O diretor temia que ela se ferisse com os cacos de vidro, por isso não deixou um único espelho no quarto. Todos haviam sido removidos.Assim que entrou, Sílvio notou essa mudança.Seus passos hesitaram ligeiramente, mas, após pensar um pouco, ele ainda se aproximou de Aurora. Ela parecia estar dormindo. A cicatriz em seu rosto se assemelhava a uma centopeia, conferindo a ela um aspecto de algo trágico.Cerca de meia hora depois, ela começou a despertar lentamente, abrindo os olhos e pensando estar vendo mal.- Síl?! – Ela esfregou os olhos várias vezes antes de confirmar. Sua voz estava carregada de choque e surpresa.Sílvio não quis especular sobre os sentimentos dela e foi direto ao ponto com uma expressão fria: - Aurora, foi você que espalhou os rumores recentes no hospital?“Rumores?” O coração de Aurora afundou, e ela se sentiu um pouco perdida por um momento. Mas, também não ousou levantar a cabeça para encarar o homem. Contudo, de sua visão baixa, ela ainda podia ver os sapatos
Aurora apertou a mão, reunindo coragem para encarar o homem nobre à sua frente e expressar sua insatisfação. - Se você não me ama, então não deveria ter me dado a ilusão de que me amava tanto ao longo destes anos! – Ela declarou, sua voz embargada pela decepção. Silvio parecia estar apenas aguardando por essas palavras. Não se perturbou, nem mostrou qualquer expressão de culpa. Pelo contrário, sua serenidade era ainda mais palpável do que quando entrou no quarto do hospital. Um pressentimento sombrio subitamente envolveu Aurora. Ele começou a falar, seus lábios finos se movendo como lâminas afiadas, enquanto olhava Aurora de cima a baixo.- Durante todos esses anos, você realmente me amou com todo o seu coração? Alguma vez você realmente me amou? – Perguntou ele, suas soando cada vez mais absurdas. - Como você pode pensar assim? – Rebateu ela, atônita. A incredulidade havia estampado seu rosto. - Você realmente acha que as coisas que fez no exterior foram perfeitas, que eu não sab
Ele se recusou, guardando o segredo para si mesmo enquanto fingia ignorância. Sua indiferença era palpável, uma máscara que Aurora não conseguia ignorar. O golpe emocional que ela sofreu foi devastadora; era como se uma tesoura afiada tivesse perfurado cruelmente seu coração, a deixando trêmula e frágil. Ela estava errada.Ela realmente estava errada!Ela não deveria ter ido para o exterior!Não deveria ter cedido à tentação. Muito menos deveria ter mentido sobre sua doença para ele!Ela deveria saber que ele não é um homem qualquer, que quanto mais mentiras se contava, mais próximo estaria o dia em que tudo seria desmascarado.- O único motivo pelo qual eu ainda tenho o direito de falar cara a cara com você, é porque eu te salvei? – Ela perguntou. - Se fosse outra pessoa, considerando o que você fez, dez vidas não seriam suficientes. - Sílvio não desviou.- Que sorte. – Aurora apertou a mão com força, mal conseguindo manter sua compostura. Seu coração parecia ter sido fortemente g
Um plano cada vez mais definido começava a se formar em sua mente, dissipando a ansiedade de Aurora. - Certo. - Ela disse a Sílvio, com sua confiança recuperada. – Entendi. Daqui para frente, não vou mais te incomodar. Quanto aos rumores no hospital, pode deixar, eu vou esclarecer tudo para eles.- Descanse bem. - Sílvio estava satisfeito com essa atitude. Enquanto falava, ele olhou para o calendário. - O diretor disse que você queria receber alta em breve, mas eu preparei uma cirurgia para tratar sua garganta no dia em que você planejava sair. Pense bem, se ainda quiser fazer o tratamento.Se ela decidisse fazer o tratamento, sua alta seria adiada. E mais... Isso também significaria que entre ela e Sílvio, não haveria mais débitos!Aurora subitamente se sentiu ansiosa.- Não é necessário... - Ela disse. - Eu estive internada por um tempo e, sinceramente, meu ânimo está abalado. Vamos deixar o tratamento para depois que a cicatriz no meu rosto melhorar, pode ser?Conquistar ele a pont
