Capítulo 8

"Só porque alguém te machucou uma vez, não significa que tem que excluir totalmente de sua vida. As coisas mudam. Pessoas crescem."

Pretty Little Liars

Acordo com o despertador tocando, olho para o lado e vejo minha irmã dormindo como um anjinho, pensei "não tem jeito mesmo pra ela”. Sorrio por ela está bem. Chego mais perto e lhe dou um beijinho.

— Bom dia, minha princesinha — falo baixinho sem acordar ela.

Levanto e faço todas as minhas higienes matinais, escovo os dentes e já escolho uma roupa para o trabalho, mas deixo ela em cima da cama. Peguei uma calça de moletom cinza escura, e um moletom coral, tá bem frio hoje.

Desço as escadas e percebo que meu irmão está no telefone, fico em silêncio e vou até a cozinha fazer meu café.

— Quem está ligando nessa hora? — Pergunto ainda meio zonza de sono, só acordo direito depois do meu café.

— É só a Sara, nada de mais — responde e sorrio maliciosamente pra ele, mas logo volto ao normal.

— Eric, preciso falar com você sobre algumas coisas — digo e ele senta na mesma hora ficando o mais atento possível.

— Pode dizer — fala curioso me observando.

— Tá acontecendo tantas coisas que eu não consigo resolver, preciso de sua ajuda, sabe? — não fixo diretamente nele. Fico meio mal de falar sobre essas coisas, mas ele é meu irmão, a pessoa que mais confio e mais próxima de mim.

— Eu vou te ajudar em que você precisar, maninha — fala em um tom acolhedor. — Conta o que houve que a gente resolve.

— A Emily está direto perguntando sobre nossos pais e eu não sei mais o que dizer, Eric, não aguento mais repetir a mesma história, mas não tenho outra coisa pra falar — já sinto lágrimas no meu rosto.

— Bom, nós sabíamos que um dia isso iria acontecer, ela sempre perguntou, mas agora está mais curiosa — vem até mim e me abraça apertado. — Nós vamos dar nosso jeito, sempre damos.

— Eu não quero que ela sinta raiva deles, não quero que minha irmã fique com esse rancor pra sempre como vamos ficar. Mas também não quero mentir, não podemos mentir, ela tem que saber da verdade — sou sincera e ele balança a cabeça positivamente.

— Mas ela já sabe da verdade, Elena, nós só precisamos repetir a mesma história sempre que ela perguntar. Ela tem que saber que nosso pai nos abandou, ela não pode achar que foi um acidente como nossa mãe — ele continua. — Mas, me desculpe Elena, se ela ficar com raiva futuramente eu fico do lado dela. Sei que você prefere a paz e as coisas boas, mas nossa mãe foi maravilhosa, nosso pai foi um covarde que não merece o amor da gente.

— É, ela também tem direito de ficar com raiva — digo sem ter outra coisa pra falar.

— Calma, vai dar tudo certo, ok? — Ele passa a mão em meus cabelos. — Você tem mais alguma coisa pra me falar? — Acabo me lembrando do Thomas, mas não acho que seja a hora certa, cortar um assunto sério desses pra uma besteira como Thomas não é certo.

— Não, acho que é só isso mesmo — vou levantando, mas ele me puxa de volta.

— Eu sei que você tem, vamos, pode começar — arqueio a sobrancelha olhando pra ele, como pode alguém me conhecer tão bem?

— Olha, mais tarde nós conversamos de novo, ok? — levanto e ele revira os olhos.

— Tá, não vou te obrigar — assinto e ele balança os ombros com indiferença.

Fizemos as coisas de sempre. Levamos nossa irmã pra escola e fui trabalhar. Quando deu o horário de todos os dias a Sophia me pega e fomos pra faculdade, mas no caminho conversei com ela sobre Thomas, acabo me sentindo mal por não falar esse tipo de coisa pra ela, a Sophia sempre foi totalmente aberta comigo sobre tudo e eu a mesma coisa.

— Nossa, Elena, ele tá muito afim de você — ela diz após eu contar detalhadamente toda história pra ela, da hora que eu estava desenhando, da pracinha e das mensagens.

— Não está, Para com isso, Sophia. Eu só estou te falando porque não escondo nada de você, só isso — ela me olha e revira os olhos. — Ele continua sendo um babaca. Um babaca um pouco mais legal, mas continua sendo babaca.

