Hana Ravallo
Acomodo-me em uma das poltronas encantada com tudo que ele reservava por dentro. O seu interior mais parecia uma casa do que um avião. Claro que não esperaria menos de algo que vem da família Drevitch, mas mesmo assim me surpreendeu.
Layonel conversa com um homem que acredito ser o piloto e não consigo entender como ele pode ficar vinte e quatro horas do seu dia com aqueles ternos desconfortáveis. Sinceramente estou começando a achar que ele esconde algo por trás daqueles panos caro e elegante. Na verdade, ele é um homem charmoso e sensual, exala luxuria e poder, mas ainda a algo nele que me confunde e intriga.
Mexo no celular na tentativa de aliviar a tensão do meu corpo por ser primeira vez dentro de um avião, mas o medo não colabora muito com o meu psicológico e depois de alguns minutos Layonel se acomoda na poltrona a minha frente me encarando curioso.
Tantas poltronas ao nosso redor e ele escolhe justamente se sentar à minha frente, isso deve ser algum tipo de perseguição. Finjo estar mais ocupada em meu celular do que em seus olhos, mas era difícil ignorar aquelas esmeraldas brilhantes.
-Senhores passageiros coloquem os cintos e ativem o modo avião dos seus aparelhos eletrônicos. –A aeromoça fala como se estivessem muitos passageiros, mas na verdade era só nós dois.
Fico olhando para ele sem saber o que fazer com o cinto. Será igual a um carro?
Layonel acaba se levantando e se curvando sobre mim para me ajudar, seu pescoço fica próximo ao meu rosto me dando oportunidade de observar aquele local de perto, acabo notando uma pequena pinta próxima a sua orelha e sinto vontade de correr meu dedo por ela, mas me controlo fortemente a não tocar sua pele.
Para ser sincera ele é lindo e estava mais próximo do que eu gostaria. Acabo sentindo o cheiro do seu perfume que invade meus sentidos como um soco. Ele tem um cheiro forte e ao mesmo tempo suave, o tipo de cheiro que ficava gravado na mente, uma mistura almiscarada e amadeirada, de sândalo e cedro, sofisticado, intenso, ousado, cativante e sedutor.
Ao terminar ele volta a se sentar arrumando o próprio cinto.
Minhas bochechas queimam pela vergonha de ficar pensando no seu perfume, mas era inevitável, seu cheiro permaneceria nos meus sentidos por longas horas.
Com o notebook no colo ele parecia concentrado demais em seus afazeres para puxar um assunto qualquer, no fundo agradeço por isso já que não saberia o que falar em um momento como aqueles.
Sei que não seria uma viagem longa, mas parece que nas alturas o tempo demora mais para passar e aquilo estava me incomodando. Eu poderia ter baixado um joguinho qualquer no celular para matar o tempo, mas a ansiedade em saber que iria voar não me permitiu pensar sobre isso.
Ajeito meu corpo na poltrona batendo o pé incansavelmente no chão sem emitir barulhos ou ruídos e assim caio em um sono profundo e pesado que não tinha a dias e realmente estava precisando.
***
Acordo assustada com a voz da aeromoça avisando que iriamos pousar. Perdida olho para os lados e me arrumo na poltrona passando a mão no rosto, tinha uma coberta sobre meu corpo e um travesseiro em minha cabeça que não sei de onde surgiram.
Drevitch me olha com uma sobrancelha arqueada e um estranho sorriso no rosto. Sinto minhas bochechas queimarem ao pensar que ele ficou me observando dormir o tempo todo.
O avião começa a descer e uma estranha sensação se instala em minha barriga, vejo que ele apoia a mão no queixo para me apreciar melhor. Aqueles olhos verdes me consomem sem pressa observando atentamente cada movimento do meu corpo.
Meu coração se acelerar quando o avião começa a balançar repentinamente, as rodas tocam o chão e o baque faz com que eu feche os olhos com o susto segurando firmemente as poltronas do avião até sentir meus dedos doerem.
