Capítulo 3

LINDO DE OLHAR, PROIBIDO DE TOCAR

“Você pode me pegar enquanto eu estiver dormindo.

E enquanto eu estiver sonhando também.

Porque é um lugar solitário para mim, querido.

Deve ser solitário para você também.”

Catch me while I’m sleeping – Pink

Dois dias depois, a estranheza de dividir um quarto não havia passado. Macon e Violet conversavam somente o estritamente necessário. A tensão deles não tinha qualquer justificativa, a médica estava disposta a ser amigável, e ele não tinha nada contra ela, aliás, a cada hora que passava ao lado daquela mulher, sua admiração só crescia. Mas eles simplesmente não conseguiam relaxar em torno um do outro.

Atração.

A única explicação.

Naquela manhã, Violet estava na cozinha tomando café, sozinha. Era um milagre que o tenente já não estivesse com ela. Ele parecia sempre estar acordado quando ela levantava, e ela sempre dormia antes dele. E quando dormia, ele estava lá, em seus sonhos. Poucos dias juntos, e ele a tinha afetado como nunca ninguém fizera.

Foi só a mente de Violet se calar, e o tenente entrou na cozinha, lhe desejando bom dia. Pegando pão e café, ele se sentou na frente da médica e, em silêncio, comeram. Assim que terminaram, ambos foram para o ambulatório. Para espanto dos dois, o tenente McCarthy estava deitado na maca com o seu rosto treinado em uma careta de dor.

— Thomas? — Macon chamou, incrédulo. — O que aconteceu?

Macon sabia que o camarada estava fingido. Conhecia Thomas bem o suficiente para saber que aquilo era uma tática, seu amigo vinha avisando nos últimos dois dias que daria um jeito para se aproximar da médica.

— Acredito que a água daqui não tenha caído bem para o tenente — interferiu Melanie, aferindo a pressão de Thomas.

— Hum... Mesmo que tomemos água industrializada? De garrafa? — Macon informou em meio a uma risada. Talvez aquela fosse a sua vingança depois de ouvir seu amigo caçoando dele por estar servindo de babá. Thomas abriu os olhos e o fitou com raiva. Violet tossiu para esconder a risada, e o tenente Kendrick se sentiu orgulhoso por fazê-la sorrir com a sua brincadeira.

Olhando para Melanie, Violet sabia que Thomas não precisava se esforçar tanto, era tudo o que a amiga vinha falando desde que os tenentes haviam aparecido.

— Bom, Mellie, hoje é seu plantão, mas sabe que se precisar, estou a postos — ofereceu, sabendo que nunca seria chamada.

— Estamos bem, obrigada, Vi. Ficarei com o soldado aqui.

— Tenente. — Tom ergueu o dedo e corrigiu novamente. Melanie revirou os olhos para a amiga e voltou a atenção para o homem.

Ao saírem da estação, deram de cara com James Newton e o Capitão Morth.

— Ei, James! — Violet sorriu amistosamente para o soldado, mas para o capitão, ela ofereceu apenas a sua educação. — Capitão.

— Como vai, Violet? Tudo bem por aqui? — O homem olhou em volta e sorriu. — Está muito mais organizado.

— Obrigada, capitão. Tudo está correndo bem — agradeceu de forma sucinta e se voltou novamente para James.

— Ótimo! — O homem exclamou. — Bem, eu vou voltar. Vejo você depois, Newton. Kendrick... — disse o nome do tenente em cumprimento. Em resposta, os oficiais bateram continência para seu superior e descansaram assim que ele se foi.

Macon queria dizer algo para fazer James ir também, não gostava da forma como ele olhava para Violet e particularmente não estava empolgado em velar um namorico como se fosse uma tia velha. Bastava ser uma babá. Mas James foi mais rápido e logo deu um jeito para se convidar para entrar.

— Estou no meu intervalo, resolvi passar para saber se tem aquele café que só você sabe fazer. — O soldado era simpático e dono de uma bela aparência, além de parecer muito íntimo de Violet, que prontamente assentiu e o convidou para entrar. Macon, é claro, seguiu os dois até a cozinha, para desconforto de Violet, que parecia ter o tenente sob a sua pele, e o descontentamento de James, que queria ficar a sós com a médica.

