O rei começou um discurso fazendo aquela reunião parecer mais do que uma caçada a nova esposa para o filho. Ele falou sobre responsabilidade, deveres e renúncias que todos que estavam dentro do reino deveriam ter. Falou brevemente sobre a história do seu reino e por fim passou a palavra ao filho.
Seus traços eram marcantes, e seu cabelo escuro contrastava com a palidez de sua pele. O príncipe não parecia entusiasmado com a reunião social, algo que rapidamente percebi. Ele não estava sozinho em sua aparente relutância; seus olhos, emoldurados por longos cílios escuros, transmitiam um mistério e uma profundidade que contrastavam com o ambiente festivo do baile.
"Boa noite." falou iniciando seu discurso, dando uma breve pausa para olhar cada uma naquele salão.
Por um instante seus olhos pousaram nos meus, e senti o medo percorrer minhas veias, lembrando de cada linha daquela carta.
"Como meus pais disseram, não haveria momento melhor para escolhermos uma princesa." seu sorriso pareceu forçado. " O reino tem pressa, e isso nos leva a fazer coisas além das compreensões de todos. Hoje aqui, todos são amigos e confidentes. São pessoas que acolhemos em nossa casa e que desejamos o melhor. Vocês serão testemunhas das maravilhas que Kingswood oferecerá ao mundo. Espero que não despedissem o meu tempo nem o de vocês." ele se inclinou fazendo uma breve reverência e todos os presentes fizeram o mesmo.
A música voltou a invadir o salão e os boatos sobre sua declaração começaram a inflamar a todos.
"Ele é excêntrico, não acha?" Lady Isobel falou ao meu lado e desfoquei meus olhos das costas do príncipe, que agora gesticulava com o pai de forma rápida e até feroz.
"Ele não está satisfeito com isso aqui." falei antes de pensar. Meu tempo observando a princesa Penélope me ensinou a prever os movimentos dela. Agora eu precisava aprender sobre ele para dizer ao rei qual a periculosidade do príncipe.
"O que quer dizer com isso?" Lady Isobel me cutucou e retornei meus olhos aos dela.
"Nada, esqueça. Foi um comentário infeliz." ela sorriu satisfeita com minha resposta e autorizou que eu dançasse com um rapaz que acabava de me abordar.
Um após o outro, os homens que estavam ali, tiravam as princesas para dançar enquanto o príncipe conhecia uma a uma. Meus pés não estavam acostumados a ficarem tanto tempo com aqueles sapatos de saltos e senti a pressão em meus dedos aumentarem, me fazendo mancar de leve.
"Princesa Penélope?" ouvi a voz grossa retumbar ao meu lado enquanto tentava disfarçar meu incomodo.
Me virei, me deparando com o príncipe com seu olhar clínico sobre mim.
"Vossa alteza." me apressei em uma reverência.
"Vejo que não está completamente satisfeita." ele avaliou a forma como eu me movia e senti um arrepio correr por minha coluna.
"Os sapatos são novos, logo estarão laceados o suficiente." ele me olhou de cima a baixo de forma desprezível.
"Eu preciso passar um tempo com a senhorita, quer dançar ou caminhar pelos corredores do castelo?" ele falou olhando algo além de mim.
"Eu não posso escolher." falei e um brilho passou por seus olhos.
"Não?" seu olhar me questionou, tentando entender o que se passava em minha mente.
"Não, porque se eu pudesse, não seria nenhuma das opções." falei sem pensar novamente e me arrependi. "Então prefiro, que vossa alteza, escolha nosso destino." não olhei em seus olhos, mordendo minha língua com força por estar tão irritada com meus sapatos.
"Me acompanhe." ele esticou o braço para mim e não pude fazer outra coisa a não ser segurá-lo.
Ele passou pelo meio do salão, onde todos abriam caminho para nós. Os sussurros continuavam a ser ouvidos e levantei meu queixo o máximo que pude, tentando imitar a postura que minha princesa teria.
Assim que chegamos ao corredor, Tyler deu alguns passos para além da movimentada festa e nos levou a um lugar que não existia uma alma viva sequer.
Fiquei assustada, eu sabia que moças solteiras não podiam ficar sozinhas com homens, mesmo que eles fossem o príncipe anfitrião.
Um segundo depois, Tyler me empurrou contra a parede e parou seu rosto bem perto do meu. Senti seu hálito lamber meu rosto e a fúria de seus olhos queimar os meus.
"Era isso que a senhorita tinha em mente?" sua mão apertou minha cintura e seu corpo se colou ao meu. " Era essa a opção que escolheria?" sua boca desceu ao meu pescoço e fiquei em pânico, o empurrando o mais forte que consegui.
Ele gargalhou com minha reação e ergui minha mão para bater em seu rosto, mas ele foi mais rápido.