Nunca tive medo de aviões, mas percebi que não são o melhor meio de transporte serem utilizados, prefiro mil vezes um carro sem turbulências.
Layonel não consegue segurar o sorriso que se espalha por seu rosto e sinto me cada vez mais constrangida.
-Acho bom à senhorita limpar o rosto. –Ele indica o canto da minha boca.
Passo a mão na boca achando que havia babado enquanto dormia, mas percebo que ele só estava debochando da minha cara e ouvir sua risada me faz semicerrar os olhos e ter vontade de jogar meu celular em sua cabeça.
Controlo a vontade, pois só tenho esse celular e minhas condições financeiras não permite que eu desperdice por tão pouco.
-Vamos temos que rever nossa agenda já que a senhorita dormiu o caminho todo. –Ele se levanta arrumando o terno amassado pela viagem.
Contrariada e envergonhada me levanto tentando arrumar meus cabelos que deviam estar horríveis. Assim que descemos do avião um carro está a nossa espera, apenas me acomodo ao seu lado no banco de trás esperando que ele comece a ditar nosso dia.
Ele sempre é muito sério e profissional, mas também adora me irritar e me tirar do sério. Sua personalidade é indefinida, tem horas que é um anjo e tem horas que é um demônio encarnado, não consigo compreende-lo e muito menos entende-lo.
Inquieto ele puxando o nó da gravata que o incomoda, o observo até ele voltar sua atenção a mim e eu desviar meus olhos fingindo indiferença.
-Quais serão os horários de amanhã? –Pergunto profissionalmente.
Ele retira uma pequena agenda do bolso do terno me entregando. Como sempre fez questão de preparar os horários para o final de semana e para ser sincera não sei exatamente o que me espera para esses dois dias.
Não querendo pensar no pior observo os horários e vejo que hoje seria um dia corrido e cheio de novidades. Sua agenda estava milimetricamente organizada com os horários de cada lugar que iriamos e do que eu iria aprender, mas não entendo muita coisa da sua letra horrível e mal feita então devolvo a agenda para ele que me observa pensativo.
Como estava constrangida por imaginar minha imagem completamente denegrida no avião, tento ignorar sua presença ao meu lado o máximo que posso.
Ao chegarmos no hotel espero ele conversar com a recepcionista para pegar as chaves dos quartos. Meu quarto fica no quinto andar e o dele no sexto.
Subimos até o quinto andar onde ele me entrega a chave do quarto e antes que as portas do elevador se fechem fala.
-Te espero as sete.
Assinto e as portas do elevador se fecham.
Respiro profundamente tentando acalmar meus pensamentos, mas o cheiro do seu perfume gravado em minha mente não colabora. Ficar dentro de um elevador fechado não ajuda a sanidade mental das pessoas divorciadas e encalhadas, seu perfume é inebriante e me deixa atordoada.
Entro no quarto deixando minha mala de lado para me jogar na cama macia do quarto e pelo que vi em sua agenda temos uma festa para ir. Ele não comentou mais nada sobre isso, mas me parece ser algo sofisticado, luxuoso e importante.
Acabo me empolgando em arrumar minhas coisas e quando falta pouco para as sete da manhã começo a me trocar. Opto por uma roupa confortável e leve, pois realmente fazia calor. O clima é quente e seco e o sol que brilha fortemente no céu não parece querer se esconder tão cedo.
Salvador é uma cidade incrível e tive sorte de pegar um quarto que me dá uma bela vista do mar reconfortando o meu coração. Já estou com saudades de Daisy, nunca fiquei mais de algumas horas longe dela e saber que ficarei dois dias faz meu coração se partir.
Essa cidade é maravilhosa e eu queria poder aproveitar pelo menos um pouquinho do que ela tem a oferecer, não nego que fiquei ansiosa em vir para cá, meu sonho sempre foi viajar e conhecer muitos lugares lindos. Salvador com certeza estava na minha lista, mas é claro que quero trazer minha filha junto comigo e se possível Ellen, entretanto estou aqui a trabalho e não posso pensar nessas regalias.
