MILENA CHRISTIAN O dia de trabalho correu sem mais problemas, e agora eu podia finalmente ir para casa. Eu realmente precisava, já que sentia fome, e comer comida de restaurante não parecia assim tão atraente. Despedi-me do pessoal da recepção, agradecendo pelo dia, e caminhei até o estacionamento. Peguei no meu carro e parti. Conforme suspeitara de manhã, uma chuva torrencial começou a cair, e eu não pude deixar de sorrir ao pensar se Edward tinha saído para trabalhar com o seu descapotável. Se sim, ele certamente estava apanhando uma bela chuva. Ri com a ideia, sabendo o quão teimoso ele podia ser. Depois de quase uma hora presa no trânsito, finalmente cheguei ao prédio. Estacionei o carro no estacionamento subterrâneo e subi até a Penthouse. Cumprimentei o ascensorista, agora homem de meia-idade, com um sorriso caloroso, já que aparentemente toda semana havia troca de turnos, segundo o meu noivo de mentira. Edward tinha me dado uma cópia das chaves da Penthouse e um cartão de ac
EDWARD PORTMAN— Sempre que tento ajudar, você parece fazer questão de recuar trinta passos. — Acusou Norman, que embora parecesse estar com uma afeição calma, não é difícil deduzir que fervilha por dentro. — E agora, Sr. Portman, o que vamos fazer? — Agora a sua voz transparece mais a sua irritabilidade. — Eu sei que você está irritado, mas devi calmarti. — Respirei fundo, pousando em seguida a pasta de documentos em cima da minha mesa. — Em hipóteses alguma eu deduzi que ela fosse aparecer na minha casa, ainda mais tentando me recepcionar completamente nua. Até porque na minha cabeça, ela jamais testaria a semente da dúvida do que eu estava dizendo era verdade ou não. E convenhamos, se fosse real, eu estaria bastante ofendido pela sua audácia.Mas estamos falando de Merith, a mulher que sempre gostou de brincar com o meu coração como um maldito ioiô, a mulher que eu sempre gostei de tê-la brincando com o meu coração. — Sim, mas e agora? O que fazemos? — Questionou parecendo fazer
EDWARD PORTMAN A cancela do estacionamento ergueu-se, permitindo finalmente a minha entrada. Optei pelo estacionamento aberto da empresa em vez do subterrâneo. Para minha contrariedade, logo quem aparece também é Enrique Bunion, o filho de Elisabeth, cujo comportamento nos últimos dias não me agradava. Milena nunca me explicou o que de fato aconteceu, e tenho certeza de que ela também nunca diria, mas é muito fácil deduzir, especialmente sabendo que ele é casado. Desci do carro e bati a porta forte o suficiente para que chamasse a atenção dele, já que estava distraído tirando seja lá o que for do porta-luvas. — Oh, boa tarde, Sr. Portman. — Cumprimenta ele endireitando-se e fechando também a porta do seu carro. — Boa tarde, Sr. Bunion, como se encontra? Está um belo dia, não é? Um sol que contradiz essa última temporada de chuvas, não concorda? — Fingi cortesia enquanto observava ele começar a caminhar ao meu lado. — São os mistérios do outono. Veio se encontrar com a minha mãe?
