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Capítulo 2. Dor

一 Filho, se acorde.

Eu sentia um leve balanço no meu corpo, a voz da minha mãe tinha preocupação, será que já tinha passado a hora da escola e ela tava me chamando por isso? Abrir meus olhos com dificuldade pelo sono em que eu estava e quando olhei ao redor estava escuro, o dia não tinha acabado e nem amanhecido, só se passaram algumas horas desde que larguei da escola, fazer esforço com o pulso cortado foi a pior coisa, ele doía como se eu tivesse acertado numa veia, mas de todo modo eu ignorei a dor e me sentei olhando incrédulo para a minha mãe e o meu pai que estava na porta do meu quarto.

一 Mãe, o que foi? 一 Minhas palavras saíram quase num sussurro.

一 Você está queimando em febre filho 一 Ela me tocou e ao seu lado tinha o termômetro.

一 Eu não acho que eu esteja, talvez seja só calor 一 Tentei acalmá-la porque ela estava desesperada.  

一 Você está todo suado, deixe-me colocar o termômetro 一 Ela se aproximou de mim rapidamente e colocou o termômetro sem que eu nem percebesse. 

Olhei o horário no relógio e depois de dois minutos o termômetro apitou, não deixei a minha mãe tirar, eu mesmo fiz, e me surpreendi com os graus que marcava nele, pensei na possibilidade do tétano, mas era quase nula já que a lâmina estava limpa e não estava enferrujada ou com qualquer outra coisa que pudesse causar isso em mim, mas a resposta eu sabia qual era, era apenas uma febre emocional, resultado de um péssimo dia escolar. 

一 Eu vou ficar bem, mãe 一 Olhei para o termômetro marcando 39° graus e tentei tranquilizá-la.

一 Aqui está o remédio 一 Ela me entregou o pequeno comprimido e um copo de água que eu não sabia de onde tinha saído, mas eu não queria discutir então tomei em um único gole.  

一 Muito bem, querido. Você quer jantar conosco? 一 Sugeriu.

一 Obrigado, mas estou sem fome, mãe. 

一 Se precisar de algo, é só me chamar! 一 Ela piscou e se retirou do meu quarto. 

Sentei na cama e suspirei, eu não queria ser para sempre assim, eu queria revidar, mas ele era claramente mais forte do que eu, e ainda tinha os cachorros na sua cola, será quase impossível tocar em um único fio de cabelo do Mark, além de ser um jogador, ele é lutador e alguém como eu não é nada comparado a ele. Respirei fundo e me inclinei um pouco para frente e percebi que a luz do quarto da Emilly estava ligado, as vezes eu tinha uma enorme vontade de perguntar o porque de uma garota aparentemente gentil está fazendo com um cara como o Mark, a resposta era clara, as garotas sempre vão preferir os mais errados. 

Peguei meu celular e nele tinha várias mensagens do Brendon, aparentemente ele estava bem, ele era o único que não sofria tanto com isso, e eu só queria que ele ficasse em paz, até porque não foi ele que estourou a bola do Mark no quinto ano e sim eu, mesmo não sendo proposital, o cara guarda mágoas e rancor de mim até os dias atuais, e já se passaram anos. Resolvi ignorar todas as suas mensagens e deitar mais um pouco, eu não estava com um pingo de sono, e dessa vez eu ficaria acordado por bastante tempo.

Liguei a televisão que tinha no meu quarto e diminuí o ar-condicionado, um anime aleatório passava na televisão o que para mim era novidade. Passei bastante tempo assistindo outros programas na televisão e quando olhei novamente para o relógio já eram dez da noite, a fome apertou e eu tinha certeza de que os meus pais já tinham se retirado, então eu não corria o risco de ter que responder algumas perguntas. Abri a porta lentamente e tudo estava escuro, por debaixo da porta dos meus pais saiam uma fresta de luz, era provável que eles estivessem assistindo um filme como sempre faziam a noite.

Abri a porta da geladeira e me deparei com um bolo de chocolate, que por sinal já estava partido em fatias para facilitar o meu trabalho, peguei um prato e um garfo e assim me servi, bolo de chocolate era a especialidade da minha mãe, eu estava morrendo de tédio enquanto comia o bolo e então resolvi responder as mensagens do Brendon, talvez ele não me respondesse a essa hora da noite, mas eu sabia que diferente de mim, ele não tinha dormido a tarde, e bingo, assim que abri a nossa conversa ele estava online. Diferente de mim, ele tinha outras pessoas fora da escola, pessoas que também eram amigos dele, e isso me deixava feliz, seria egoísmo se eu dissesse que não queria que ele tivesse outros amigos e um tanto tóxico também, mas na realidade eu queria que ele não fosse o meu amigo, ele era legal demais para sofrer junto a mim. 