— Sei... — rimos. — Olha, se eu fosse você, eu iria na sorveteria, até porque você não tem nada a perder. Escute o que ele em pra te falar — ela diz.

— Vou pensar, mas sinceramente não vejo nada que ele tenha pra falar comigo — falo olhando meu celular.

Em pouco tempo chegamos no campus e o assunto mudou pra outro assim que encontramos o restante do pessoal. Acho incrível como ficamos tão próximos em tão pouco tempo, já são meus melhores amigos, não sabia que isso era possível.

As aulas foram muito legais, desenhamos, tivemos aulas sobre tecidos específicos para tipos de roupas, sobre tipos de modas em lugares diferentes e entre outras coisas. Estou amando cada vem mais aprender sobre isso, cada detalhe me faz ficar mais apaixonada e tenho mais certeza que escolhi a coisa certa pra minha vida.

Quando terminou a aula fui ao encontro da Sophia junto com a Nat e a Charlotte.

— Gente, sério o Jason é muito perfeito — a Nat começa a falar do nada e rimos muito da cara dela.

— Você já disse isso tantas vezes, Natalie! — Charlotte fala e rimos mais. É verdade, ela vive falando de todas as perfeições do Jason. A carinha de bebê, a inteligência, as sardas encantadoras.

— Ele me chamou pra ir assistir aquele filme no cinema e é lógico que eu aceitei, até que fim ele vai tomar alguma atitude, se não tomar, eu mesmo beijo ele — estamos quase bolando de rir. — Vamos amanhã, acho que vai ser perfeito.

— Espera por ele não, doida, beija ele e pronto — aconselho.

— Vai dar certo, amiga, relaxa! — Charlotte diz.

— Falaram as experientes no assunto! — Sophia comenta e rimos. — Falando nele... — cruzamos os braços e paramos quando avistamos os dois chegando, Jason e Justin, dupla sertaneja.

— Então garotas, tenho um convite pra fazer pra vocês, irrecusável já adianto — Justin fala animado. — Bom, minha casa estava passando por uma reforma e fizemos uma piscina, como ficou pronta quero chamar vocês para inaugura-la esse fim de semana! Até agora, vai a Sophia, o Jason, vocês, o Thomas e o Henry (mais um amigo deles que conhecemos). E aí, topam?

— Claro que topam né amores? — Nat vira pra gente muito empolgada. — Topam, não topam?

— Eu estou transparente, vou sim — Charlotte responde.

— Eu tenho que ver com meu irmão, mas acho que dá certo — digo com um pouco menos de empolgação que as duas.

— Ela vai sim, tá Justin. Ela que fica se fazendo como se o irmão dela proibisse — Sophia diz rindo e eu reviro os olhos.

— Se ela não for, a gente vai buscar leva puxando pelos cabelos. — Nat diz e rimos muito. Essas garotas são doidinhas.

— Gente, eu sei que sou muito legal, que vocês me amam, relaxem — começo a me achar.

— Ok galera, agora eu e Elena temos que ir, pois ela tem um compromisso muito importante á noite, não é Elena? — ela diz se referindo ao Thomas.

— Talvez né, Sophia, deixa de ser emocionada — falo.

— Hum, Elena cheia dos compromissos — Jason bate no meu braço falando com uma voz engraçada e rio.

— Vocês são uns exagerados — digo. — Então vamos logo, Sophia? — Ela passa o braço pelo meu e vamos andando até o carro.

Entramos e percebi a cara da Sophia meio estranha, não estranha ruim, mas ela está escondendo alguma coisa. Quando ela dar partida, olho pra ela direito e resolvo perguntar.

— Que foi, em? — Na hora que pergunto ela sorrir e começa a gritar. — Amiga, quero chegar viva em casa!

— Ele me pediu em namoro! Acredita nisso? — Ela diz com muita empolgação. — Não falei nada lá na hora, porque ele pediu pra falar no dia da festinha, então tipo, eu estou muito animada, precisava falar pra você — ela grita mais alto ainda.

— Até que fim você finalmente superou o anterior — ela quase engasga só de lembrar, eu começo a rir. — Parabéns, que bom que você está feliz.

— Você vai falar com o Thomas, não vai?  — ela baixa o tom da voz.

— Achei que o assunto era sobre você, não sobre mim — me olha com desgosto e rio. — Vou — ela dá um sorrisinho de lado. — Só porque você me obrigou, viu? Se for péssimo se sinta culpada.