A saudade da voz da minha menina logo pela manhã b**e forte em meu peito, então aproveito para fazer uma ligação para Ellen para avisar que havíamos chegado bem. Daisy tagarela mais do que deveria no celular e nem mesmo vejo as horas se passar até ouvir b**erem na porta do quarto.
Ao atender vejo o Drevitch com uma carranca considerável do outro lado, o mesmo look de sempre, mas hoje a camisa social de baixo do colete era azul claro e sua gravata chumbo.
-Está atrasada Srta. Ravallo.-Me chame de Hana por favor. –Pegando minha bolsa que estava jogada sobre a poltrona do quarto para acompanha-lo.-Você está vinte minutos atrasada. –Ele insiste no meu atraso.-Desculpa senhor. –Tento encurtar o assunto.-Vamos a festa amanhã não se atrase novamente. –Ele ajeita os óculos de grau com o dedo indicador indo em direção ao elevador.-Sim Senhor. –Suspiro e vejo ele me observar.-Pode me chamar de Layonel. –Me surpreendo com seu pedido, mas fico feliz por poder chama-lo informalmente pelo menos aqui.Ao sair do elevador me surpreendo por estarmos no telhado do prédio e não no térreo. Havia um helicóptero a nossa espera e aquilo não reconforta meu coração.-Você não disse que teríamos que voar uma segunda vez. –Digo desanim
Douglas me apresenta toda a casa e conta um pouco da história explicando que aquela era a residência dos Drevitch antigamente. Pelo que percebi Layonel viveu sua infância junto com seus avôs e pais nesta casa, mas Douglas não entrou em detalhes sobre o que ouve depois disso.Apesar de estar curiosa para saber mais sobre essa família incrível contenho minhas inúmeras perguntas apenas para mim.Seguimos pela casa até chegar em um imenso quintal onde levava as indústrias, uma cerca baixa separa a casa do local de produção, provavelmente para não deixar que os turistas invadam o espaço privado da família.-A muito tempo todos viviam feliz aqui e os turistas enchiam esse lugar, hoje a procura por esse lugar ainda é grande, mas não encontram mais os moradores da casa presente. –Douglas sorri entristecido.Tento o máximo que posso cont
Depois de um longo interrogatório de Clarisse que me fez rir, Layonel me guia até a sala de jantar que obviamente era esplendida como todos os cômodos daquela casa, e a mesa de madeira se estendia com lugares para no mínimo umas 20 pessoas.A mesa estava posta a nossa espera, com algumas garrafas de vinho e lugares postos para duas pessoas.Optaria por tomar um banho ante do jantar, mas não trouxe roupas, pois achei voltaríamos para o hotel ainda hoje.Elegantemente ele puxa uma das cadeiras oferecendo-a para mim e constrangida com ato cavalheiro e inesperado me sento tentando esconder a surpresa em minha face.-Vamos as degustações. -Não foi uma pergunta e sim uma afirmação.Ele segura uma garrafa a abrindo com habilidade colocando um pouco do líquido em uma das taças que está sobre a mesa.-Veja esse é um vinho seco. -Ele se inclina me m
Layonel me acordou cedo para tomarmos café da manhã e seguir de volta para salvador. A viagem foi feita em silêncio, ele tentou frustrantemente me distrair com alguns assuntos aleatório, masnão funcionou, minha mente estava longe demais e viajar com meios de transportes aéreos não era o meu forte.Além disso os pensamentos da noite passada ainda estavam me atormentando e por mais que eu tente esconder o meu estado crítico e lamentável de espirito estava frustrada demais comigo mesma para conseguir. -Está tudo bem? –Seus lindos olhos verdes preocupado me encaram curiosos. -Sim. –Resmungo com um sorriso contido nos lábios. -Não é o que parece. –Ele murmura mais para ele do que para mim. -Meios de transporte aéreo não é o meu forte. –Culpo o helicóptero. -Algo além disso lhe incomoda Hana, é visível. –Ele comenta com a atenção voltada para frente. -Me desculpe. –Desvio o olhar observ
