Capítulo 4

Eu não ergo os meus olhos depois que ele me olha e se senta.Minha mãe se levanta e John diz que vai ajudá-la. Eu respiro fundo,não posso deixar tão óbvio meu desconforto,já que parece que para ele eu não causo desconforto algum e isso de alguma maneira me entristece. 

Eles voltam, colocam duas formas de vidro sob a mesa e minha mãe parece maravilhada quando diz:

__Uma receitinha nova que criei. 

Eu olho para as formas e tudo parece realmente apetitoso e cheira muito bom, então digo:

__Parece ótimo, mãe.

John diz me fazendo olhar em sua direção:

__Parece sim,amor.

Então ele a beija no rosto outra vez. Queria não ter que ver essas coisas por muitos motivos,mas acho que vou ter que me acostumar,então desvio meus olhos e minha mãe começa a nos servir. Enquanto comemos, minha mãe diz:

__Seu pai me disse que ganhou um prêmio de melhor redação da escola, querida,parabéns.

Isso me pega de surpresa, não reajo muito bem a elogios,me deixam tímida toda vez. Meus olhos vão para os da mamãe que parece orgulhosa e depois para John que parece um pouco surpreso pleo que ouviu e eu volto a olhar para ela quando digo:

__Obrigada,mas não foi nada de mais.

Minha mãe continua a falar sobre como ela também adorava redação e criação de textos e poemas e como não dedicou mais tempo a isso por causa do trabalho e do canal de culinária. Eu apenas observo como John parece tão maravilhado e fascinado com cada palavra que ela diz, dá pra ver que ele gosta muito dela e que rua era uma boba se alimentasse essa queda que acho que tenho por ele.

Ele então olha na minha direção, me pega os observando e eu desvio meus olhos novamente para a comida e quando ergo,só olho na direção da minha mãe. Isso continua por diversas vezes e eu não sei o que fazer para me sentir confortável perto dele assim.

Assim que terminamos de comer,minha mãe recolhe tudo da mesa e eu digo me oferecendo:

__Posso lavar as louças.

Ela diz:

__Oh não querida,não precisa, você está cansada da viagem e...

Eu apenas digo:

__Tudo bem,mãe,já estou acostumada com isso e quero ajudar.

Acho que ela ainda não sabe muito bem como lidar comigo,foram muitos anos separadas e nos vendo apenas em algumas datas. Então ela resolve me deixar agir como estou acostumada e apenas sorri dizendo:

__Tudo bem então. Estarei no escritório,tenho que preparar o roteiro do vídeo de hoje mais tarde. 

Estou começando a lavar as louças quando John se aproxima e diz:

__Eu ajudo.

Eu digo:

__Não precisa.

Não mesmo,por muitos motivos que incluem eu ficar extremamente sem jeito perto dele,esse perfume maravilhoso que ele tem que me faz ficar pensando coisas que eu não devia e mais outros inúmeros problemas que me trariam a presença dele. Mas eu escolho não dizer isso a ele,claro.

Na verdade eu não quero ele tão perto assim,porque sua presença me deixa totalmente  sem jeito e acho que deixo isso meio óbvio,mas ele ainda diz:

__Eu insisto. 

Ele e minha mãe trocam olhares que eu não faço ideia do que significa e ela diz que o espera depois que ele terminar. Ele sorri para ela mordendo os lábios ao fazer isso e eu não quero nem imaginar o que isso significa,mas faço uma idéia. O problema é que eu sei sim e não gosto nem um pouco de estar com esse sentimento estranho a respeito disso.

Eu conheço o cara a menos de duas horas e estou sentindo  como se o conhecesse e o desejasse há um bom tempo. E isso inclui ficar com ciúmes dele como está parecendo que estou agora.

 Isso tem que passar,ainda mais porque sei qual o motivo de ele ter ficado aqui,ele só quer bancar o namoradinho da mãe que se dá bem com a filha dela. Então esse vai ser o motivo para eu começar a detestar ele,vai ser agora. Sei que é assim que as pessoas tentam se aproximar umas das outras,ficando um tempo juntas e conversando sobre algo trivial que talvez possam ter em comum para tentar uma ligação mais próxima.

Mas assim que começamos a lavar as louças e eu as entrego para que ele as enxugue,ele não começa a elogiar o fato de eu querer ajudar,ou sobre como me dou bem com a minha mãe, ou até mesmo sobre o prêmio ao qual minha mãe mencionou durante o almoço.

Ele só parece me olhar por um longo tempo,pelo que vejo pelo canto do olho, então ele pergunta:

__Você está bem?

Por que ele tem falar tão devagar assim com essa voz rouca e sexy? Ah é,até esqueci que ele é cantor e sabe usar a voz muito bem. Agora estou curiosa para ouvir ele cantando e...

Volto para a realidade em que ele me encara esperando uma resposta, enquanto eu como sempre voava em pensamentos e o encarava de volta. Eu digo:

__Desculpa.

Ele parece mais confuso ainda e me olha quando eu respondo prontamente:

__Estou bem sim.

Ele parece me estudar um pouco mais como se quisesse me entender. Sei que ele só está preocupado com o que aconteceu. Não deveria estar agindo diferente,quem chegou complicando tudo fui eu e é claro que ele estaria preocupado,em sua situação eu faria o mesmo.

Eu queria agir normalmente como a enteada filha da sua namorada que não está nem aí para ele e que não vai dar trabalho algum,mas parece que estou agindo como se a presença dele fosse de alguma forma ruim e ele precisasse ficar me perguntando o tempo todo se estou bem para não estragar o relacionamento perfeito que há entre eles.

Eu sempre pareço estar no meio da vida das pessoas,atrapalhando para ser mais exata e eu não quero mais ser assim,não mesmo.

Então eu finalmente lhe entrego o último prato e digo:

__Eu vou para o meu quarto.

Eu saio  e o deixo me olhando afastar.

Talvez assim eu bagunce menos a vida dele e deixe ele a vontade de uma forma que eu já cheguei não fazendo.

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