Parte 71...Isabela— Por causa de minha mãe - limpou a boca com o guardanapo de papel — Ela era alcoólatra e isso não me traz boas lembranças.— Sinto muito - torci a boca — Eu também não gosto muito disso. Minha família bebe demais, especialmente um tio - abaixei a cabeça ao me recordar — Não é muito legal crescer ao lado de pessoas com esse vício.— Sim, eu sei disso - ele fica sério e sua expressão muda — Minha irmã sofreu muito por conta do comportamento louco de nossa mãe, quando estava sob o efeito do álcool.— Mas você bebe.— Sim, vez ou outra - ele mexe os ombros — Isso é um hábito italiano, mas não fico bêbado. Sei meu limite.Eu apertei os lábios em um bico. Eu entendo. Meu pai bebia muito e perdia os modos muitas vezes, isso era muito ruim. Meu tio era viciado e dizia não ser, mas fez tanta bobagem que trouxe prejuízo para muita gente.— Eu não sou muito de beber. Na verdade, peguei esse costume aqui em Roma, mas só tomo uma ou outra de vez em quando. E mesmo assim, sou f

Parte 72...IsabelaPela manhã eu fui apresentada a Edna, que era muito simpática. Fiquei com receio de que ela me visse como mais uma das mulheres com quem ele teve um caso antes. As que ele disse ter levado até o apartamento, mas Marco disse que ela era muito discreta e não faria nenhum comentário que me desagradasse.E realmente foi assim. Marco me apresentou como sua namorada e achei genuíno o sorriso de boas-vindas que ela me deu. E acho que de surpresa também, pelo rótulo namorada.— O café da manhã está pronto e esperando na sala de refeições, senhor Salvatore.— Obrigado, Edna - ela saiu com um gesto de cabeça e ele me abraçou — Viu só o que eu disse? Edna é muito educada.— É, parece que ela não me julgou - ajeitei o cabelo que estava preso — E quantas você já apresentou a ela?— Como namorada você é a primeira.Bem, pode ser, mas isso quer dizer que Edna já conheceu outras aqui.— Não fique com ciúmes, bella - ele faz uma cara de diversão.— Não é ciúme, só quero saber onde

Parte 73...IsabelaEu até entendo o que ele me diz, mas será apenas isso mesmo? E o que será que ele pensa de mim?— Depois conversamos, está bem?— Espere, vou pedir que tirem o carro.— Não, eu já disse que vou sozinha - insisti, mesmo achando que pode ser um exagero.Ele se aproximou de mim com uma expressão dura. Segurou meu braço.— Você não pode ficar com raiva de algo banal como isso, Isabela.— Pode ser banal para você - fiz uma cara de desgosto — Eu vou pegar minhas coisas e vou sair sozinha - passei por ele com o coração acelerado.Quando voltei para a sala, agradeci a Edna pelo café que nem mesmo terminei. Marco estava segurando a porta com uma cara feia, mas eu não me importei com isso. Só queria sair.— Eu vou te ligar depois. Ainda não terminamos essa conversa.— Pode ligar - ajeitei a bolsa e mexi no cabelo, nervosa — Eu tenho que trabalhar. Quando der eu te respondo.Ele não gostou de minha resposta, deu para ver, mas estou me sentindo estranha agora com o que rolou c

Parte 74...MarcoMe sinto impregnado de culpa. Eu não deveria ter trazido Isabela para cá. Eu queria que ela conhecesse o apartamento porque aqui é mais perto do centro e até de onde ela trabalha, de certa forma. Seria mais prático que ela ficasse aqui algumas noites ou talvez se mudasse de vez para cá e pudesse ficar à minha disposição.Mas, infelizmente, antes que eu pudesse convencê-la, recebi a visita surpresa de Giuliana, que vai levar a resposta para isso.É apenas sexo, só isso. Eu não vou me empolgar demais com Isabela, mas ao mesmo tempo, não vou deixar de aproveitar enquanto puder e se ela também quer isso, ainda melhor.Claro, o meu acerto com ela é outro, é diferente do que tenho com Carolina e Giuliana. As duas me servem a propósitos diferentes. Isabela é outro nível, outra coisa diferente que me deixa intrigado, curioso e animado.Fazia tempo que eu não me sentia assim por uma mulher e quando ela surgiu pra mim, foi quase como um alívio para o estresse e a rotina que mi

Parte 75...IsabelaMinha cabeça está tão lesada com os pensamentos, que esqueci e acabei vindo para a cafeteria, ao invés de ir para o restaurante.E meu humor também não está nada bom. Eu até tentei pegar um táxi, mas nenhum passou e quando vi o ônibus se aproximando, fiz sinal para que parasse e me enfiei dentro dele, para na esquina seguinte, ver que tinha um ponto de táxi com vários parados.— Isabela, porque você está aqui?— Ai, desculpa Ernesto, minha cabeça não tá muito certa hoje.— Mas você tem que ir para lá, Isabela. não tem outra pessoa para substituir você lá.Suspirei e tirei o avental que tinha acabado de colocar. — Tem algum carro que vai pra lá agora?— Tem a van que vai levar os pedidos. Aproveite e pegue uma carona com eles.— Está bem, desculpa, Ernesto.— Cuidado com a cabeça na nuvem - ele fez uma gesto com o dedo — Pode cair algo em cima de você.Pior que ele tem razão. Vi a Angelique chegando e falei rápido com ela.— Criatura, o que você faz aqui?— Errei o