**

Dias de folga eram poucos, mas bem-vindos. Na base militar, os médicos sempre tinham o que fazer. Sair para vacinar o povo das aldeias mais distantes, distribuir preservativos, água potável para as cidadelas que não contavam com saneamento e mesmo alimento para o povo mais pobre. Mas quando se ofereceu para ir trabalhar na pequena e precária estação médica em Umutara, foi avisada de que ficaria apenas lá.

Violet estava satisfeita. Aos poucos ganhava confiança dos habitantes e gostava de estar ali. Sentia-se útil, importante. E se fosse honesta consigo, só por um instante, a cada dia sentia-se um pouco mais livre do domínio superprotetor do pai. Mesmo que cada ação sua na base fosse vigiada e relatada, ela estava feliz por ter dado aquele passo em sua vida.

 Enquanto lia uma cópia de Se Houver Amanhã, de Sidney Sheldon, que pegara emprestado de uma colega da ONG, Violet procurava esquecer de tudo à sua volta e se afundar na vida de Tracy Whitney, a maior ladra da literatura de todos os tempos. Mas sempre que encontrava o não tão mocinho Jeff Stevens na leitura, ela o personificava como Macon Kendrick.

Quarenta e oito horas, e o homem não saía da sua mente.

Cristo!

Frustrada, ela fechou o livro e se levantou rapidamente, pronta para sair da casa e andar um pouco. Não sabia onde Macon estava, mas tinha certeza que ele estava por perto. Caminhando em direção à saída dos fundos, para não atrapalhar a consulta do oficial McCarthy com sua melhor amiga, seu objetivo era apenas andar e espairecer, mas assim que abriu a porta, quase tropeçou no tenente. Sentado no degrau da porta, Macon olhou para a médica e se levantou rapidamente.

— Desculpe — pediu ela, enquanto descia o degrau.

— Vai a algum lugar? — perguntou o tenente, cruzando os braços musculosos. Era como se ele estivesse a interrogando, e Violet não gostou.

— Eu só queria algum ar, você realmente não precisa ficar no meu encalço.

Macon adoraria responder, mas foi interrompido por um grito histérico. Antes que ele pudesse m****r Violet para dentro da casa, ela já corria em direção a duas pessoas que pareciam brigar. A menina grávida. Macon a reconheceu imediatamente enquanto corria, mas Violet já estava entre os dois, com as mãos erguidas, quase encostando no peito do grande homem negro que parecia furioso e pronto para atacar a garota atrás da médica.

— O que está acontecendo aqui? — Ele ouviu McCarthy trovejando atrás de si.

— Violet! — Melanie gritou, apavorada. Quando Macon chegou perto o suficiente, a médica estendeu a mão para que ele parasse. Não sabia por que, mas Macon parou e assistiu a médica manter a mão no peito do grande, corpulento e suado homem, que continuava tentando avançar sobre a menina, que gritava desesperadamente. O homem gritava, mas por falarem francês, Macon não conseguia identificar palavra alguma. Mas Violet respondeu, e quando o homem deu mais um passo, ela gritou palavras para ele, pedindo que fosse embora. A fúria e a determinação na voz da médica assustaram Macon.

Não conhecia a doutora Bates o suficiente, mas já estava a julgando como uma mulher passiva. Bem, exceto quando ela via alguém em perigo. Aquela mulher era muito peculiar. Sua aparência calma e meiga podia se transformar em uma leoa em pouco tempo.

Enquanto ela falava com o homem, sem abaixar a cabeça, ele foi dando passos tímidos para trás, recuando vagarosamente. Provavelmente não queria que o vissem abaixando a cabeça para uma mulher, especialmente para uma americana. Macon começou a andar novamente, mas Violet se virou para a menina, a pegando pelo braço e andando rapidamente para dentro da estação. A amiga e os oficiais a seguiram, e antes de fechar a porta, Macon olhou diretamente para o homem parado no meio da rua, desejando marcar o sujeito e ficar alerta caso o homem retornasse.

— Preciso voltar. — A menina resmungou, chorosa. Para a sorte de Macon, falava inglês.

— Você não vai a lugar nenhum até que eu examine você. — Violet a sentou em uma cadeira na cozinha e lhe entregou um copo com água.

— Meu pai virá me buscar. Ele vai entrar aqui, doutora. — A menina dizia com medo, os olhos arregalados e cheios de lágrimas demostravam o pavor que estava sentindo, era apenas uma criança.

Quantos anos tinha? Quinze?