‘’por que está acordado a essa hora?’’ 一 Indaguei ignorando suas mensagens anteriores. 

‘’por enquanto eu não estou com sono, mas posso saber o por que você também está? 一 Agora foi a vez dele de me perguntar.

‘’Acabei dormindo quando cheguei da escola, e me acordei a algumas horas atrás’’ 一 Respondi omitindo algumas coisas.

‘’Mas tá tudo bem com você?’’ 一 Era evidente a sua preocupação, mas como todas as vezes eu mentiria novamente.

‘’Sim, apenas uma febre leve, nada que possa preocupar’’ 一 Avisei

‘’Então amanhã você não vai a escola, não é?’’ 

‘’Provavelmente não.’’

‘’Eu não quero ficar sozinho''

‘’Se eu não estiver você está tranquilo, vá sem medo que não te farão mal algum, agora vou desligar’’ 

Não esperei a sua resposta e rapidamente desliguei a internet do meu celular, lavei o que eu sujei e ao olhar pela janela da cozinha percebi o quão linda a noite estava, e nada melhor do que sentar em um banco para observar ela. Meu corpo ainda estava quente, mas se eu fosse para fora de casa, talvez o frio da noite regularizasse a minha temperatura corporal, até porque eu não estava tão mal assim. Um calafrio percorreu por todo o meu corpo assim que eu abri a porta da frente, a rua não era perigosa, era uma rua tranquila e às vezes alguns casais ficavam nela até a madrugada, portanto não tinha perigo de ficar sozinho nela. 

Me arrependi por não ter trazido um moletom comigo, eu sentia o meu corpo queimar de calor no frio que estava, e eu quase cogitei a ideia de voltar para dentro até uma voz me fazer querer ficar, e ao olhar para o lado, franzi o cenho como se eu não estivesse acreditando no que estava acontecendo e vendo, Emilly estava parada ao meu lado me olhando com uma cara de cachorro pidão. 

一 Posso sentar? 一 Ela perguntou com a sua voz calma.

一 C-claro 一 Praguejei por um minuto por ter permitido que minha voz falhasse e gaguejasse uma pequena palavra perto dela, mas a garota apenas sorriu e se sentou ao meu lado ignorando completamente a minha pequena ‘’gagueira’’.

O silêncio se manifestou no local, e uma dor absurda subiu pelos meus ouvidos por causa do lugar silencioso até ela falar novamente.

一 O que faz aqui a essa hora da noite? 一 Ela me perguntou e eu hesitei em falar.

一 Vim observar a noite. Mas e você? 

一 Também 一 Ela respondeu me olhando surpresa e eu apenas fiquei calado voltando a observar o céu estrelado daquela noite fria e escura. 

一 Como tá a sua cabeça? 一 A garota novamente puxou um assunto que eu não estava mais lembrado, até que no impulso eu toquei, o que me fez recusar e dar um leve gemido de dor. 

一 Minha nossa 一 A garota disse basicamente pulando para ver como estava a minha cabeça, mas o seu suspiro de alívio me fez ver que estava tudo bem, apenas dolorido o local. 

一 Você está bastante quente 一 Ela sussurrou me deixando arrepiado. 

一 É só febre 一 Sem que eu percebesse minhas palavras saíram brutas e a garota recuou voltando para o seu lugar ao meu lado.   

一 Desculpe.

一 Não é necessário se desculpar. 

一 É minha culpa isso 一 Ela baixou o olhar. 

一 Se sabe que tem uma pequena parcela de culpa, porque ainda está com ele? 一 Ela me olhou rapidamente assustada procurando uma resposta, mas nada saiu de sua boca e então eu suspirei. 

一 Até mais, Ryan 一 Foram as suas últimas palavras até que ela se levantou e caminhou novamente para a sua casa. 

Ela era outra pessoa quando estava longe dele, era como se fosse uma máscara que ela só usava para se sentir bem perto do seu namorado e do restante dos seus amigos, ela era uma garota fútil que só se importava com o que as pessoas pensam, e não com o seu verdadeiro pensamento 一 a Emilly criança ficaria decepcionada com a Emilly atual. 