- Estou enfrentando um problema. - Ela simplesmente mostrou o folheto a ele.Ao ouvir isso, Sílvio primeiro guardou o remédio e perguntou com seriedade:- Que problema? - Era raro Lívia pedir sua ajuda, e ele estava mais do que disposto a conceder.- Não tenho certeza se este evento é confiável. - Ela disse de propósito para parecer incerta. - Se não for incômodo, poderia dar uma olhada para mim?Sílvio pegou o material. Ele era muito competente no seu trabalho, e após uma rápida olhada, deu seu veredicto.- É confiável, muitas empresas listadas estão apoiando. Se o seu ateliê se destacar neste evento, a fama pode aumentar significativamente. – Ele disse. Lívia, claro, estava ciente disso. Ela não tratava seu negócio apenas como uma forma de vingança.O investimento do Sr. Casual, a confiança de Bianca e seu próprio espírito empreendedor exigiam que ela se planejasse cuidadosamente para o ateliê.- E sobre o Grupo Duarte? – Lívia perguntou. - Grupo Duarte? - Por um momento, Sílvio fi
Ao perceber a ansiedade de Lívia, Sílvio também se preocupou e agiu prontamente. - Um momento. – Disse ele, digitando uma mensagem para Pedro. Pedro compreendeu imediatamente e, exatamente um minuto depois, respondeu “Concluído.”Sílvio mostrou a mensagem para Lívia, revelando sua decisão e eficiência, deixando ela admirada com a rapidez. .- Obrigada. - Lívia finalmente se tranquilizou.Sílvio não precisava nem queria os agradecimentos dela. Preferia que, independentemente do que fizesse por ela, ela o considerasse como algo natural. Isso demonstraria que o relacionamento deles havia retornado ao que era antes.No entanto, ele mesmo sabia que não era possível voltar no tempo. Restava apenas começar de novo.- Apenas duas palavras de agradecimento? - O olhar do homem sobre ela era tão intenso que a fez hesitar antes de levantar a cabeça.- Então, o que você quer? - Lívia mordeu o lábio.- Nada demais. - Sílvio tirou um novo tubo de pomada que havia trazido do hospital. - Apenas conc
- Não posso garantir que as fissuras se curem completamente de um dia para o outro. Mas posso assegurar que não permitirei que a ferida se agrave. – Silvio falou. Lívia se encontrava em um estado de saúde delicado e ainda precisava ter cautela em todos os aspectos. Então, Silvio a protegia com tanto zelo.Ela podia sentir o carinho dele ao aplicar o cotonete em seus lábios. Sua expressão séria era acompanhada por olhos intensos que se transbordavam afeto em cada olhar. No entanto, ela estava determinando a não ser enganada novamente e não permitiria que isso a afetasse. Ela se via como um cordeiro prestes a ser sacrificado, desde que o dono estivesse contente, ele poderia fazer o que quisesse. Afinal, ela ainda dependia dele para resolver a situação com Aurora. - Pronto. - Ele descartou o cotonete e instruiu Lívia. - Não durma até tarde amanhã. Consegui alguns medicamentos para regular o corpo e você precisará tomar os comprimidos às seis da manhã, em jejum, e depois esperar duas h
- Afinal, cresceu no campo, acostumada a disputar comida com cachorros, não deve ter muita dignidade. - Aurora concordou. - E pensar que às vezes eu me sentia intimidada pela postura de Lívia, sei que o que realmente me assustava nunca foi Lívia, mas sim Sílvio, por trás dela.- Falando nisso, é só uma caipira, a Lili. - João lamentava, ainda irritado pelo constrangimento que sofreu no hospital por causa dela. - Eu não deveria ter me deixado se intimidar naquele momento. Eu deveria ter dado um tapa na cara dela, para ela cair de joelhos implorando por misericórdia! Mesmo com Sílvio por perto, João sabia que Lívia ainda viria em defesa de seu pai!- Pois é. - Aurora suspirou. - Não sei como o Síl pôde se interessar por ela.O olhar de João passou pela terrível cicatriz no rosto de Aurora e ouviu sua voz rouca. Depois, pensou na elegância e dignidade de Lívia, sentiu que algo não batia, mas não conseguiu identificar o que era.- É, ela não chega aos pés da nossa Aurorinha! – João apena