Ponto de Vista da Maria— Um centavo pelos seus pensamentos?A pergunta, transmitida diretamente para minha mente, me tirou dos meus devaneios por um momento, e ergui os olhos para encontrar o olhar azul ártico de Samuel, que parecia arder por dentro com um fogo oculto que me aquecia.O banquete de boas-vindas havia terminado há horas, e agora estávamos juntos no quarto onde ele estivera detido, recém-banhados e com roupas limpas, nossos corpos colados um ao outro.Se eu fechasse os olhos e me deixasse levar, seria fácil me convencer de que estava de volta à minha própria Alcateia, ou até mesmo com a Alcateia da Lua Azul — com Samuel ao meu lado, tudo mais ficava nebuloso nas bordas, brilhante.Soltando um suspiro baixo, me aninhei ainda mais fundo no aconchego dos braços do meu parceiro, que imediatamente me envolveram. O efeito disso foi que seu perfume já inebriante ficou ainda mais intenso, fazendo minhas narinas se dilatarem enquanto eu respirava profundamente.Ao meu lado, senti

— Agora é sua vez, Lobinha.Imediatamente, senti os pensamentos se dissiparem enquanto levantava meu queixo para olhá-lo melhor.— Minha vez? — Repeti, confusa.Samuel assentiu.— Esta noite, com Malcolm. Tive a impressão de que ele te disse algo importante. Decidi perguntar quando estivéssemos sozinhos. Está acontecendo alguma coisa?Ah, pensei. AQUILO.Fiquei em silêncio por um momento, mas então limpei a garganta e acabei confessando a Samuel sobre a proposta de Malcolm — seu grandioso plano em me trazer aqui com tanta urgência.Não desviei os olhos do rosto do meu parceiro nem por um segundo, mas pela primeira vez em muito tempo não consegui decifrar o que ele estava sentindo por trás daquela máscara neutra enquanto eu falava.— Quer dizer, é ridículo. — Concluí com um pequeno dar de ombros, balançando a cabeça em descrença. — Imagina só, a pequena Maria Pereira liderando uma Alcateia de lobisomens superpoderosos. Seria um completo desastre.Meu parceiro não respondeu imediatamente

Ponto de Vista de MariaLevou aproximadamente um dia e meio para Malcolm declarar que o problema com minhas habilidades não era algo que pudesse ser necessariamente "curado" de mim.Isso aconteceu depois de horas sentada na mesma posição, sem poder mover um único músculo enquanto alguns dos melhores curandeiros da Alcateia Sombras Carmesim se familiarizavam com meu corpo — tentando de tudo, desde invocar meus poderes até tentar fisicamente tirá-los da barreira em minha mente.Como esperado, isso não terminou bem, e resultou em eu vomitar mais do que jamais havia feito em toda minha vida.Eu podia sentir as tensões aumentando na sala enquanto todos tentavam e falhavam.Claramente, eles não estavam acostumados a falhar com suas habilidades, e tenho certeza que teriam insistido em continuar se meu avô não tivesse interferido, agradecendo a todos por seus esforços e os acompanhando até a saída antes de se voltar para mim.— Você não parece muito bem. — Ele murmurou, quebrando o longo perío

Ele continuou. — Existem algumas técnicas básicas de proteção mental que posso te ensinar para manter você protegida, manter suas memórias seguras dela e te alertar quando ela tentar te controlar.Ao ouvir isso, minhas reservas diminuíram, e percebendo isso, meu avô continuou, como se já soubesse que tinha me convencido.Pelo resto do dia, ele me guiou através de alguns exercícios mentais que, segundo ele, me manteriam protegida, e da minha parte, comecei a me sentir mais tranquila com a ideia de ver Evie Fairley.O sol já havia se posto quando terminamos, e depois de me despedir, fui cambaleando até a cafeteria para comer algo, então voltei para meu quarto onde encontrei Samuel Martins me esperando.Eu estava cansada demais para contar como tinha sido meu dia, e ele pareceu perceber isso também porque não insistiu, e foi assim que adormecemos juntos.Na manhã seguinte, acordei cedo, e depois de fazer minha rotina matinal, fui direto para o escritório de Malcolm, onde o encontrei já me

Minha garganta secou instantaneamente, mas de alguma forma consegui ignorar isso, mantendo minha resposta curta e direta ao ponto.Eu estava tensa e não queria divagar e perder a concentração nas "barreiras" mentais que Malcolm tinha me ensinado, caso Evie se infiltrasse em minha mente sem que eu percebesse.— Sim, ouvi sobre o problema com seus poderes e as sessões com os Trabalhadores Corporais. — Ela admitiu depois que terminei. — Eu me perguntava quando você viria me procurar.Engoli em seco. — Você sabia que eles não poderiam me ajudar?Ela desviou o olhar, dando de ombros com um sorriso que não chegava aos olhos.— Não tinha certeza absoluta... mas, bem, aqui está você agora, então acho que tudo acabou se resolvendo para melhor.Perguntei se isso significava que ela poderia me ajudar.— Bem, vou tentar. — Ela respondeu. — Mas não posso fazer promessas específicas.Não era a resposta que eu esperava, e minha decepção deve ter ficado evidente em meu rosto, porque depois de um momen

