Parte 2...Sábado de carnaval. O médico nos diz que podemos levar mamãe para casa.Não sei bem se isso é uma boa notícia. Algo me diz que é a tal melhora antes do fim. Suspiro e agradeço com um sorriso meio chocho.Joana e eu a levamos para casa, junto de suas plantas para animá-la um pouco.Ela passa o dia bem, consegue comer devagar e até vê um pouco do desfile na tevê. Dorme muito e nós ficamos de olho.No domingo ela manda que eu vá embora e eu brinco fazendo de conta que estou com raiva._ Você não me ama mais, é? - finjo estar triste _ Quer me mandar embora?_ Não sua boba - ela ri de leve, com dificuldade _ É carnaval, vá curtir sua festa._ Até parece - torço a boca _ Quantas vezes eu curti o carnaval quando me casei com Armando?Ela balança a cabeça e olha para fora._ Verdade. Aquele homem foi uma desgraça em sua vida - suspirou _ E te deixou com uma mão na frente e outra atrás._ É passado, mãe.Não quero que ela se aborreça por algo que não vai mudar. Ela bate em minha mão
Parte 1...Pois é, a vida estava acontecendo novamente, mas não do jeito que eu queria. Infelizmente.Eu senti muito a perda de minha mãe. Se até hoje eu sinto a falta da minha avó materna, imagine a falta de minha mãe? Vai ser ainda mais.Tive que ligar para Joana e contar. Ela começou a gritar e chorar, desesperada.Eu sabia que seria assim. Ela sempre foi mais molenga pra essas coisas. Eu entendo.O pior mesmo foi ter que ouvir aquele monte de “sinto muito... Uma perda...Meus pêsames... É a vida... Ela descansou”. Me dá até agonia de lembrar.E ainda teve toda a burocracia do enterro, de avisar amigos e família longe, de ligar para funerária e tudo mais. Isso deveria ser feito por outra pessoa que não fosse da família. É muito pesado.Não sei se detesto mais o velório ou o enterro em si, só sei que detesto.Ficar no meio de toda aquela gente, ainda mais no meio de um carnaval. Parece que fizemos de propósito para estragar a festa dos outros.Eu estava ali, de pé, parecendo um urubu
Parte 2...Eu só estava muito cansada emocionalmente, não fiz de propósito. Além disso, achei que ele estava aproveitando o carnaval antes que terminasse._ Depois eu ligo pra ele._ Não esqueça - Joana disse _ Eu falei que viria aqui e dava o recado.Olhando bem para ela, vi que estava com cara de choro. Fui até ela e a abracei.Joana sempre foi um pouco travada com relação a falar sobre sentimentos. Pra mim era mais fácil._ Está tudo bem, Jo - alisei seu braço.Do nada ela começou a chorar. Eu entendo. Também comecei a chorar. Perdemos nossa mãe em uma época que deveria ser de alegria e ambas estavam triste.Sei que ficou com medo de algo ter acontecido comigo também. Ela sempre foi medrosa.Até meu cunhado entra no abraço e ficamos assim, calados e sentindo a mesma coisa.Nos separamos. Fui para a cozinha. Agora sinto minha barriga roncar. Abro a geladeira em busca de algo e percebo que preciso fazer compras logo._ As pessoas ficam ligando - Joana disse _ E sempre é o mesmo. “Ela
Parte 1...Depois de andar por minha sala como se eu fosse um hamster alucinado, decidi que deveria ir até ele e tentar diminuir meu prejuízo.Sei que é outra loucura, mas preciso explicar e também quero saber como ele descobriu que era eu.Me encho de um pouco de coragem e de muita loucura, troco de roupa e vou até lá. Tenho as chaves da casa dele, então posso entrar.Se eu tocar a campanhia ele não vai abrir de modo algum, já sei como é. O melhor a fazer é ir entrando de abusada mesmo.Seja o que Deus quiser agora.Paro em frente da casa e deixo o carro estacionado em cima da calçada. Respiro fundo três vezes, desço e abro o portão com calma por causa dos cachorros.Logo que me viro vejo os dois correndo em minha direção, mas estão abanando os rabos. Pelo menos eles não vão me morder, já o dono...Faço um carinho em cada um e ando com as pernas tremendo até a casa. Passo pela piscina e vejo o gato deitado em uma das cadeiras de sol.A porta grande da sala está aberta. Eu entro e não
