! Que isso? — grita meu tio.— Nos vemos lá dentro, tio! — grito de volta, correndo.Entro no hospital e sigo direto para a recepção, em busca de qualquer notícia que possa aliviar minha ansiedade. Quando estou prestes a ser atendida por uma senhora, ouço a voz do meu pai me chamando. Viro o rosto e abro um sorriso ao vê-lo, caminhando em sua direção. Ele me abraça apertado, como se quisesse tirar todo o peso dos meus ombros e me proteger de todo o mal, como sempre faz.Nossa! Como é bom sentir o carinho dele e ter a certeza de que está aqui para me apoiar, como sempre.Nesse momento, além do Rubens, só preciso dele: do meu pai e do seu amor sincero.Ele me abraça e logo diz:— O que está fazendo aqui,
Isabel Gutierrez Caminhamos por alguns instantes até que fico diante da sala onde Rubens está sendo atendido. Na frente do quarto, há um vidro grande e transparente que permite uma visão direta do paciente. Olho através do vidro e vejo que ele está com os olhos fechados. Fico parada por alguns segundos, até que o doutor me chama. — Venha, senhorita. Ele está dormindo, mas você pode ficar aqui por uns vinte minutos. Por favor, não faça nada que o deixe agitado. Ele está tomando medicação intravenosa, e essas primeiras horas são muito importantes para a recuperação — diz o doutor, alternando o olhar entre mim e o leito de Rubens. — Tudo bem, doutor. Prometo seguir todas as suas orientações e ficarei em silêncio. O que mais desejo é que ele se recupere totalmente e saia daqui o quanto antes — respondo, com os olhos fixos na direção de Rubens. — Tenho certeza disso. É nítido no seu olhar e nas suas expressões o quanto gosta dele — comenta o doutor. — Eu não apenas gosto dele, doutor