POV BENJAMIN:
Natal. Para mim a melhor época do ano, e que agora fazia o meu coração se encher de alegria ao sair da joalheria e ir até uma loja de presente. Faz algumas semanas que Marya e eu estamos morando literalmente juntos, com nossa filha, e esse tempo todo me fez refletir. Eu nunca tinha me sentido com vontade de comemorá-lo, mas depois que minha pequena veio para mim e ganhamos Marya de presente, era como se um espírito natalino se apossasse dentro de mim, trazendo-me uma paz enorme.Eu tinha conseguido duas semanas de férias na empresa onde trabalho, então estava em casa desde ontem com minhas meninas.– Como vão minhas meninas?Cheguei em casa alguns minutos depois de ter comprado todos os presentes necessários e deixá-los no carro, em um lugar onde eu sabia que essas duas não iriam mexer e estragar com a surpresa.– Papááá. – Luna veio correndo até mim, que imediatamente a peguei no colo, enchendo-a de beijos e fazendo-a rir.<POV MARYA:– Filha, perdoe-nos, por favor. – meu pai disse após eu contar toda a história que vive ao longo desses cinco anos. – A gente nunca iria largar você para trás. Arrependemo-nos no mesmo dia. Ficamos preocupados, porque seria nossa primeira neta, e você era tão novinha, tinha acabado de terminar o seu colegial, e eu estava juntando para dinheiro para pagar sua faculdade, e...– E sabemos do meu câncer. Sei que isso não justifica abandonar uma filha, como a gente fez com você. Arrependemo-nos muito por você ter tido que fazer a mesma coisa com nossa netinha. Mas seu pai ficou preocupado com o dinheiro, que já não era muito naquela época.– Mas eu poderia trabalhar, como fiz, e pagar minhas coisas. Ou iria morar em outro lugar, só não queria dar trabalho para vocês.– Você nunca deu trabalho, meu anjo, perdoe-nos por favor. – meu pai disse, sentando em meu lado esquerdo, e me abraçou. – Por favor.– Tudo bem, papai. – abracei-o. –
POV BENJAMIN:Sabe aquela sensação em que você acorda e o dia vai ser diferente? Bom, eu estava me sentindo exatamente assim hoje, o sol amanheceu radiante lá fora. Mas o que realmente me fez ficar feliz foi sentir um ser pular em cima do meu colo e beijar meu rosto, segurando o mesmo com seus braços pequenos.– Papai, acorda.– Já de pé, furacãozinha? – Abri os olhos, rindo. – Cadê sua mãe?– Lá em baixo. Ela está terminando de fazer o bolo, papai. Estou muito ansiosa.– Bolo? – fiz-me de desentendido.– Papai. – Luna cruzou os braços, emburrada. – Não vai me dizer que esqueceu.– Que hoje é aniversário de uma menina linda? Que se chama Luna Leonez Sanchez?Sim, tínhamos decidido e foi o escolhido da pequena que seu nome seria Luna. Ela adorou. Era até melhor assim, para não confundirmos ainda mais a cabecinha dela.– O papai não esqueceu. – ela me abraçou de novo e eu retribui, fazendo ela deitar em m
Whit’s For Ye Will No’ Go By Ye é uma expressão escocesa que significa o que tiver que acontecer vai acontecer. Durante minha primeira semana na IDEM já ouvira ela sendo entoada diversas vezes pelos corredores. Mas a cada vez que presenciei tal coisa pode ter certeza de que meus olhos se reviravam diante de um ponto de vista tão absurdo.Nunca fui tão adepta do fatalismo, na verdade, para mim as ações e as escolhas tem um poder enorme. As ideias de destino, sina, sorte e azar eram todas uma grande invenção de quem não percebe um fato muito curioso: a dimensão das consequências causadas por suas atitudes. Isso tudo não passava de um Efeito Borboleta, em que uma decisão mínima em princípio vista como insignificante tomada de forma plenamente espontânea, pode gerar uma transformação inesperada num futuro incerto. Podia não entender ao certo todas as implicações físicas desse fenômeno ligado à Teoria Caos, mas acreditava piamente que ela podia quebrar de vez o mito do Destino e
“Inverness é a maior cidade do norte da Escócia e capital das terras altas, conhecidas como Highlands, local de muitas lendas e tradições. É uma cidade pequena e tranquila, cortada pelo rio Ness. E é em uma área remota, contida no Fraser Park, que se localiza o Instituto Disciplinar Escócia Moore.”Recitei pela centésima vez o que dizia no panfleto que meu padrasto trouxera semanas atrás, todo sorridente como se estivesse me fazendo um favor e não me sentenciando à solitária.-Você ouviu isso, Phill? Instituto Disciplinar! Parece até uma prisão. Pode repetir para mim o que foi exatamente que eu fiz para você me trancafiar junto com o monstro do lago Ness?Phillip Duncan bufou com minha dramaticidade. Ele fazia muito isso ultimamente. Acho que agora que minha mãe morreu, ele não precisa mais fingir que me tolera. O que mais eu deveria pensar de um homem que tão perto de um falecimento tão doloroso, manda sua filha postiça para um internato no meio da Escóci