— Raisha, seu pai está alcoolizado, mas não é louco. Ele não vai entrar. Conversei com ele. — A voz da médica era autoritária e segura. Macon estava um tanto zonzo com os acontecimentos e decepcionado consigo por não estar com sua arma. Deus! Dois dias, e ele já estava com as suas defesas baixas. Aquilo não era bom.

— O que disse para ele ir embora? — Macon perguntou, enquanto Violet pegava o braço de Raisha suavemente e a levava para a estação. Enquanto caminhavam à curta distância, ela respondeu:

— Que o ambulatório estava cheio de soldados armados e que se ele fizesse algo contra nós, acabaria preso.

Morto seria mais preciso. Mas o tenente se limitou a assentir para ela e lhe preservar daquela informação.

**

Quando a menina se acalmou, Violet arrumou a cama extra de campanha e colocou Raisha lá. Aproximou-se da barriga da menina e acariciou. Raisha, como da outra vez, fez uma carranca para a médica. Não que a menina não gostasse de Vi, só não gostava da gravidez e odiava o fato de Violet ficar feliz com um filho que não era ela quem estava carregando.

— Você dormirá aqui hoje. Amanhã pela manhã, quando seu pai souber o que está fazendo, você volta para casa. — O tom definitivo da médica não dava abertura para discussão. Era início da noite ainda, então ela pegou algumas revistas e entregou para Raisha, avisando que prepararia algo para a menina comer.

A menina assentiu, mas só se aconchegou quando Macon foi para longe.

Ela cozinhou em silêncio, Macon queria perguntar o que tinha acontecido, mas a forma como Violet parecia tensa o fez ficar quieto. Seus ombros estavam rígidos, a respiração, pesada, e o rosto expressava uma carranca séria. A adrenalina ainda estava lá. Ele sabia que ela estava agindo, cozinhando e se mantendo ocupada para ter algo o que fazer, para colocar a sua energia, sua raiva, em foco.

Melanie entrou na cozinha algumas vezes e também não ousou falar com a amiga, o que fez o tenente ter a certeza que estava agindo da maneira correta ao não tentar falar com ela. Melanie, no entanto, fez sinal para que ele a acompanhasse até o corredor.

— Ela disse algo para você? — Foi direta em sua pergunta. Macon apenas chacoalhou a cabeça em negação. Um suspiro escapou pelos lábios da bela loira. — É sempre assim, ela odeia brigar. Quando acontece, fica assim...

— Com raiva dos outros, percebi.

— Dos outros? — A médica olhou para o oficial, incrédula. — Ela fica com ódio de si. Mesmo o homem estando bêbado, com raiva pela filha estar grávida e pronto para agredi-la, Vi está chateada por ter brigado com o homem. Para que ele se afastasse, ela disse coisas que não gostaria. — Macon fitou Melanie sem entender. — Violet é incapaz de machucar as pessoas, tenente Kendrick. Ela prefere sofrer a ferir qualquer um. Mesmo que seja o mais vil dos homens, ela fará qualquer coisa para curá-lo. Me preocupo quando ela fica assim. Violet coloca todos em primeiro lugar, mesmo quando está em perigo, mesmo quem não merece.

Macon ficou repetindo as palavras da doutora Winsor em sua mente por toda a noite antes de finalmente decidir que havia dado espaço demais para a silenciosa Violet. Parando no batente da porta precária do quarto que dividiam, Macon olhou para a pequena mulher de aparência pequena e frágil.

Violet Bates era singela.

Era difícil imaginar que alguém tão delicada poderia se tornar uma verdadeira guerreira diante de uma situação difícil.

Quando alguém estava sofrendo, em perigo, com medo... Ela estava lá. Violet defendia, assumia riscos e salvava. Nada diferente do que ele fazia. Macon se juntou ao exército assim que completou dezoito anos. Ele só queria ajudar as pessoas, ser útil, crescera em uma família que respeitava os militares, principalmente tendo um avô herói de guerra. A médica não era diferente dele em suas intenções.

Um sorriso discreto escorregou pelos lábios de Macon enquanto ele continuava a analisar aquela garota, aquela médica... Aquela mulher.

Dois dias, Macon. Dois dias, e você conseguiu se colocar em uma enrascada.

Finalmente, quando o tenente voltava do labirinto de pensamentos, Violet percebeu a presença de alguém na porta. Não alguém... Ele. Seu protetor, aquele que ela não queria por perto quando conheceu e que precisava manter longe para voltar a respirar sem dificuldades. Virou e encarou o tenente por um momento, então fez sinal para que ele entrasse.