Puxei minha mão com toda a força que existia em meu corpo. "Nunca mais coloque suas mãos sujas em mim." gritei e sai correndo em direção a festa.
Procurei Lady Isobel e assim que a encontrei a puxei para fora daquele lugar.
"O que aconteceu, alteza?" ela falou assombrada. "Seu rosto está todo vermelho." eu queria chorar pela forma como aquele monstro tinha me tratado.
"Nada, só estou com dor de cabeça. Vamos para a cama." falei andando a sua frente.
"Mas senhorita, é uma falta grave sair antes da família real, e a senhorita ainda nem dançou com o príncipe, como terá chances de conquistá-lo?" a mulher andava alvoroçada a minhas costas.
"Eu quero que ele e esse castelo queimem no inferno." brandei e ouvi seus passos pararem. Continuei a andar sem olhar para ela e alcancei meu quarto poucos minutos depois.
Bati a porta com tanta força que as dobradiças rangeram em protesto.
Segundos depois senti meus joelhos se encontrarem com o chão. Meus olhos começaram a verter água e me senti ainda menor do que era em Thalassia.
Aquele príncipe só queria abusar das princesas que estavam ali esperando que ele as levasse ao altar. Cada uma ali sabia o que estava em jogo, mas eu não me entregaria por um reino que não me via como sua filha, mas sim como uma escrava pronta para o abate.
O desespero continuou a me consumir enquanto eu estava ajoelhada em meu quarto, lágrimas escorrendo pelo rosto. Sentia-me encurralada, presa dentro deste castelo opulento, onde o príncipe Tyler mostrara sua verdadeira face.
Foi então que, entre soluços, comecei a ponderar um plano de fuga. Sabia que não poderia permanecer aqui sob o olhar implacável do príncipe. Precisava escapar, não apenas de Kingswood, mas também de Thalassia.
Enquanto minhas ideias se misturavam em um emaranhado confuso, ouvi um som suave vindo da porta. Levantei os olhos e olhei em direção ao barulho. Para minha surpresa, um envelope havia sido deslizado sob a porta de meu quarto.
Apanhei o envelope com mãos trêmulas e abri-o com cuidado. Dentro, encontrei um bilhete com uma mensagem curta e enigmática. Ele dizia: "Você passou no teste - T."
Minha mente começou a girar com suspeitas. Quem poderia ter enviado essa mensagem? Seria alguém tentando me ajudar ou alguém tentando me manipular ainda mais? A letra "T" indicava claramente o príncipe Tyler, mas qual era o significado por trás disso?
Uma coisa era certa: eu não podia confiar em ninguém neste castelo, nem mesmo em Lady Isobel. Decidi que precisava manter essa mensagem em segredo. Fui até a lareira e estiquei a ponta da carta no fogo, deixando que lentamente ela queimasse entre meus dedos. Joguei o final na brasa encandeceste e a vi se transformar em uma fuligem negra.
Enquanto a festa continuava a todo vapor do lado de fora, eu estava em meu quarto, começando a traçar os primeiros passos do meu plano de fuga. Era uma tarefa difícil e arriscada, mas a alternativa era insuportável. Eu não poderia me entregar àquele príncipe cruel.
Fui despertada abruptamente de meus sonhos pelo som insistente de batidas na porta do meu quarto. Meus olhos se abriram, e por um instante, tudo ao meu redor parecia embaçado e confuso. Mas, à medida que minha mente despertava, percebi que algo estava errado. Meu corpo doía e me vi deitada no chão, sem qualquer conforto.Levantei-me com pressa, tentando entender o motivo daquela interrupção inesperada. Meu coração batia com força, e uma sensação de urgência se apoderou de mim. Passei pela penteadeira e olhei para o espelho, vendo meu rosto pálido e meus cabelos desalinhados.As batidas na porta continuavam, agora acompanhadas pela voz apreensiva de Lady Isobel do outro lado."Princesa Penélope, acorde. Senhorita, posso entrar? Temos que nos apresentar a corte em alguns minutos."As palavras de Lady Isobel me atingiram como um raio. Eu estava tão cansada da viagem e tão imersa na loucura em que fui jogada, que acabei adormecendo de exaustão. Agora meu plano de fuga não teria como ser e
Fomos escoltadas pelo corredor ornamentado em direção ao jardim do castelo, onde o príncipe Tyler nos aguardava. As batidas de meu coração pareciam mais altas do que nunca, e minha mente estava em um turbilhão. Minha imaginação criava cenas terríveis de aves sendo sacrificadas em um tiro ao alvo cruel. A única experiência que eu tinha com caça era pegar frutas das árvores em Thalassia, e isso não me preparou para enfrentar a perspectiva de ver animais sendo mortos.Ao chegarmos ao jardim, uma brisa suave acariciou meu rosto, mas eu mal percebi. Meus olhos estavam fixos na cena diante de nós. Várias aves coloridas estavam presas em poleiros improvisados, a uma distância considerável. Um homem de aparência experiente segurava um arco e flecha, enquanto outro segurava uma ave de presa.O príncipe Tyler, com sua postura elegante, olhou para nós com um sorriso confiante. As outras princesas, cujos nomes eu ainda não conhecia, pareciam intrigadas e animadas com a perspectiva do evento. Fui