Surpreendo-me com o vestido e tenho certeza que não foi ele quem escolheu, pois o pouco que já aprendi sobre sua personalidade ele provavelmente não escolheria esse tom royal de azul, muito menos um estilo sereia com decote coração tão profundo que marca e ressalta exageradamente meus seios. A transparência no busto era coberta por pedrarias delicadas e finas que não deixava o visual sofisticado do vestido pesado, a transparência se estendia pelas costas até a altura da coluna lombar deixando minha pele expostas.Em outra ocasião jamais usaria um vestido desses, ele marca cada pequeno detalhe do meu corpo e isso de certa forma me incomoda. Me sinto exposta demais e agradeço a falta de fome nessa última semana que ocasionou a perda de alguns quilinhos a mais que ajudou a acentuar o vestido.As meninas trazem as sandálias de salto prata junto com um conjunto de brincos pequeno
Procuro focar minha atenção em outras coisas e me pego admirando decoração do local que por sinal é linda. Várias mesas se espalham pelo lugar em cores vinho e branco, havia um palco com uma pequena orquestra tocando músicas suaves e lentas, uma grande mesa se estende no meio do salão com vários aperitivos que aparentavam estar deliciosos, a bebida principal da festa é vinho tinto e champanhe como o esperado.Na verdade, é uma imensa e grande variedade de vinhos, de todos os tipos, até mesmo os que Layonel não havia me apresentado ou explicado, mas agradeço mentalmente por ter conhecido um pouco sobre a produção, pois assim consigo entender o que alguns deles estavam falando e comentando.Além dos vinhos uma grande variedade de queijos e cada um deles levava uma pequena plaquinha ao lado com o nome das uvas realçavam o seu sabor.Como esp
A muito tempo não dançava como hoje, mas Layonel é um excelente par e guiar sua parceira com excelência, então me envolvo de corpo e alma deixando que nossos corpos travem uma luta inconsciente ao ritmo da música. As pessoas a nossa volta nos observam admirados, mas não tenho tempo para prestar a atenção em seus olhares, apenas observo fixamente os intensos olhos verdes a minha frente. Assim que a música para Layonel envolve seus braços envolta da minha cintura colando nossos corpos, seus lábios para a centímetros dos meus e posso sentir seu hálito quente. Seu polegar acaricia minha bochecha suavemente e ofegante me pego encarando seus lábios mais do que deveria. Na verdade beija-lo agora seria algo realmente satisfatório, mas uma salva de palmas me tira do transe momentâneo de querer sentir seus lábios nos meus e acabamos nos afastando rapidamente. Ele segura minha mão novamente a erguendo e se curva em agradecimento aos aplausos, faço o mesmo totalmente env
Automaticamente seguro sua mão seguindo para a pista de dança e mais uma vez nos posicionamos. A música embala meus ouvidos e começamos a dançar lentamente, mas agora evito ao máximo olhar seus olhos fixando toda a minha atenção em seu peito. Tudo sai perfeitamente bem até ele me girar onde acabo me desequilibrando, antes que eu caia seus braços se envolvem em minha cintura me colocando de pé novamente. Me afasto evitando seus toques encerando a dança bruscamente. Antes que escute comentários desnecessários me viro para os olhares curiosos e assustados das pessoas a nossa volta. -Me desculpem acho que exagerei no vinho. –Sorrio em um ato inocente. As risadas tomam o salão e a compreensão fica explicita no olhar de cada um deles. -É senhorita nós te entendemos, como uma festa dessas quem não sai da linha. –As risadas aumentam. -Me desculpem. -Encolho os ombros rindo e saindo da pista rapidamente o deixando para trás. Não se deve