Parte 2..._ Não - suspirei _ É só tesão reprimido. Eu fiquei doida por você sim, mas não tem isso de amor. Quando eu te vi, desde a primeira vez naquele dia da entrevista de emprego eu fiquei meio que tarada por você - torci a boca de um lado para outro _ Eu confesso, agi por impulso. Há muito tempo que eu imaginava como seria transar com você.Vi o olhar dele mudar e pareceu que ficou confuso, mas logo depois voltou a ficar sério._ Isso não justifica nada do que fez._ Estou explicando, não justificando. São palavras parecidas, mas não querem dizer exatamente o mesmo - dei uma de secretária pra cima dele _ Quero deixar clara a minha ideia para você, te fazer entender o que aconteceu. Não justifico porque sei que tenho culpa no ato, não sou inocente. _ Não venha com esse papo de secretária eficiente pra cima de mim - fez uma careta._ Bem... Eu já estava ficando fora de mim com esse tesão guardado por você - mexi no cabelo _ E precisava muito liberar isso. Daí, quando surgiu a opor
Parte 1...adas da vida, mas essa foi inédita.Realmente meu ego ficou bem ferido dessa vez, mas não era nada tão diferente de antes, quando Armando me esculhambava, me chamava de um monte de coisas e que ficava deprimida.Só que agora eu tinha tido uma atitude diferente e entender o quanto o Artur era um babaca, me fez sentir algo estranho.Acho até que isso afetou meu estômago porque senti até arder. Talvez até uma azia, quem sabe?Ele jogou na minha cara que não tinha tesão nenhum por mim. Se soubesse que era eu ali naquela festa não teria se aproximado.Ou seja, eu sou um zero á esquerda para ele.Eu disse que não me arrependi, mas pensando bem, estou arrependida sim. Pelo menos com esse final triste, descobrindo que ele não tem o menor interesse por mim. Lá se foi meu ego outra vez.Mas, tudo bem, eu me recupero. Já passei pos coisas piores. E eu sabia o que estava fazendo, então não posso nem reclamar agora.Mas que é chato pra caramba, isso é!Me joguei no sofá e fiquei ainda u
Parte 2..._ Sabe o que é mais legal disso tudo? - ele negou com a cabeça _ Eu cacei você, te comi gostoso e sei que você não vai esquecer disso, amore.Vejo que ele estremece e seu olhar se acende, suas narinas se abrem e ele engole em seco.Disse isso de propósito mesmo. Sei que ele vai lembrar da secretária gostosa que o comeu e não o contrário, como geralmente acontece.Quando ele entrar em uma adega vai lembrar de mim o chupando, ele gemendo alucinado e o gozo que eu eu proporcionei a ele.Isso vai ficar gravado na memória.Dessa vez foi ele quem ficou travado, sem palavras. Me sinto poderosa, gostosa, esperta, me sinto por cima.Tenho certeza de que mexi com ele, com seu ego de macho alfa e que isso vai incomodar muito até ele aceitar que dessa vez foi uma mulher quem dominou.“Foda-se”!Eu dou um sorriso grande e me viro, me afastando e rebolando o quadril para que veja. Escuto ele pigarrear, limpando a garganta presa._ Se você quiser, posso lhe dar uma carta de recomendação p
Parte 1...“Ajusto-me a mim, não ao mundo”.Anaïs Nin“Aprendi com a primavera a deixar-me cortar e voltar sempre inteira”.Cecília Meireles* Seis meses depois...Eu amo limpar a casa ouvindo música, bem alta de preferência. No meu som toca uma antigona.“At first I was afraid, No começo eu estava com medo, I was petrified kept thinkin' fiquei petrificada, continuei pensando I could never live que nunca poderia viver without you by my sidesem você ao meu ladoThen I spent so many nights Depois, passei tantas noites thinking how you did me wrong andpensando em como você me fez mal I grew strong, and I learned e eu fiquei forte e aprendihow to get along”...como me dar bem...Essa música é a minha cara. Nem sei quantas vezes eu já a ouvi e toda vez eu amo mais.Sei lá, é coisa minha, meio maluca mesmo. Toda vez que eu escuto, é como se eu fosse uma sobrevivente e que estivesse recomeçando a vida.Na verdade estou, mas a música me empolga a sonhar mais alto. E tem muitas