MILENA CHRISTIANEu havia acabado de finalizar a proposta da planta de um cliente, e sentia-me um pouco exausta. Trabalhar de casa tinha as suas vantagens, mas também trazia aquele isolamento que, ultimamente, estava pesando mais do que eu gostaria de admitir. Pensar em me encontrar com as meninas, Sophia e Ruby, parecia uma ótima ideia, mas ao mesmo tempo, eu não estava preparada para as perguntas que certamente viriam. Eu sabia que seria bombardeada com “como ficou a tua situação com o Enrique”, “Como assim você quer se mudar definitivamente para Califórnia”, “Que história é essa de você estar fingindo ser noiva do Edward Portman?” — Perguntas que eu não queria enfrentar naquele momento, mesmo que a metade delas elas ainda nem sabiam. Mas eu preferia omitir do que realmente mentir para elas.Decidi que, mesmo sem companhia, sair para fazer algumas compras seria bom para clarear a mente. Nem o clima frio e nublado me tirou a vontade de aproveitar o dia de hoje. Peguei o meu casaco ca
MILENA CHRISTIAN— Então, branco gelo ou branco marfim? — Uma voz masculina e profunda soou atrás de mim.Finalmente, cerca de vinte minutos depois, vi Edward entrando na loja. Ele parecia ligeiramente fora de lugar no seu terno, contrastando com o ambiente colorido e cheio de mães grávidas e carrinhos de bebê. Não pude deixar de rir um pouco da cena, e quando ele me viu, sorriu de volta, divertido por ter conseguido me assustar.— É, achei que você precisasse de uma segunda opinião. E também, estou com fome. Pensei que poderíamos almoçar depois que você decidir qual dessas roupas a bebê vai usar. — Ele afirmou, olhando ao redor, claramente tentando entender o que estava acontecendo.— Eu só não sei. As duas são bonitas, mas… é difícil escolher — resmunguei já quase chorando e disposta a jogar tudo pelos ares.— Escolhe a que você mais gosta, ou pega as duas. — Depois de alguns minutos respondeu, como se fosse a escolha mais óbvia. Ora, claro que era, mas não era simples, pelo menos,
MILENA CHRISTIANEnquanto caminhávamos pelo shopping, Edward e eu não trocamos muitas palavras. Ele parecia tranquilo, com as mãos nos bolsos do terno, e eu, envolta no meu casaco, tentava afastar os pensamentos sobre o almoço que ele havia mencionado. Estávamos à procura de um restaurante que parecesse acolhedor, e finalmente encontramos um pequeno e discreto, afastado do burburinho das lojas. Parecia perfeito para um almoço tranquilo.Assim que nos sentamos, o ambiente aconchegante começou a aliviar o peso das preocupações que eu carregava desde a manhã. O garçom trouxe o cardápio e, enquanto esperávamos pela comida, a conversa fluía de maneira mais leve. Edward parecia genuinamente interessado no que eu estava fazendo no trabalho, algo que eu não esperava. Eu sabia que ele tinha muito o que lidar, e a sua função na empresa era, sem dúvidas, exaustiva, mas ali, naquele momento, ele estava presente, focado em mim, e eu que não podia desabafar muita coisa, pelo menos por agora, com as
MILENA CHRISTIANEu estava na varanda espaçosa da penthouse, aproveitando o silêncio e a leve brisa que soprava. O chá morno na minha mão aquecia-me enquanto eu tentava me concentrar no livro que estava lendo. No entanto, era difícil ignorar o desconforto dos meus pés inchados, que eu havia apoiado no sofá da varanda para tentar aliviar a pressão. A gravidez estava começando a pesar, e esses pequenos momentos de paz se tornavam mais raros conforme os dias decorriam.De repente, ouvi uma batida leve na porta de vidro. Virei a cabeça devagar e vi Edward entrando em casa. Ele parecia cansado, mas ainda assim, carrega um sorriso condescendente como se tivesse sentindo pena de mim e não dele mesmo. Ele viu-me e acenou com um gesto simples antes de caminhar até a varanda. Tentei ajeitar-me no sofá, me sentando de forma mais adequada, mas ele levantou a mão, sugerindo que eu não me incomodasse.— Não precisa se levantar por minha causa — disse ele com um tom calmo, sentando-se no outro extre
