Janaína está no pé do pai que quer ir no show do Leonardo na cidade vizinha, na semana de Páscoa o pai não poderá levá-la, e não gosta, da ideia, dela ir só com sua mãe e irmã.

     Sandro detesta música sertaneja, não vai querer ir com as três, mas por via das dúvidas o pai vai falar com ele, se ele não iria, com as meninas no show.

     Pai você sabe que eu detesto música sertaneja, mas eu levo as três, tem uma moça na faculdade que me interessa, que adora esse cantor, ela deve ir, folgo em saber filho, assim fico menos preocupado, com o trio.

     Eu vou no seu carro se não se importar pai, pois o meu não está preparado para viagens, tem de ser feita uma manutenção dele.

     Sem problemas, Sandro, mas não pisa muito, meu carro é bem mais potente que o seu, e eu não quero surpresas desagradáveis com vocês na estrada.

     Tudo bem papai, serei prudente.

     O pai chega na hora do almoço, no começo da semana, com os ingressos para o show do Leonardo e põe sobre a mesa, em cima do prato de cada um que vai.

     Janaína pula de alegria e abraça o pai e o irmão feliz.

     Obrigada mano, por se sacrificar em ir num show que não gosta por minha causa.

     Obrigada pai, pelo ingresso, eu amo vocês, diz ela, abraçando um a um e enchendo de beijos.

     Os dois se olham e riem.

     Suzana ao entrar no carro, acha incrível Everton, ter liberado seu carro para o filho pegar a estrada, ele nunca fez isso antes.

     Quando Sandro viaja ou é com o carro próprio ou com o da mãe, o carro do pai é novidade até para Suzana.

     Suzana Rodrigues Ferreira, diz Everton, ela o olha.

     Que foi?

     Me chamando pelo meu nome completo, algum problema?

     Se cuide e cuide bem dos meus filhos, quero todos inteiros e de volta até a meia noite, quero todos em casa, entendeu a Cinderela.

     Ela sorri, está bem, príncipe encantado, trazemos tua carruagem e o conteúdo inteiro até a meia noite.

     E você pajem, dirigindo-se a Sandro, vai com cuidado com minha carruagem.

     Tá bom pai, diz rindo, Sandro, vou ser prudente.

     Ele fala, amo vocês, vão com Deus.

     Também te amamos pai, dizem os filhos.

Suzana, j**a um beijo e diz: Eu te amo.

     Eles pegam a estrada no chevrolet do pai, o carro é possante, mas Sandro, está dentro dos limites de velocidade para a estrada, não tem pressa, saíram com bastante antecedência, passa por eles um Renault, muito rápido, não dá para ver o número de pessoas no carro, tamanha a velocidade, do mesmo.

     Andam mais quatro quilômetros, um acidente.

   O trânsito está parado, e o carro na frente da fila parado é o Renault, todos descem para ver o que houve.

     Duas carretas, uma de combustível bateram e uma delas explodiu, os bombeiros além de tentar conter as chamas, tentam tirar o outro motorista das ferragens.

     Muito trabalho, acidente muito feio.

     Ao chegar na frente percebem que o Renault é do Manoel, e nele estavam cinco pessoas.

     Sandro o cumprimenta, pergunta o que houve, se ele viu o acidente, ele diz que sim.

     A carreta de combustível parou e deu a seta para entrar no posto do outro lado da estrada, e o caminhoneiro do caminhão em sentido contrário entrou na outra pista, de repente e veio pra cima do caminhão tanque.

     Bateu e explodiu, ele vinha a mais ou menos quinhentos metros do local, e teve de desacelerar muito de repente, quase não consegue, pois a velocidade dele estava muito alta.

     Diz que todos em seu carro gritaram, quando viram o fogo em sua frente e ele tentando frear antes de chegar nos caminhões.

     Todos os que iam chegando iam descendo dos carros com seus extintores, para o fogo não chegar no caminhão tanque, o pessoal do posto saiu com mangueiras contra incêndio e o bombeiro da cidade vizinha foi chamado e chegou muito rápido.

     Mas ainda há risco de explosão, então estão pedindo que fiquemos o mais longe possível e não liguemos nossos carros, até que o chão esteja todo limpo.

     Manoel tinha uma cara assustada ao falar com Sandro.

     Sandro diz, e aí acabou tua pressa.

     É viver é bem melhor.

     O que eu ia fazer dá para deixar para outro dia.

     Eram negócios, uma reunião, eu saí de casa atrasado.

     Mas pensando bem, perder um negócio não é nada.

     Ele devolve a pergunta e vocês onde estavam indo num show.

     Show de quem, do Leonardo cantor, minha irmã adora o cara.

     Normal a minha também.

     Que horas vai ser o show?

     À noite, então deve dar tempo, daqui lá é quarenta minutos de estrada.

     Por que saíram tão cedo, para poder ir devagar e chegar cedo.

     Pessoas prudentes, muito bem.

     Os bombeiros chegam perto dos dois, e pedem que se afastem.

    Nesse instante, Sandro se dirige para o carro e conta a família o que ocorreu, e resolve soltar o freio de mão e afastar o carro ainda mais do local.