— Não fique aí, entre. Este é seu quarto também — convidou antes de voltar a atenção para a janela. Ruanda tinha muitos problemas e poderia até ser considerada feia, mas o céu... Ah! Era tão lindo.

Tentando se concentrar na beleza que contemplava pela janela, ela ouviu Macon se aproximando e sentando na beira da cama. Por mais um longo momento, eles ficaram em silêncio.

Ele olhando para ela.

Ela olhando para o céu.

— Aquele era o pai de Raisha. — Começou a médica. — Não aceita a gravidez. Trouxe a filha para estação para que eu fizesse um aborto nela.

— Ele é tão jovem para ser pai dela, ela é tão jovem para ser mãe... — Macon murmurou mais para si do que para Violet.

— Aqui todos têm filhos muito jovens, Mac... Macon — corrigiu rapidamente, mas não evitou que ele ouvisse e estremecesse ao escutá-la dizendo o seu apelido. Era íntimo. — O controle de natalidade aqui é inexistente, e gravidez ainda é a menor das consequências do sexo sem proteção. — Ela finalmente olhou para o oficial. Macon percebeu o olhar triste da médica. — O pai dela está furioso.

— Eu posso imaginar que sim.

— Dizem que é de um soldado americano — revelou com um suspiro decepcionado.

— O quê? — O choque na voz do tenente foi patético. Logo percebeu quão idiota estava sendo. Claro que poderia ser de um soldado. Ele vira acontecer muitas vezes. Oficiais seduzindo habitantes das precárias localidades que eram destinados, se aproveitando da ingenuidade e, principalmente, da vulnerabilidade dos povos sofridos. Ele nunca fizera nada daquilo, não era um santo, é claro, mas nunca se aproveitou da necessidade de ninguém para suprir as suas próprias.

— O pai a forçou a dizer, então ela assumiu que era de um soldado, mas se negou e ainda se nega a dizer o nome. Ninguém sequer suspeita quem seja, e para ser honesta, rezo para que ninguém descubra também. Seria uma desgraceira, morte na certa.

Macon concordava. Nada de bom poderia sair daquela história, era melhor não mexer com nada daquilo. Ele procurou em sua mente algum assunto para abordar com Violet, na tentativa de não passar mais dias em silêncio, mas a médica já estava se levantando. Caminhando até a porta, ela retirou a toalha grossa e negra que ficava pendurada em um prego improvisado e se dirigiu até a porta.

— Vou tomar um banho — avisou, ainda parecendo um tanto aérea para o tenente. Kendrick tentou não deixar a imaginação acompanhar a médica até o banheiro. Pensar nela nua, molhada ou...

Ugh! Preciso de um banho também.

**

Ela saiu do banho vestindo um par de calças de algodão pretas e uma blusa de ginástica cinza. Secou seus longos cabelos com a toalha, sabendo que o clima quente e seco do país se encarregaria de terminar o processo. Seu corpo todo parecia dolorido e muito cansado. Por sorte, o sobreaviso era de Melanie naquela noite. Sabia que a adrenalina havia se esvaído e que em breve sucumbiria a e****a e dores musculares.

Quando entrou no quarto, esperava encontrar o oficial esperando por ela, mas o ambiente estava vazio. Uma sensação estranha se instalou na boca do seu estômago quando percebeu que ele não estava presente. Procurou não analisar o que estava sentindo, mas sabia que havia algo ali. Atração.

Claro que ela estava atraída por Macon. Era lindo, viril, com um corpo maravilhoso, e Deus sabia que ela estava fora de combate há alguns meses já. Talvez ele nem fosse tão lindo assim... A atração poderia muito bem ser culpa da necessidade que vinha crescendo dentro dela.

Mas então por que tal vontade não se instalou nela com qualquer outro soldado em campo? Por que ela só sonhava em ter o corpo másculo e perfeitamente bronzeado de Macon sobre o dela? Ou os lábios grossos e levemente mal desenhados sobre o seu corpo?

Droga, Violet! Não faça isso. Respeito! Respeite!

Não seja uma adolescente!

Ela tentou não ser, por três minutos... Até que saiu do quarto, procurando por ele.

Na cozinha, Macon analisava a rua, escorado na porta dos fundos da estação. Observava uma rota de fuga, precisaria pensar nisso para o futuro. Se a hostilidade do povo daquela aldeia não revivesse uma nova guerra civil, era bem provável que a filha do coronel estourasse sua própria guerra peitando, da forma que fizera mais cedo, os homens daquela aldeia.

