Prólogo
— Ella, você está ciente da situação? Não pode passar da meia-noite, pois todo encanto vai se desfazer e corre o risco de ser descoberta por sua madrasta e irmãs — explicou a fada madrinha muito preocupada.
— Tentarei sair do baile antes que o relógio bata meia-noite — a tranquilizei, entrando na linda carruagem feita de abóbora.
— Está certo! Se divirta — disse acenando enquanto a carruagem se afastava devagarinho.
O baile era para apresentar a noiva do príncipe Florian, mas também foram claros ao afirmar que o príncipe Henry estaria por lá a procura de uma noiva. Sabia que não teria chance alguma, mas tinha certeza que ir a esse baile me faria muito bem.
De repente, quem sabe, posso chamar atenção do príncipe Henry. Pensei enquanto a carruagem passava pelo portão do castelo. Na hora me deu um frio na barriga, como se eu fosse ser descoberta a qualquer momento.
Milhares de coisas se passaram pela minha cabeça enquanto fazia
Príncipe HenryCapítulo 1Foi difícil permanecer concentrado no baile após o sumiço de minha princesa, nenhuma outra conseguia prender minha atenção. Ela tinha uma voz doce, sorriso gentil e um brilho diferente nos olhos. A única coisa que havia me restado dela, era aquele lindo sapatinho de cristal. Por isso, e porque estava cruelmente encantado por ela, decidi que logo pela manhã sairia em sua procura. Logo que amanheceu, sai feito louco para procurá-la e entrei em todas as casas do vilarejo, calcei aquele sapatinho em todos os pés das jovens do meu reino. Precisava encontrá-la a todo custo, porém, quando bati em todas as portas e nenhuma das moças pôde calçar o sapatinho, me vi frustrado e entristecido.Ainda assim, minha determinação em encontrá-la não me permitiria parar. Quando retornei ao meu palácio já anoitecia, passei o dia todo procurando por ela. Meu pai estava na sala de estar, jantando, fui ao seu encontro e, assim como eu, ele t
CinderelaNo desespero de chegar em casa antes que toda a magia acabasse, acabei perdida em um lugar desconhecido, no qual ninguém ousava entrar. Agora, na segunda noite perturbada e horripilante, me encontrava sem forças e frustrada. Estava com fome e muita sede.Por que resolvi fazer outro caminho se eu sabia muito bem que a floresta era perigosa? O que eu tinha na cabeça para fazer esse trajeto? Minha sorte era ter a companhia dos meus amigos ratinhos.A noite a floresta tornava-se aterrorizante e não tinha um lugar bom aonde eu pudesse dormir, além disso, em todo tempo que estivemos ali só conseguimos encontrar algumas amoras para comer.— Ella, você ouviu? Deve ter lobos por aqui — disse Perla assustada.— Mas é muito medrosa, hein Perla! Isso não é lobo.— É sim Bert, vamos subir nessa árvore — falei tentando subir.— Tenho medo de altura — resmungou Tata agarrada a mim.— Sei que tem, é só fechar os olhos que o medo passa.
CinderelaAinda que tentasse me acalmar, meu coração continuava aflito e amedrontado sem saber o que poderia estar escondido naquele arbusto. Continuei atrás da árvore imóvel e agachada, não podia correr o risco de ir saber o que era, tinha medo de não ser apenas um coelho ou qualquer outro bicho inofensivo.De repente, algo saiu do mato e passou rapidamente por nós. Fechei os olhos aceitando que aquele seria o meu fim, seria devorada por algum animal selvagem e ninguém me encontraria. Mas imaginem minha surpresa quando senti algo deitar sobre meu colo, fazendo-me levantar rapidamente por conta do susto. Respirei fundo e passei a mão pela minha nuca ao olhar para o chão e ver um filhote de veado. Ele parecia tão indefeso e assustado que acabei sorrindo. Me aproximei com cautela para que não corresse e fiz um leve cafuné em sua cabeça.— &Eac
CinderelaSem ter coragem de ver o que era, permaneci em silêncio imaginando o momento que aquelas coisas desistiriam e iriam embora. Meu corpo estava imóvel, mas meus olhos acompanhavam as sombras que, ao reparar bem, uma era humana, mas a outra só poderia ser de um animal.De repente ouvi uma voz estridente e fiquei mais assustada ainda. Ela disse algo que não entendi e logo em seguida o barulho de graveto se quebrando e os passos foram ficando cada vez mais longe.Respirei aliviada e me deitei novamente, mais uma vez tentei dormir mesmo com meu coração acelerado de medo. Tudo que eu mais queria é que essa noite acabasse logo.Acordei com o barulho de chuva e senti algumas goteiras cair sobre mim e pela umidade que vinha do chão deveria estar chovendo muito forte.Como a cabana foi feita embaixo de uma árvore enorme, a chuva não caia com tanta força sobre nós. Foi muita sorte encontrar essa árvore, ela iria nos proteger.— Esto