Parte 76...IsabelaEu dei uma fugida de cinco minutos para ligar para Mariane. Quando peguei o celular, tinham três mensagens, uma de Marco. Meu coração deu uma batida a mais.“Quero falar com você, bella mia. Não terminou seu café que Edna preparou com atenção. Vamos nos ver hoje. Me senti triste quando se foi, sem me deixar levá-la. Sinto muito o que aconteceu, acho que fui rude. Não queria te assustar. Me liga.” MSEu não me assustei, só fiquei incomodada. Foi um banho frio em cima de minha animação logo cedo. Eu ainda estava no delírio de nossa noite que tinha sido maravilhosa. Marco foi carinhoso comigo, conversamos, rimos. Eu até nem entendo como ele pode ser um chefão da máfia.Os chefões que eu já vi em filmes são homens grosseiros, péssimos, feios, mentirosos, assassinos. Não me pareceu ser assim. Decidi responder.“Só vi agora sua mensagem. Eu não me assustei, mas não gostei do que houve e achei que você foi muito frio com relação à garota.Também não queria que tivesse s

Parte 77... Isabela— Bem, se você sabe e o aceitou, então não pode reclamar, não é?— Não precisa ser rude, Túlio - reclamei cruzando os braços — Eu não o julguei... Apenas sei que tem coisas que não são... Adequadas envolvidas nesse tipo de trabalho - apertei as mãos.— Desculpe, não foi minha intenção... - ele abaixou a cabeça — Vocês me pediram para dar uma checada em sua amiga, Angel... E eu fiz isso - ele esfrega a nuca — E ela tem problemas sérios que esconde de vocês.Eu olhei para Mariane com cara de nevosa. Queria saber, eu não saio daqui sem saber de tudo, agora.— Tem algumas coisas que vocês precisam saber sobre ela.— Tudo bem, nós preferimos saber logo.Fiquei ouvindo enquanto ele falava sobre as fotos tiradas de Angelique.— Resumindo... Sua amiga não tem mais grana, perdeu tudo - eu olhei para Mariane com surpresa — Nos últimos quatro meses, ela vem se mantendo com dinheiro de amante.— O quê? - Mariane voltou a sentar.— É isso - ele abriu as mãos — Ela vivia aqui s

Parte 78...IsabelaEu nem esperei que o assunto esfriasse. Assim que Túlio nos deixou na frente do condomínio, já fui atrás de Angelique, mas ela ainda não tinha chegado.Agora sabemos o motivo. Por isso está perdendo aulas de vez em quando. Está saindo com clientes. Meu celular vibra. Marco.— Oi, Marco! - atendi um pouco desanimada — Recebeu minha mensagem?— Recebi sim e não gostei. Você marcou e depois quase de imediato desfez. O que houve?Respirei fundo. Não sei se devo falar agora. Ele também vai ter que me explicar o que houve, não dá só pra culpar a Angel pelo que fez. Ele a incentivou.— Eu tive um problema pra resolver, foi isso - andei até a janela e abri, olhando a rua lá fora. Começou a chover.— Que problema, posso ajudar?Eu encostei a cabeça na janela. De certa forma, sim, ele pode.— Eu te conto o que foi depois. Acabamos de chegar e ainda nem comi nada.— A essa hora? Onde estava?Eu suspirei. Ele não pode ficar me perguntando essas coisas. — Marco, você não tem q

Parte 79...Isabela— O que vocês sabem? Quem contou, foi o Marco?— Não, eu vou falar com ele depois, mas prefiro saber sua versão antes. Você é minha amiga, eu acho - ergui a sobrancelha.Ela começou a chorar. Torci a boca e olhei para Mariane que encolheu os ombros.— Ai, para de chorar, Angelique... Pode falar, nós vamos te ouvir.— Só não minta pra gente, por favor! - Mariane chegou mais perto.— Eu... Eu não sabia bem o que fazer - sua voz estava quebrada e se encostou na cabeceira — Eu fiquei desesperada - gesticulou com as mãos para o alto — A faculdade estava me cobrando e eu já devia dois meses, no terceiro mês iriam fechar minha matrícula.— Achei que poderíamos contar tudo uma para a outra - Mariane disse calma.— Ai... Me desculpem... Eu fiquei com vergonha de vocês - esfregou os olhos — Eu sempre tive dinheiro para gastar com o que quisesse, vocês sabem disso.Realmente era assim. Ela só trabalhava na cafeteria comigo porque era um requisito trabalhar, para não perder a

Parte 80...Isabela— Ameaçar de quê? - Mariane questionou.— A política da faculdade não permite que nenhum aluno ou professor coloque o nome da instituição em xeque - ela cruzou as pernas em cima da cama — Se ele soltasse isso na internet, eu seria expulsa de vez.— E o que houve? - sentei ao lado dela.— Marco conhecia o cara - ela me olhou de lado, envergonhada — Perguntou se eu queria que resolvesse... E eu aceitei... Em troca tinha que falar pra ele com quem você andava, se estava mesmo onde dizia estar... Essas coisas... Mas eu juro que só falei uma vez sobre você estar no trabalho... Não cheguei a falar mais nada.— Claro... - levantei — Não houve tempo, não é? Eu aceitei viajar com ele, então não tinha nada para contar - balancei a cabeça — Estou super desapontada com você, Angelique.— Eu também - Mariane continuou — Não esperava esse comportamento.— Eu sabia que vocês iriam me julgar.— Não estamos te julgando por isso - eu disse chateada e triste — Estou magoada por você