Bufou e sorriu ao mesmo tempo ao lembrar daquela mulher, tão pequena e tão grande ao mesmo tempo.

Controle-se, Kendrick! Você está aqui há dois dias! Imagina em um mês...

— Encontrou algo para comer? — A voz de Violet o fez saltar minimamente. Fechando os olhos com força, ele tentou se controlar antes de se virar para encará-la. Com medo de Violet perceber quão perturbado ele ficava com a sua presença, sorriu amistosamente para a médica. Movimento errado. Os olhos dela de repente ficaram mais abertos, brilharam, e ele pode perceber a mulher retendo o ar em seus pulmões.

Ele a perturbava como ela fazia com ele.

Merda! Ele precisava se controlar.

Ela precisava se controlar.

Mas era tão difícil. Ambos eram como peças raras. Estavam fascinados um com o outro, como quando você vê algo realmente belo, uma flor exótica, um diamante raro, ou mesmo uma pintura em um museu. É lindo, mas fora do alcance das suas mãos. Tocar seria macular, e macular poderia estragar.

Era daquela forma que pensavam:

Lindo de olhar, mas proibido de tocar.

Ele nunca se envolveria com ela. Embora a atração não pudesse ser negada, Macon tinha convicções, honra... E, bem, o coronel certamente faria da vida dele um belo fracasso se ele tocasse em sua filha. A carreira militar era tudo o que Macon queria. Mas apenas observá-la era tão complicado quanto estar ao seu lado.

Sentia-se um imbecil, conhecia aquela mulher há poucos dias e queria ficar olhando para ela o tempo todo. Queria se convencer que a vontade de ficar analisando cada movimento, ouvindo cada palavra, ou mesmo velando o sono da médica, era apenas para cumprir o seu papel. Todavia sabia que estava interessado em Violet Bater.

Não lembrava da última vez que realmente se interessou por alguém daquela forma. Quando mais jovem, certamente se apaixonou uma ou duas vezes. Mas a eletricidade, a fome carnal que sentia apenas por ouvir a voz daquela mulher estavam deixando o tenente insano.

Violet se sentia confusa com aquele homem, que caminhou lentamente até a mesa, sem tirar os olhos dela, e sentou em uma das cadeiras. Ele percebeu o quanto ela estava corada? Como parara de respirar?

Seus olhos desviaram da intensidade dos olhos dele e rapidamente tratou de encontrar um copo para beber água. Sequer estava com sede, mas queria se ocupar, na tentativa de esconder seu embaraço.

— Então? Com fome? — perguntou, servindo um pouco de água para si. Em seguida levou o copo aos lábios. — Posso preparar algo — informou, assim que engoliu o pequeno gole do líquido.

— Na verdade, eu gostaria de um banho. Eu não tenho fome, mas obrigado por oferecer — respondeu, deixando um novo sorriso crescer em seus lábios, que fez Violet ficar zonza novamente. 

É melhor pedir para Melanie aferir minha pressão mais tarde.

— Cla-claro! — Ela voltou a pegar o copo e bebeu mais um grande gole antes de continuar. — Fique à vontade. Bom banho! — Não acredito que desejei um bom banho para o homem!

Macon passou por ela sem a encarar, e Violet evitou qualquer olhar na direção do tenente também. Em suas mentes, a sincronia estava perfeita, ambos estavam pensando o mesmo naquele momento:

Em quão difícil seria estar um perto do outro.

**

Enquanto arrumava a cama para deitar, após verificar Raisha, Violet, inconscientemente, pensou em seus relacionamentos passados, tentando comparar seus sentimentos com o que sentia naquele momento. Lembrou de Daniel, o rapaz pelo qual se apaixonou perdidamente no terceiro ano de faculdade. Namoraram por dois anos até que ele precisou partir, garantindo que um romance à distância não daria certo. Violet sofreu por meses até que encontrou novos objetivos.

Enquanto deitava na cama, ouviu os passos firmes do tenente se aproximando. Ele secava os cabelos com a toalha e estava vestindo uma bermuda e regata branca. Naquele momento, pensou que talvez pudesse sentir por Macon o que sentiu por Daniel.

Impossível, eu mal o conheço, pensou rapidamente.

Mas então lembrou que também mal conhecia Daniel quando ficou caidinha por ele, e imediatamente ficou preocupada.

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