O céu já não tinha mais graça para mim, respirei fundo e voltei para dentro de casa, depois de me certificar que tudo o que eu tinha aberto agora estava seguramente fechado, voltei para o quarto me jogando e a primeira coisa que fiz foi ir em direção a janela para fechá-la, e coincidência ou não a Emilly também estava fazendo a mesma coisa. A garota sorriu azedo e acenou para mim, fechando então de vez a sua janela. 

***

Quando abri os olhos nessa manhã, a primeira visão que tive foi da minha mãe medindo novamente a minha temperatura, sentei na cama e quando apitou eu mesmo tirei, a febre baixou um pouco, diferente de ontem a noite, agora estava vêm 38° graus, eu só precisava descansar um pouco mais para melhorar de vez e voltar a escola.

一 Quanto deu? 一 Ela me perguntou olhando para a minha mão.

一 38° graus celsius. 

一 Tome esse comprimido e descanse 一 pediu novamente me entregando a pequena pílula.

一 Então não preciso ir hoje a escola? 一 Perguntei fingindo estar triste, mas a realidade era outra.

一 Não meu bem, agora irei trabalhar e tentarei chegar o mais rápido possível para acompanhar você. 

一 A senhora não precisa se preocupar comigo mãe 一 Pedi

一 É natural que eu me preocupe, agora descanse que sairei para trabalhar. 

一 Bom trabalho, mãe 一 Desejei.

一 Tenha um bom dia filho 一 Ela deu um beijo em minha testa e assim saiu. 

Deitei por uns minutos novamente e me perguntei o que eu faria nesta manhã já que eu não iria para a escola e a resposta era clara 一 eu ficaria a manhã e a tarde inteira assistindo animes e me esqueceria do restante do mundo até o dia seguinte. Peguei a minha toalha e segui para o banheiro e assim que cheguei, parei novamente em frente e olhei o meu estado, eu estava melhor do que ontem. Me desfiz das minhas roupas e entrei no box, e enquanto a água caia, percebi que os cortes não doíam mais, o banho ia ajudar a regular a minha temperatura corporal me fazendo estar melhor para um dia torturante na escola amanhã. 

Passei mais de vinte minutos no banho e como tinha costume de levar a roupa, já sai arrumado e fui direto para a cozinha, por um minuto me distrair olhando para a rua e quando percebi, a Emilly estava passando bem em frente, nossos olhares se encontraram e então ela sorriu, eu estava confuso com o seu gesto, mas então retribui, e ao olhar para o relógio, ele ainda marcava sete e meia da manhã, e da nossa rua até a escola não era nem dez minutos andando, então ela não se atrasaria. Peguei o prato limpo na pia e fui em direção a geladeira pegar mais um pedaço de bolo de chocolate e fui novamente para o meu quarto. 

A primeira coisa que eu vi foi um documentário sobre o massacre que aconteceu na escola de Columbine, no colorado no Estados Unidos em 20 de abril no ano de 1999 por dois estudantes de 17 e 18 anos de idade. A dupla chegou a assassinar a sangue frio treze pessoas e deixar 24 outras feridas, os policiais falaram que eles tinham armamentos e munições o suficiente para acabar com a vida de todos os que estavam dentro daquela escola, e eu me perguntava o porque eles não fizeram. Às vezes depois de tudo o que eu passei eu procurava uma maneira de me vingar, mas com certeza eu jamais mataria alguém, era evidente que os assassinatos foram causados por pura maldade e perversidade da parte deles e isso não me chocava, o mundo realmente estava cada vez mais cruel. 

Quando o documentário terminou fui assistir um filme de comédia para aliviar a tensão do meu corpo e funcionou porque aquilo me fez esquecer por hora todos os meus problemas e eu ficava grato por aquilo, olhei para o relógio em cima da TV e percebi que já iam dar dez horas do dia, para a minha sorte a minha mãe sempre deixava todas as refeições prontas, exceto o jantar que ela gostava de preparar na hora, senti meus olhos pesarem e então eu decidi que tirar um cochilo seria a melhor opção para mim. 