— Te obriguei a nada — ela brinca.

— Praticamente tá me levando pelos cabelo — continuo a brincadeira e rimos.

Ela para na minha casa, me despeço e quando entro meus irmãos estão.

— Boa noite, amores — digo dando um beijo em cada um.

— Boa noite — meu irmão responde me analisando. — Por que tá tão carinhosa? E benevolente? Tá com pressa?

— Acabou o interrogatório? — Roubo uma garfada do prato dele.

— Tenho que dá uma saidinha, você cuida da Emily? — Pergunto quando engulo.

— Sim, mas pra onde você vai? — Ele continua me olhando estranho cheio de curiosidade.

— Deixa ela, Eric, ela vai atrás de um namorado — a Emily fala antes de mim e ficamos boquiabertos com ela.

— Ei mocinha, deixa de coisa e come — digo apontando para o braço dela. — Cada coisa que sou obrigada a escutar.

— Também acho viu, Emily — Eric concorda olhando fixamente pra mim.

— Vocês as vezes são insuportáveis! — Digo subindo as escadas pra me arrumar.

— Você não negou, né? — Eric grita quando já estou lá em cima, volto, desço as escadas só pra jogar uma almofada na cara dele.

Tomo um banho e começo a procurar uma roupa. Visto uma calça e uma camisetinha branca bem simples mesmo, arrumo meu cabelo deixando-o solto um pouco volumoso e passo apenas um rímel com um batom rosinha. Calço um tênis pra fechar o look e pronto. Eu amo looks simples, apesar de ter esse amor pela moda, amo coisas assim. Penso em colocar uma sobreposição, mas desisto.

— Já estou saindo, viu Eric — aviso pegando minha chave e meu celular. — Cuida da minha irmã!

— Tá certo — ele vem me abraçar. — Quando chegar vai me contar tudo, viu? — Faço careta pra ele.

— Tchau — digo ignorando o que ele falou, dou um piscadinha e saio.

O Grill é até bem perto da minha casa, então vou a pé mesmo. Quando chego lá penso antes de entrar, espero não me arrepender disso, tem que ser a coisa certa. Minha mãe certamente saberia o que eu deveria fazer numa situação dessas. Respiro fundo e assim que entro vejo ele de costas sentado mexendo no celular. Seu cabelo meio bagunçado como sempre, a calça jeans e uma camisa preta, que deixa ele com um aspecto arrumado. Sorrio boba por estar prestando atenção nisso. Ele olha pra mim, sorri e faz sinal pra eu me aproximar, então faço isso e sento.

— Oi — eu falo tímida colocando minha bolsa no encosto da cadeira.

— Oi, tudo bem? — Ele sorrir me deixando mais confortável.

— Tudo sim.

— Eu tinha certeza que você não ia vir — ele diz e retribuo o sorriso.

— Mas cá estou eu — bem nessa hora o garçom chega e pedimos dois sorvetes e uma batatinha frita. Quando o garçom sai fico esperando ele falar.

— Elena, eu quero que você me enxergue como aquele garoto que você falou da sua vida, o garoto que você chorou e enxugou suas lágrimas e que te fez se sentir melhor... — acabo interrompendo ele.

— Por que você está preocupado em como eu enxergo você? — pergunto sem entender, ele nem liga pra mim.

— Porque eu fui um babaca quando te vi pela primeira vez — balanço a cabeça positivamente e deixo ele continuar. — Eu não sei porque me incomodo tanto com isso, mas não consigo dormir se você não me falar que está tudo bem, que me perdoa.

— Thomas, você não precisa disso — estou quase me arrependendo de ter vindo. — Olha só, eu sei que você não liga, deixa isso pra lá, tá tudo bem.

— Como assim eu não ligo? Eu te chamei aqui, de madrugada por mensagem, é claro que eu ligo, não sou esse monstro também, Elena — me sinto mal por ele achar que eu penso que ele é um monstro.

— E não acho isso, só não sei se você tá apenas fazendo isso por se sentir mal, por mim, por saber da minha vida que eu nem deveria ter falado nada — sorrio sem olhar pra ele. — Não quero que você force nada.

— Para com isso, eu não estou forçando, por que é difícil de entender que eu gosto de você? — Olho pra ele com essas palavras, está completamente fixado em mim, seus olhos verdes brilham e contrastam com tom rosado da sua boca.