MILENA CHRISTIANEu desconfiava que tudo que acontecia comigo era o carma por minhas escolhas nada boas. Era a única explicação para as coisas parecerem tomarem sempre rumos imprevisíveis, e olha que a minha vida nunca foi marcada com tantos imprevistos assim.E nota, nunca havia visto muita semelhança entre Enrique e a sua mãe, pelo menos não até agora. Posso ver o vislumbre, a irritação flamejante nos olhos de ambos me queimando como se eu fosse uma pecadora.O clima na sala estava tenso, e eu podia sentir o peso das acusações no ar. Encarei Enrique mais uma vez, tentando ler os seus olhos, mas havia apenas raiva e decepção refletidos ali. Elisabeth estava visivelmente furiosa, e eu sabia que teria que escolher as minhas palavras com cuidado.— Oh, a reunião terminou rápido. — Edward foi o primeiro a se pronunciar, e com um humor que não combinava nenhum pouco com a tensão no ambiente, mas ao menos foi o suficiente para eles desviarem o olhar de mim e permitirem-me respirar um pouco
MILENA CHRISTIAN Abri a porta de casa, me sentindo exausta e emocionalmente esgotada. A tensão do dia de hoje parecia pesar três vezes mais nos meus ombros assim que cheguei na casa que eu precisava acostumar-me que agora é minha, pelo menos até os próximos seis meses, e as palavras não ditas pairavam no ar como uma nuvem escura. No entanto, fui recebida por um cheiro delicioso de comida caseira e o som animado de Elvis Presley ecoando pela casa. Um cenário que, em circunstâncias normais, poderia trazer algum conforto, mas naquele momento, parecia um contraste estranho com a tempestade emocional que estava a viver. Ao entrar, deparei-me com a cozinha americana, onde Edward estava ocupado preparando o jantar. Ele usava apenas uma regata branca, que contornava cada músculo da sua pele bronzeada, e um moletom que destacava ainda mais a forma do seu traseiro. Um sorriso involuntário surgiu nos meus lábios ao observar aquela cena, mas rapidamente o afastei. "Está tentando distrair a si
EDWARD PORTMANA reunião se arrastava de uma forma exaustiva, mas eu não conseguia focar nas discussões que estavam sendo levantadas. Por mais que quisesse prestar atenção, a minha mente insistia em voltar à noite anterior, ao jantar que havia preparado para Milena. Era para ser um gesto simples, uma forma de me redimir por tê-la exposto na empresa, algo que, no fundo, eu sabia que era injusto com ela. Ela não merecia estar no meio disso, mas, de alguma forma, se viu enredada nessa trama por minha causa. E o que eu fiz? A levei para jantar e, enquanto tirava o sobretudo dos seus ombros, notei como a pele dela reagiu ao meu toque, como se houvesse uma conexão que não conseguíamos evitar.Eu deveria ter ignorado isso. Não era para ter dado atenção, mas, por aqueles segundos, quando vi os pelos do braço dela se arrepiarem e o seu corpo reagir, algo dentro de mim despertou. Era uma sensação de possessividade, algo que não deveria existir, porque, sinceramente, eu não nutria nenhum sentime
EDWARD PORTMANA reunião finalmente chegou ao fim. Lewis, sempre meticuloso, fazia questão de revisar cada detalhe, o que já me deixava impaciente. Eu já estava quase me levantando quando o som de sua voz cortou meus pensamentos dispersos.— Edward, espere um momento. — Ele pediu enquanto folheava um monte de papelada que mais tarde virariam o relatório dessa reunião.Eu não queria esperar. Minha cabeça ainda estava cheia dos pensamentos sobre Milena, sobre a noite anterior, sobre Merith e tudo o que eu queria era sair daquela sala e me afastar de todos. No entanto, tentei disfarçar meu desagrado, assentindo como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. Fingi estar à vontade, quando na verdade, a última coisa que eu queria era prolongar aquela interação, porque de certa forma, eu já sabia do que ele queria tratar.Os outros começaram a sair da sala, um a um, e eu permaneci na cadeira, observando a porta, já calculando o caminho mais rápido até a saída. Quando o último saiu, Lewi
EDWARD PORTMANEDWARD PORTMANEu estava no meu escritório, distraído, folheando alguns documentos, mas minha mente já estava longe. O horário do almoço tinha chegado, e eu precisava de uma pausa para clarear as ideias. Sem pensar muito, peguei o celular e decidi ligar para Milena. Não era algo que eu fazia com frequência, mas, de alguma forma, senti que devia.Toquei algumas vezes, e logo pensei em desistir, já pronto para desligar a ligação, quando ela atendeu.— Alô? — A voz dela soou rápida, quase apressada.Eu estava prestes a responder, mas Milena cortou-me antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.— Edward, qual cor você acha melhor: branco gelo ou branco marfim? — A pergunta veio de forma tão inesperada que eu precisei de alguns segundos para processar.Fiquei confuso. Branco gelo? Branco marfim? Por que ela estava me perguntando isso? Ainda mais durante o meu intervalo de trabalho? E existiam dois tipos de brancos? Achei que fosse para algum projeto dela, e pensei que talvez