‘’Eu corria desesperado pelos corredores brancos do hospital com o seu corpo ensanguentado, Emilly estava nos meus braços perdendo a sua consciência enquanto eu implorava para que ela permanecesse comigo, mas antes que eu pudesse entrar numa sala para salvá-la, ele novamente aparece com uma arma em sua mão e naquele momento eu sabia que seria o nosso fim, e Bang, o disparo da sua arma de fogo acertou em cheio o meu peito me fazendo cair no chão com o corpo inerte da Emilly.’’

Eu sentia o meu corpo suar por todo os lugares que existia nele, me levantei da cama em um pulo e quando percebi eu ainda estava deitado na minha cama e o filme já tinha chegado ao fim, mas não só isso, a campainha tocava e o relógio já marcavam uma hora da tarde, eu tinha dado mais do que um cochilo e tudo aquilo não se passou de um pesadelo que eu jamais iria querer que acontecesse. 

一 JÁ VAI 一 Gritei do corredor para quem quer que fosse que estivesse tocando a campainha ouvir. 

Caminhei em direção a porta e quando olhei pelo olho mágico para a minha surpresa era o Brendon, que olhava por todos os lados parecendo que estava devendo a alguém, e o suspiro de alívio que ele deu quando abri a porta foi facilmente percebido. 

一 Você tá bem cara? 一 Indaguei confuso. 

一 Sim, me deixa entrar por favor 一 Ele basicamente implorou e então eu estranhei, será que alguém estava seguindo ele para bater nele? Permite a sua passagem e antes que eu pudesse perguntar algo a ele, ele correu em direção ao banheiro e a porta foi trancada de uma maneira muito rápida. 

Sua atitude me deixou preocupado, por mais que ele estivesse passando por algo super complicado e difícil, ele sempre me dizia primeiro e nunca tinha esse tipo de atitude. Sentei-me no sofá e fiquei encarando o banheiro e o relógio fixamente, dois minutos tinham se passado e a preocupação só aumentava, não dava para ouvir nada que vinha de dentro do banheiro e eu já estava cogitando a ideia de abrir a porta usando a força que eu não tinha para ver o que aconteceu quando ele finalmente apareceu me deixando aliviado. 

一 O que aconteceu com você? 一 Perguntei preocupado e o rapaz apenas respirou.

一 Diarreia, ainda bem que você apareceu 一 Brendon deu dois tapinhas em sua barriga o que me fez rir.

一 Você me preocupou bastante cara, não faça mais isso 一 Pedi

一 Se eu parasse para falar acabaria melando as calças 一 Ele disse parado.

一 Igual a como você fez quando éramos criança no parque de diversão logo após ver um palhaço 一 Eu gargalhei com uma pequena lembrança da nossa infância, quando tudo ainda era bom. 

一 Mas não fui eu quem vomitou após comer um algodão doce 一 Ele também sorriu travesso. 

一 Aquele tempo era muito bom, pena que não volta mais 一 Comentei.

一 Infelizmente cara, mas devemos aproveitar o agora, e agora eu te trouxe uma atividade de inglês para que você faça. 

一 Claro que você não veio aqui só para defecar 一 Revirei os olhos.

一 Vamos para o meu quarto 一 Chamei e o garoto foi o primeiro a ir para o corredor do quarto. 

Para a minha sorte ou a sorte do Brendon que odiava bagunça, o quarto estava todo organizado desde a última vez dois dias antes das férias na qual ele veio e arrumou o meu quarto, às vezes ele parecia um irmão mais velho e perfeccionista que odiava a bagunça que o seu irmão mais novo fazia, mas acontece é que éramos da mesma idade com diferença de quinze dias, de toda forma ele ainda era um pouco mais ‘’velho’’, mas não algo para ficar surpreso já que eram apenas dias, era como se as nossas mães combinasse de ter os seus filhos no mesmo mês. 

一 Cadê o seu caderno? 一 Ele perguntou procurando a minha mochila.

一 Vou pegar, está dentro do guarda roupa. 

一 Tudo bem 一 Ele disse sentando-se na minha cama e tirando o seu caderno. 

Quando peguei a minha mochila, fui direto para a cama e me joguei em cima dela quase batendo nele, o que o fez revirar os olhos e apontar o pequeno texto no qual a professora passou para que pudéssemos ajeitar os erros que estavam visíveis nele. Abri na matéria vazia de inglês e comecei a escrever entediadamente, quando o Brendon chama a minha atenção perguntando se ele poderia jogar em meu computador, ele sabia que podia e que eu não me importava com ele mexendo nas minhas coisas, mas ele era um rapaz muito educado e que desde cedo a sua mãe o ensinou a pedir antes de meter a mão.