     Se afasta uns duzentos e cinquenta metros e coloca o carro no acostamento.

     Diz para a família toda sair, fecha o carro, pegam os documentos, os ingressos, e saem do carro na direção contrária do acidente e andam uns duzentos metros do carro e ficam conversando.

     Sandro está incomodado, não quer ficar no carro, nem perto do local.

     O cheiro de combustível vazando é muito forte.

     De repente diz a mãe.

     Mãe vamos entrar na cidade vizinha e avisar papai, que estamos bem.

     O carro está trancado, andamos mais cem metros já tem o trevo, que é dentro da cidade, praticamente.

     Ela concorda e todos vão a cidadezinha, buscam um local onde os celulares acessem a rede móvel e ligam para Everton, que acaba de ver a explosão do caminhão pela tv, e estava preocupado, se eles já tinham passado pelo local, ou ainda iam passar quando ocorreu.

     Fica feliz ao ouvir a voz do filho e saber que ele afastou o carro ainda mais do local e entrou na cidade próxima para ligar.

     O pai diz para eles não saírem de lá, pois a situação está muito crítica e pode acontecer uma explosão muito maior.

     Que não se importem com o carro, caso algo aconteça, ele irá buscá-los com o carro de Suzana e os levará ao show.

     Mas que por enquanto se mantenham afastados do local, pois ele está acompanhando em tempo real pela tv e não os quer lá perto.

     Nisso eles encontram uma lanchonete aberta, com a tv ligada e ficam acompanhando o que está acontecendo na estrada, de repente todos correm , para longe do caminhão tanque, o mais que podem.

     E o caminhão explode, levando consigo os oito primeiros carros parados na frente, inclusive o Renault de Manoel.

     Que foi lúcido o suficiente para ficar a uns trezentos metros na estrada do lado inverso de onde estava seu carro, até o momento que os bombeiros mandaram o povo correr que ia explodir.

     E ele correu, muito, parou uns dez minutos depois da explosão correr, sem olhar para trás, um jornalista que estava no local que filmava tudo, filmou ele correndo, na frente do jornalista, até pararem os dois e olharem a cena grotesca que deixaram para trás.

     Algumas pessoas que estavam muito próximas do local, inclusive bombeiros, não tiveram muito tempo para correr e foram atingidas pelas chamas.

     Começam a chegar helicópteros de bombeiros, para o resgate das vítimas, muita gente com queimaduras de segundo e terceiro graus, mas felizmente só os motoristas dos caminhões saem do local em óbito.

     Poderia ter sido muito pior se as pessoas não tivessem sido afastadas do local desde o começo, pelo risco da explosão.

    Os prejuízos materiais foram enormes.

     A família na cidade vizinha, olhava para os ingressos e uns para os outros e dizia, acho que o show perdeu o sentido.

     A moça do estabelecimento que está acompanhando os acontecimentos, fala, agora é que faz sentido viver e cantar, vocês nasceram de novo.

     A família não acha, pois tem entre os atingidos, pessoas que conhecem e estavam no local, indo para o mesmo evento.

     Levam seis horas para fazer a liberação de um dos lados da estrada, para os que ainda tinham veículos inteiros passarem.

     Filmam o carro de Everton, inteiro, parado no acostamento e comentam que não sabem onde foram parar os passageiros, pois todos os viram na estrada e de repente não estavam mais.

     Estão procurando nas imediações, pois Manoel informou aos bombeiros que a família estava indo para o show.

     Ele não observou que eles entraram na cidade.

     Os quatro acompanham Manoel fazendo os bombeiros procurarem a família, se não tinha sido jogada longe com a força da explosão.

     Sandro, acha a atitude bonita, liga para os bombeiros e esclarece onde está a família, e as buscas cessam.

     Everton liga para Sandro e diz que está indo ao encontro deles, com o carro de Suzana e que irá ao show com eles.

     Eles esperam o pai chegar, à beira da BR, e seguem juntos no carro do pai, e emprestam o carro de Suzana a Manoel para irem para casa, já que sou carro, já era.

     Vão para a cidade vizinha, comem um lanche juntos no shopping, e vão para o show, quando o show termina, voltam alegres cantando, sem pensar no ocorrido mais cedo na estrada.

      Só comentam o assunto ao chegar ao local, onde param fazem uma oração pelos mortos e seguem seu caminho de volta à casa.

     Ao chegarem o carro de Suzana, está em frente à sua casa, com um bilhete de agradecimento em cima do para brisa.

     E um recado de que a chave está na caixa de correio.

     Na caixa de correio tem a chave e uma revisão para os carros da família na concessionária de Alberto Barbosa, que Sandro irá usar no seu carro.

     Seu Alberto, pai de Manoel, é muito rico, tem mais de um negócio, e a concessionária é um deles.

     Passam algumas semanas Manoel encontra Janaína na rua e vem agradecer a ajuda, ela diz que não foi nada, que nunca se sabe de quem se irá precisar no amanhã, que não custa nada ajudar um amigo.

     Fica tudo assim.