— Bom, eu acho que você merece uma segunda chance — não consigo dar outra resposta, ele tem um certo poder sobre mim que não sei explicar.

— Obrigado — responde ainda do mesmo jeito, somos interrompidos pelo nosso pedido chegando. — Você fica linda com vergonha — fala assim que o garçom sai.

— Para, antes que eu desista — digo e ele sorri. — Não ache que isso fez eu gostar mais de você — acrescento.

— Ai, o que eu preciso fazer pra você gostar mais de mim, então?

— Não é assim que as coisas funcionam — tomo uma colherada do meu sorvete e um silêncio bom se forma.

— Escuta essa música, quero uma opinião — ele interrompe colocando uma música em seu celular.

— É um dos seus covers? — pergunto.

— Sim — diz colocando um dos fones em seu ouvido e me entrega o outro.

— Quem é a voz feminina? — pergunto assim que o vídeo acaba. — Nossa, eu amei a voz feminina, quer dizer, a sua também — ele sorri.

— É da minha irmã, tudo bem, ela realmente é muito talentosa.

— Você tem uma irmã? E os dois cantam juntos? Que lindos — digo e ele fica envergonhado.

— Na verdade ela ensaia comigo, não participa dos clipes, nem nada. Ela é bem tímida na maioria das vezes. Nesse caso foi só o ensaio, quero alguém pra gravar comigo — fala concentrado e depois guarda o celular.

— Não sei porque a vergonha, vocês são muito talentosos.

— Obrigado! Eu já falei pra ela, mas não tem jeito. Você gravaria comigo? Faria uma participação em meu canal? — Ele questiona e fico boquiaberta. Ele tá doido? Nem nos conhecemos direito. Ele já me ouviu cantando? Sou um desastre.

— Eu? Mas eu nem sei cantar! — Respondo apenas.

— Claro que sabe — franzo o cenho, é impossível ele saber disso, está falando pra me agradar. — Quer dizer, nada que uns ensaios não resolvam — rio com a forma que ele reformulou a frase.

— Sei não, viu... O que eu ganho com isso? — Pergunto rapando meu sorvete quase todo finalizado.

— Ah, já tem interesses? — Sorrio balançando a cabeça pra baixo e pra cima. — O que você quiser.

— Que erro, dizer pra mim que posso escolher o que eu quiser — agora ele faz uma cara de assustado. — Tudo bem, mas se você perder fãs não é culpa minha.

— Duvido isso acontecer — comenta comendo uma batatinha.

Mudamos de assunto, começamos a falar sobre coisas da nossa vida. Descobri mais sobre seus talentos, que ele canta desde criança, entre outras coisas. Enfim, fomos um dos últimos a sair do estabelecimento, os garçons já estavam com cara de mal pra gente, já que não pedimos mais nada, só ficamos ocupando a mesa jogando conversa fora.

— Quer que eu te deixe em casa? — Questiona quando saímos do Grill.

— Não precisa.

— Eu faço questão, por favor — reviro os olhos com essa cena clichê.

— Desde quando playboyzinhos ricos são cavalheiros? — provoco quando começamos a andar pela calçada em direção a minha casa, descobri que ele também veio a pé. — Calma, playboyzinhos ricos andam a pé?

— Para! — Ele manda e começo a rir da cara dele. — Você é barraqueira e nem fico repetindo isso.

— Depois de eu cortar, né? Porque você amava.

— Então você pode me chamar de playboyzinho rico e eu não posso te chamar de barraqueira? — Ele para de andar e fica na minha frente.

— Exatamente! — Respondo empurrando ele pra sair do meu caminho.

O que falar desse encontro? (Isso foi um encontro?) Bom, no começo eu fiquei meio tímida, mas depois o momento ficou muito agradável. Na verdade eu queria que o tempo parasse por algumas horas para ficarmos mais um tempinho juntos. Conversando melhor com ele, eu descobri que ele não é mesquinho como se mostrou no primeiro dia, na verdade ele é bem fofo, porém gosta da fama que tem. É só um metidinho de merda, playboyzinho rico, talvez eu tenha aprendido a gostar só um pouco dele.

Chegamos em frente à minha casa e paramos de andar. Ele me analisa um pouco, mas fico envergonhada, devo estar vermelha, então acabo quebrando o silêncio.

— Tchau — falo.

— Tchau — ele diz e me dá um beijo no rosto.

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