一 Você sabe que pode, não precisa me perguntar e sabe disso 一 Revirei os olhos e ele sorriu ladino.

一 Sabe que não gosto de meter as mãos nas coisas dos outros, diferente daquele pessoal da escola. 

一 Em falar na escola como foi hoje? 一 Perguntei curioso.

Bom, Mark fingiu que eu não existia, a Emilly parecia estranha, como se ela fosse forçada a aguentar aquilo tudo e a Helena, bom, a Helena estava gostosa 一 Ele falou como se estivesse lembrando dela. 

一 Você ainda é apaixonadinho por ela 一 Brinquei, mas de certa forma aquilo era verdade, já que as vezes ele demonstrava sentir uma certa atração pela garota e isso não me restava dúvidas de que ele realmente gostava dela, mesmo tentando reprimir. 

一 Claro que não, ela namora e 一 Parou no meio da frase e voltou a atenção para o computador.

一 E? 一 Perguntei.

一 Ela nunca sentiria atração por mim 一 Completou a frase e aquilo me deu um certo desânimo.

一 Ela seria uma idiota se não sentisse nada por você.

一 Idiota 一 Ele riu e voltou novamente para o computador.

O Brendon era um cara bastante bonito, eu não falava isso por ele ser o meu melhor amigo, mas sim pelo seu porte físico. Seus cabelos ondulados castanhos claros era de se fazer inveja a qualquer um, assim como os seus olhos meio esverdeados, as barrocas que entravam quando ele sorria trazia um charme para o meu melhor amigo, e se a Helena não sentisse nada por ele se fosse próximos ela realmente era uma idiota. Voltei a escrever o grande texto de duas folhas quando um barulho em particular me chamou a atenção, era como se fossem gritos, mas ao parar para escutar direito percebi serem gemidos e esses vinham do quarto da Emilly que tinha a sua janela trancada e coberta pela sua cortina. 

As vezes isso acontecia, não era com tanta frequência mas acontecia, eles sempre eram muito escandalosos na hora de fazer sexo, o que não havia necessidade para isso, porque sempre me deixava desconfortável sem falar que os outros vizinhos sempre reclamavam para os seus pais que acabavam dando uma baite de reclamação na garota, mas aquilo não servia de muita coisa já que ela sempre volta a fazer de novo e de novo. Liguei o som que ficava ao lado do meu computador e aumentei o máximo que pude, o que fez Brendon remover o fone rapidamente e me olhar confuso.

一 Estão transando de novo? 一 Ele perguntou com o cenho franzido.

一 Estão e estão atrapalhando o meu quase exercicio 

一 Só incomoda porque você gosta dela 一 Brincou.

一 Volta a jogar quietinho, por favor. 

Ele voltou a prestar atenção no jogo enquanto eu me concentrava em fazer o texto, depois de trinta minutos eu tinha acabado e chamado o Brendon para comer a macarronada que minha mãe havia deixado na geladeira e o garoto aceitou, o som alto já estava me dando dor de cabeça quando resolvi desligar, não era possível que depois de quase quarenta minutos eles não estivessem acabado ainda, mas eles acabou e no lugar de gemidos, passou a ser gritos, mas não gritos de prazer e sim de briga, o que também era normal já que algo sempre irritava ela e ele tentava culpá-la por algo que era unicamente e exclusivamente culpa dele. 

一 Brigas no paraíso 一 Brendon ironizou

一 É, aparentemente sim.

一 Eu não entendo o que uma menina legal faz com um cara como ele 一 Ele disse girando na cadeira.

一 Me perguntei a mesma coisa e não obtive resposta. 

一 Talvez ela goste de sofrer.

一 É, talvez sim, mas só eles dois sabem o que acontece dentro do relacionamento deles, mas vindo do Mark, acho que não vem coisas boas 一 Suspirei. 

Continuamos a conversa e logo após a nossa refeição ficamos jogando vídeo game até o anoitecer, onde ele jantou comigo e com os meus pais, e quando deu oito da noite, a sua mãe veio buscá-lo, prometemos nos encontrar no próximo dia na escola e assim seria feito, meu dia terminou melhor do que o anterior e eu agradecia ao Brendon por isso. 

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