CinderelaAo acordar, senti uma dor forte em meu pé. Me sentei sobre o chão úmido para ver em que eu havia pisado. Era algo estranho, esbranquiçado e ao olhar ao redor notei vários ossos que pelo formato pareciam ser de animais.Com muita dificuldade tentei tirar o pedaço de osso que entrou no meu pé. Parecia muito fino e pontudo, o cuidado para tirar seria dobrado, afinal, parecia tão frágil que poderia quebrar ficando um pedaço ali dentro e isso seria muito pior. Então, bem devagar fui puxando até sair por completo.A dor era insuportável e sangrava muito. Rasguei um pedaço pequeno do meu saiote, pois tecido aqui era o que não faltava. Dobrei várias vezes um pedaço e coloquei bem em cima do buraco e com o outro pedaço enfaixei meu pé todinho, deu para dar várias voltas. Assim não correria risco de o sangue vazar.Tentei me levantar do chão, porém, com a dor, não consegui. Precisava de um apoio, olhei para o chão a procura de algo que eu pudesse me apo
CinderelaSenti que estava sendo arrastada pelo chão devagarzinho, com muita dificuldade abri os meus olhos e notei que já tinha anoitecido e um temporal muito feio se formava no céu. Olhei a minha volta e notei que quem me arrastava eram meus amiguinhos. Senti um frio insuportável, mas percebi que meu corpo queimava como fogo. Assustada tentei me levantar, mas tonteei e cai novamente.— Ella, não se levante, você está queimando de febre — disse Perla preocupada.— Perla, se eu não me levantar, vamos pegar uma chuva, acho melhor eu levantar e tentar correr — falei tentando ficar em pé.Quando finalmente consegui, os ratinhos pularam em mim e tentei correr até a cabana. Quando estava prestes a entrar, tentando abrir a porta, a chuva caiu de repente me encharcando todinha. Abri a porta e entrei rapidamente.Tirei mais um dos meus saiotes e deitei, tentando me cobrir com ele, consegui ficar protegida do frio, apesar de estar molhada
Príncipe HenryCorri como louco por aquela estrada, sabia que era perigoso correr assim. Afinal tinha uma vida em risco e tudo o que eu queria era salva-la.Cheguei no castelo logo depois do almoço, passei por aqueles portões desesperado. Parei a carruagem e desci, logo em seguida subi por aquelas escadas carregando-a no colo.— Por favor, chame o médico... Vamos, vamos se mexam. Ella precisa de cuidados médicos — ordenei aos guardas que encontrava no caminho.— Filho, você a encontrou? Como ela está? — Questionou meu pai indo atrás, fui direto para o meu quarto e pedi que chamassem as criadas.— Pai, ela está machucada, com febre e desidratada — expliquei.— Filho, e é ela mesmo? A moça que você dançou no baile? — Perguntou preocupado.— Sim, pai, é ela mesmo. Minha futura esposa e rainha — respondi passando a mão no rosto dela. — Pai, Emma e Glorinha sumiram...— Vossa altez
CinderelaSenti meu corpo chacoalhar de um lado para o outro. Queria abrir meus olhos para ver onde estava, mas eu não tinha forças nem para isso.— Calma, Ella! Estamos indo para casa. O príncipe te achou — ouvi a voz da Tata como um sussurro.No entanto, entendi muito bem o que ela falou, me senti feliz e animada. Mesmo que minha vida esteja por um fio, ele finalmente me encontrou. Pensei enquanto estava consciente e logo após apaguei novamente.Às vezes sentia e ouvia tudo que estava acontecendo ao meu redor e por mais que eu tentasse não conseguia dizer uma só palavra e meu corpo doía tanto que preferia nem mexer. Então permaneci imóvel.Percebi que me colaram em uma cama fofa e cheirosa, queria agradecer por ter sido encontrada. Mas sentia tanta fraqueza que não podia demonstrar reação alguma. Meu estômago doía muito, meu pé latejava e minha cabeça começava a doer. Parecia que tudo estava desmoronando sobre mim e qu