Ponto de Vista de MariaAo ouvir a voz cheia de admiração da Evie e pensar no que ela poderia ter encontrado enquanto vasculhava minha mente para soar daquele jeito, imediatamente me coloquei na defensiva.Fiz uma careta.Considerando como eu já estava tensa, isso não era nada bom, e reagi instintivamente, erguendo minhas barreiras mentais como Malcolm tinha me instruído a fazer assim que me sentisse minimamente desconfortável.O efeito que eu esperava era um rompimento rápido e simples da nossa conexão. Mas eu deveria ter imaginado que as coisas nunca eram tão simples.Foi o som de um gemido de dor que me alertou que algo poderia ter dado errado, e quando abri os olhos, me deparei com Evie gemendo enquanto segurava a cabeça.Seus olhos ainda estavam fechados, mas através das pálpebras, eu podia ver como eles se moviam freneticamente, e senti meu coração acelerar de apreensão.Levantei-me parcialmente da cadeira com a intenção de ir até ela e ajudar de alguma forma, mas naquele momento

Ela continuou explicando que minha mãe havia criado aquilo para fazer parte de mim tanto quanto meus poderes. Tinha crescido comigo e continuaria a crescer pelo resto da minha vida.Pude sentir seus olhos me perfurando quando ela terminou, mas não me importei enquanto meu peito afundava, minha coluna se curvando para frente enquanto apoiava os cotovelos sobre os joelhos, soltando um suspiro audível.A sensação de devastação era aguda — meu coração doía, eu começava a me sentir entorpecida por completo — e me deixou com apenas uma pergunta: Por quê?Não percebi que tinha feito a pergunta em voz alta até Evie responder.— Não posso falar exatamente sobre seus motivos. Sua mãe era um enigma para todos nós. — Ela disse. — Crescemos juntas, e o fato de sermos as únicas duas Trabalhadoras Mentais em nossa Alcateia na época nos aproximou ainda mais. Mas nunca senti que realmente a conhecia, apesar de tudo. Ela podia ser a pessoa mais doce e empática que você já conheceu, mas no dia seguinte s

Ponto de Vista de MariaO maior problema nem era o fato de que cada sessão com Evie me deixava me sentindo exausta e inútil depois que terminávamos. Não. Isso teria sido fácil demais — e quando eu já tive sorte suficiente para que algo assim acontecesse?O maior problema era que mesmo depois de uma semana e meia dela constantemente pressionando a barreira, pedindo-me para me concentrar em removê-la e tentando fazer minhas habilidades voltarem, não houve resultados duradouros.Eu usei a palavra ''duradouros'' porque ocasionalmente havia surtos. Eu chamava minhas habilidades e sentia o abismo que me separava delas se dissolver momentaneamente, fazendo meu coração pular de alegria até que, sem aviso, a barreira subia novamente.Não havia conexões nem padrões visíveis do que fazia dar certo para eu tentar replicar. Na primeira vez que aconteceu, me senti eufórica e depois arrasada; na terceira vez, já estava praticamente insensível.Mas eu não podia me dar ao luxo de ficar assim.Eu podia

Meu pescoço esquentou com a atenção, mas permaneci em silêncio, fingindo que toda minha concentração estava voltada para a roupa em minhas mãos, e não para o homem atrás de mim. Por fim, Samuel quebrou o silêncio.— Vai sair? — Perguntou ele suavemente.O som de sua voz, naturalmente grave e ainda mais rouca pelo sono, aqueceu minha pele, e por um momento, esqueci até mesmo o que ele havia perguntado enquanto minha mente divagava, calculando os benefícios de ficar para um momento rápido (relativamente falando) com meu parceiro.Mas a razão prevaleceu e, farejando, balancei a cabeça, ignorando a névoa de desejo que nublava meus pensamentos.— Sim. — Respondi, tentando soar casual enquanto olhava por cima do ombro. — Treino.Imediatamente, meu coração disparou ao observá-lo: cabelos bagunçados pelo sono, torso nu, com os lençóis cobrindo sua cintura.Ninguém — repito, ninguém — tinha o direito de parecer tão perfeitamente lindo logo após acordar, e cheguei à conclusão de que em uma vida

Nossos olhares se cruzaram, e ela me deu um pequeno aceno de reconhecimento, que retribuí.Então ela falou.— Veio sujar as mãos hoje, bonitão?A pergunta me pegou de surpresa, e fiquei ainda mais desconcertada quando percebi que ela estava se referindo a Samuel, que deu de ombros de forma neutra enquanto aceitava a mão que ela lhe estendia.— Hoje não. — Ouvi meu companheiro dizer em um tom casual.— Deveria. — Ela insistiu, segurando a mão dele por mais um segundo para enfatizar seu ponto.Diante disso, a expressão de Samuel se tornou divertida.Então ele puxou o braço de volta: — Talvez.Minha cabeça ainda estava processando o fato de que eles se conheciam e até tinham uma certa intimidade, mas quando vi os olhos de Sasha brilharem para meu companheiro, percebi que não tinha me ocorrido pensar sobre como ele passava o tempo quando não estávamos juntos.Mas era claro que fazia sentido ele estar no campo de treinamento. Afinal, ele era um lutador.— Não, não é talvez, Samuel da Alcate