Voltei para o meu quarto andando nos calcanhares, pois eram o único lugar que não tinha nenhuma lesão. Demorei muito e tive que parar várias vezes para descanar. Aquele infeliz nem para me ajudar a chegar ao meu quarto."Oh santo Deus. O que aconteceu com seus pés, menina?" Lady Isobel entrou por baixo do meu braço e me levou até a cama, posicionando uma almofada abaixo deles."Seus maravilhosos sapatos." bufei irritada vendo o desespero da mulher."Mas você sempre os usou, o que será que está diferente?" fiz uma careta de desgosto. Penélope tinha o pé menor que o meu, mas ninguém se importou com isso."Não sei, mas jogue todos fora. Não vou colocar mais nenhum. M
Acordei me sentindo mais descansada. Os cuidados do Príncipe Tyler com meus pés haviam surtido efeito, e as dores diminuíram consideravelmente. Eu sabia que não podia ficar no castelo por muito mais tempo. Cada dia a mais naquele lugar me mostrava o quanto eu não queria participar daquele mundo.Passei pelos corredores desertos antes do sol raiar e sai por uma passagem lateral que era usada somente por criados.Para não chamar atenção, coloquei um vestido mais desbotado que eu tinha encontrado em um dos armários do quarto onde eu estava hospedada.Fui me afastando lentamente para não chamar a atenção dos guardas, até que adentrei a vila que rodeava todo o castelo.
"Onde você estava?" Lady Isobel estava parada em frente a porta do meu quarto."Fui dar uma volta." Falei abrindo meu quarto e me jogando na cama."Volta? Com essas roupas? Princesa, o que está passando em sua cabeça para ser tão inconsequente?" a voz dela estava me irritando e me virei de barriga para cima."Preciso de um banho. Por favor!" continuei a olhar para o teto sem olhá-la.O sermão que Tyler tinha me dado já era o suficiente para a semana toda. Ainda me assustava com seus gritos em minha mente, marcados como brasa."Claro, Princesa. Vou preparar um banho quente para você imediatamente." Lady Isobel respondeu com preocupação em sua voz a
Já faz uma semana desde que comecei a ir regularmente à sala de Tyler. Todas as manhãs, depois de minhas obrigações reais, me encontro com ele. No começo, eu me sentia desconfortável com seus olhos me observando enquanto eu fazia o mesmo com ele, mas agora se tornou uma tarefa intrigante.Quando Tyler está envolvido com seus vidros e anotações, vejo a lembrança de um menino feliz em seu rosto. Era como se ele só quisesse se entregar aqueles experimentos. Como se aquilo fosse a coisa mais incrível do mundo. Naqueles dias eu me sentia tranquila em sua presença.Nos dias em que ele tinha que cumprir suas obrigações com o rei, eu ficava boa parte do dia sozinha, perdida em livros de romance que eu pegava na biblioteca real.
Passei alguns dias evitando a sala de Tyler, mas estava sendo consumida pela curiosidade de saber como o livro continuava. Eu ansiava por descobrir o que a personagem descrevia, questionando se tudo era realmente tão imoral quanto minha mente insistia em acreditar.Além disso, as palavras de Tyler também mexiam comigo. Ele dava a entender que havia mais mistérios escondidos em nossos corpos do que eu mesma sabia. Isso não deveria ser possível. Como alguém poderia conhecer meu próprio corpo melhor do que eu?"Princesa Penélope," um criado me interrompeu, tirando-me de meus pensamentos. Olhei para ele com interesse quando me entregou um envelope. "O Príncipe pediu que lhe entregasse esta mensagem." Peguei o envelope com cuidado, sentindo-o quase queimando em minhas mãos. O criado cont
Ao chegarmos à imponente propriedade do Duque de Penrose, uma sensação de admiração e surpresa tomou conta de mim. A residência era majestosa, com jardins bem cuidados e uma arquitetura que exalava elegância e tradição. O cenário parecia ter saído diretamente de um conto de fadas, e eu me senti momentaneamente deslocada em meio a tanta grandiosidade.Estávamos eu, o Príncipe Tyler e a Lady Isobel, minha dama de companhia, que estava ao meu lado para me orientar nos protocolos e nas convenções sociais do evento. Lady Isobel estava impecavelmente vestida e parecia à vontade em um ambiente como aquele, enquanto eu me sentia como uma visitante de outro mundo.Tyler, por outro lado, parecia tão à vontade quanto qualquer membro da nobreza. Se