No fim das contas o sinal de celular não era tão ruim quanto eu pensava. Cortesia do chip especial que comprei escondido de Phill, da melhor operadora telefônica da área. Meu 4G não só estava funcionando, como voando, constatei enquanto me preparava para meu segundo dia no inferno. Tomar banho no banheiro compartilhado não parecia que seria um empecilho tão grande. As cabines eram devidamente separadas, e se você chegasse cedo o suficiente, poderia aproveitar a água quente. Sorte a minha que minhas companheiras de quarto resolveram me acordar para isso. Quando estávamos saindo da sala de banhos, presenciei a cena hilária, de uma novata como eu, que chegara tarde demais recebendo o jato de agua fria inadvertidamente. Posso ter gargalhado com as outras meninas, mas estremeci internamente agradecendo a deusa Ísis que não tenha sido eu.Acabei optando por uma blusa social branca lisa de mangas compridas, como o clima não estava dos mais quentes naquela manhã. Vesti o uniforme r
Quando acordei naquele dia, o sol parecia brilhar mais forte, o céu estar mais azul e a grama da aula de equitação ainda mais bem cortada. Sim, para minha surpresa a Instituto Disciplinar Escócia Moore não era uma completa perdição. No lugar de aulas de ginástica aproveitavam os campos ao redor para quem quisesse participar dos treinos de equitação. Minha semana até que fora satisfatória considerando tudo. Comecei a construir uma amizade com minhas companheiras de quarto e aprendera as lições do manual de sobrevivência do IDEM. Meus professores não sabiam se me odiavam por ficar distraída na aula ou me amavam por meus insights de quando estava realmente prestando atenção. De qualquer maneira eu até que me saíra bem para uma novata.Eu passara a semana sem outros encontros com a diretora a não ser por um incidente em que meu almoço acabara todo no cabelo de Sabrina Hastings. Ela era a nojentinha que eu tivera o desprazer de conhecer no primeiro dia. Digamos que talvez as ci
-Emmett, você sabe que nesse ritmo vamos perder o toque de recolher, não é?! E eu deixei Erebus lá pastando sozinho.O menino que nesse momento dirigia olhou-me confuso. Senti-me uma idiota, corando. É claro! Ele não conseguia ler meus lábios enquanto se concentrava na estrada. Após seu discurso de “confia em mim, Eloise”, “a vida está aí pra ser vivida, Campbell”, Emmett pegou a picape vermelha de seu pai nos fundos do Pub e se pôs a dirigir em silêncio enquanto eu ouvia música e cantava algumas melodias da Rádio Escocesa local, muito boa por sinal. De vez em quando ele lançava olhares furtivos para minhas dancinhas animadas quando tocavam meus hinos e colocava a mão perto da saída de som como que para sentir pela vibração o estilo que estava tocando. Ele tentava esconder, mas eu podia ver sua face de tristeza, afinal, devia sentir saudades da música. Se fosse como eu, uma criatura que não consegue passar o dia sem pelo menos cantar, dançar ou escutar algo, com certeza sen
As terras altas são conhecidas por abrigar as lendas do povo gaélico escocês. O mito de Baobhan Sith é uma delas. Uma mistura de Succubus e Vampira, ela é descrita como uma mulher bela e sedutora trajando verde, acompanhada por outras espécies de Banshees, também metamorfas. Juntas, elas vagam durante a noite caçando suas vítimas, convidando jovens para dançar, por exemplo, para então rasga-los com suas longas unhas e beber seu sangue.O povo escocês é bem supersticioso e era nisso que estávamos apostando com aquele plano. Tudo começou, naturalmente com uma briga entre Bridgit e Cait. Elas eram muito capazes de acordar até a diretora com seus berros. Assim que o corredor começou a ficar lotado de meninas confusas, irritadas e sonolentas, eu e Freya nos esgueiramos pelo corredor em direção à saída do dormitório.Ouvimos passos no corredor e nos escondemos dentro do banheiro. Pela fresta da porta pude ver a inspetora passando com diversos bobs em seu cabelo. Era a Se