MILENA CHRISTIANOs dias que antecederam o almoço chegaram e passaram em um piscar de olhos. Eu me lembrava de como a semana havia se desenrolado de forma surpreendentemente rápida, e apesar de Edward e eu morarmos na mesma casa, quase não nos víamos. As nossas rotinas eram tão diferentes que parecíamos mais colegas de quarto do que qualquer outra coisa. Eu chegava em casa mais cedo na maioria das vezes, preparava o jantar e comia sozinha. Depois, guardava a comida dele na geladeira, sabendo que ele só iria chegar muito mais tarde. Pela manhã, sempre encontrava a água quente já pronta e pães frescos sobre a mesa da cozinha. Edward fazia essas pequenas gentilezas em silêncio, e eu não podia reclamar da nova dinâmica que havíamos estabelecido.Havia algo reconfortante, embora um pouco melancólico, na forma como as coisas estavam, já que ultimamente ele tem sido a minha única companhia. A distância entre nós parecia grande, mas, ao mesmo tempo, os pequenos gestos dele mostravam que ele
MILENA CHRISTIANA viagem até o local foi consideravelmente mais longa do que eu imaginava. O trajeto de quase quatro horas entre Manhattan e o Lago George parecia não ter fim, e uma coisa que eu tinha pouca apreciação era viajar de carro. Apesar da distância, a sorte era que havíamos saído cedo, o que nos permitiu chegar exatamente na hora combinada. Enquanto o carro se aproximava do destino, os meus olhos foram capturados pela paisagem deslumbrante ao redor. O resort à beira do lago era imponente, com uma vista magnífica para o vasto corpo d’água. A floresta que se dividia em tons de verde profundo, castanho, amarelo e vermelho, bem tipíco do outono, ao fundo completavam o cenário, e tudo parecia ser retirado de um cartão postal. O campo de golfe e as outras amenidades luxuosas que rodeavam o local davam ao ambiente uma aura quase irreal.Assim que saímos do carro, senti a mão de Edward tocar a minha lombar suavemente, me guiando em direção à área aberta onde o restaurante estava lo
MILENA CHRISTIANEntão, depois de alguns poucos minutos, a minha respiração finalmente estava controlada. Sentia o alívio percorrendo o corpo, e Edward, que ainda me mantinha nos braços, apenas me observava, respeitando o meu espaço. Dei um pequeno passo para trás, e ele imediatamente obedeceu ao meu sinal, soltando-me com a mesma delicadeza com que havia me segurado.— Está mais calma agora? — Ele perguntou, com o tom mais baixo e bastante reconfortante, como se não quisesse quebrar o clima de tranquilidade recém-restaurado.Ele era com certeza bastante parecido com a Ruby, nesse aspecto.Entretanto, assenti, sentindo o peso todo começar a dissipar-se dos meus ombros.— Graças a Deus que não coloquei maquiagem hoje — murmurei, rindo levemente enquanto limpava os resquícios de lágrimas dos olhos.— Você fica ainda mais bonita com o rosto corado de choro e os olhos brilhantes assim. — A sua voz soava ligeiramente sedutora, e o meu coração deu um pequeno salto, mas antes que eu pudesse
MILENA CHRISTIANO almoço continuava, e aos poucos, o desconforto que inicialmente havia me tomado começava a desaparecer. Edward, sempre atento, parecia determinado a me acalmar. As suas piadinhas discretas ou o modo como ele me incluía nas conversas mais sérias entre Lewis e Elizabeth ajudavam a aliviar o peso da situação. Eles discutiam sobre o motivo pelo qual os projetos não estavam sendo alavancados em massa ainda, e Lewis explicava pacientemente que tudo dependia da decisão de Nicklaus Ghart, o proprietário. Segundo ele, Nicklaus ainda estava indeciso quanto à venda dos empreendimentos, o que atrasava todo o processo.A dada altura, eu já quase não pensava mais na presença de Enrique ou no fato de estarmos todos ali, em uma cena que parecia retirada de uma novela. Edward fazia o possível para me manter à vontade, e eu apreciava os seus esforços. À medida que as conversas fluíam, observei Emma, a esposa de Enrique. Ela era serena, quase silenciosa. Falava apenas quando era solic