Sarah Quando Enrico me telefonou para informar que Rachel tinha finalmente deixado a casa dele e voltado para Seattle, muitos pensamentos passaram pela minha mente. Entre eles, surgiu o desejo de que minha irmã, uma vez mais, viesse me procurar, talvez buscando redimir-se de suas ações, apenas para que eu pudesse rejeitá-la novamente. Era um pensamento egoísta e cruel, mas meu coração não conseguia perdoar Rachel pelo que ela havia feito, e o fato de estar confinado a uma cadeira de rodas só piorava meu ressentimento.Porém, ao saber que o pai dele havia vindo com Rachel para Seattle, eu logo percebi que, como sempre, ela havia conseguido manipular mais alguém em sua busca por vantagens às custas dos outros, em vez de conquistar sucesso através de trabalho árduo e esforço pessoal.A primeira ideia que me ocorreu foi ir até a casa onde Joseph estava morando novamente. Enrico explicou que ficava a apenas alguns quarteirões da minha casa. Contudo, rapidamente desisti dessa ideia ao olha

SarahNa manhã seguinte, Ryan chegou cedo a nossa casa, no momento em que estávamos todos reunidos para tomar café da manhã.Além de Kael e eu, também estavam Maira e Mary, e o clima estava bastante agradável e descontraído, até que Kael trouxe o assunto Rachel para a mesa.— Tenho atualizações sobre Rachel — ele avisou, como se para testar a nossa reação — Quando fui avisar para Paolo a que horas sairíamos de casa nesta manhã, ele contou que viu Rachel rodeando a nossa casa.Senti o desconforto aumentar com a informação, assim como a minha irritação em relação a essa história. No entanto, o que o motorista de Kael havia dito não era realmente uma surpresa para mim. Eu já havia imaginado que minha irmã tentaria se aproximar de nós, em busca do conforto que tínhamos anteriormente. Essa motivação não era por amor à família, e todos nós sabíamos disso.Joguei o guardanapo sobre a mesa e decidi falar aquilo que eu já sabia sobre o assunto, mesmo que detestasse falar sobre isso.— Na verda

RachelO homem obedeceu ao meu pedido e me encarou com mais atenção, franzindo a testa de repente. Eu imaginei que a reação era devido à minha horrível cicatriz facial. Foi impossível para mim manter a calma diante de sua atitude.— Vamos direto ao assunto, então — eu disse, deixando de lado minha deliciosa rosquinha. — O que o senhor quer falar comigo?O homem respondeu com um sorriso cordial, demonstrando tranquilidade mesmo depois de ser praticamente maltratado. Me senti imediatamente arrependida por ter agido de forma grosseira, mas não tive coragem de pedir desculpas.— Deixa eu me apresentar — ele começou a dizer — Sou Jensen Thompson, diretor financeiro da Mitchell e Associados.Eu quase pulei da cadeira ao ouvir aquela informação, meu coração parecia querer sair do peito diante da ironia do destino.— Imagino que esteja surpresa, mas já trabalho na Mitchell há muitos anos, dez para ser mais exato, e a conheço pelo mesmo tempo — ele explicou, e a cada detalhe, eu ficava mais se

RachelCheguei na casa de Joseph já passava das treze horas, e a primeira coisa que fiz foi ir diretamente para a cozinha, pois estava realmente faminta. Os donuts com café não haviam conseguido satisfazer minha fome, e eu planejava preparar algo rápido e fácil para comer. Foi nesse momento que Lindsay entrou na cozinha e me contou algo que me deixou bastante surpresa: Joseph estava na sala de estar com uma visita.— Visita? — repeti, surpresa — Joseph?— Sim, Rachel — Lindsay confirmou, sorrindo levemente — Há uma visita conversando com Joseph. E você não vai acreditar quem é esse visitante inesperado!Todo aquele suspense causou um nó em meu estômago, pois eu só conseguia pensar na possibilidade de que o visitante de Joseph fosse Enrico.— Não faça essa cara, Rachel — Lindsay disse, agora com mais suavidade — Não é quem você está pensando. Na verdade, quem veio nos visitar foi o seu irmão, Ryan.Bem, entre todas as pessoas que poderiam vir até Joseph, Ryan era o menos problemático,

EnricoConforme a promessa de Bruno, as duas garotas se juntaram a nós para uma noite intensa em nossa suíte. Tentei ao máximo afastar os pensamentos da minha mente e focar apenas nos meus instintos naturais, aproveitando ao máximo. No entanto, quando a manhã chegou, trouxe consigo uma sensação de vazio e... culpa.Embora soubesse que não havia motivo real para me sentir culpado, meu coração parecia pesado no peito, e não consegui ficar na cama por mais um minuto. A garota já não estava lá, pois fiz questão de mandá-la de volta para sua casa logo após o sexo. Ainda assim, o doce perfume que ela usava parecia impregnado nos lençóis, o que me deixou com o estômago revirado.Além do sentimento de culpa por estar com outra pessoa, também me sentia mal pela forma como praticamente a expulsei quando ela insinuou que queria passar a noite comigo, algo que estava totalmente fora de cogitação.Se antes de Rachel eu não costumava passar a noite com as mulheres com as quais me relacionava, agora

RachelA resposta dele trouxe alívio ao meu coração, e suspirei mais tranquila naquele momento.— Sinto-me melhor sobre isso agora — confessei. — Mesmo sabendo que você ter voltado tão rapidamente foi, de certa forma, minha responsabilidade. Eu não vou me eximir completamente da culpa.— O que me motivou a voltar para os Estados Unidos foi perceber que, independentemente de onde Enrico e eu estamos, nós estamos distantes um do outro. É como se houvesse sempre uma parede de gelo invisível entre nós.Eu não pude contestar aquela declaração de Joseph, já que concordava plenamente com ela.— Eu não sei o que de fato aconteceu, Joseph, mas posso dizer que há muitas palavras não ditas, e uma conversa sincera entre vocês seria capaz de trazer mais paz a essa relação.— Não importa mais — ele disse com desdém. — Agora vá. Faça o que seu coração manda, Rachel.O fato de eu não ter sido a razão principal me trouxe um pouco mais de paz. Mesmo duvidando se aquela era realmente a minha melhor deci

Enrico A primeira coisa que fiz ao chegar a Seattle foi procurar um quarto de hotel e dormir por horas. Eu me sentia exausto, após uma noite regada a bebida e sexo, seguida de seis horas de voo, onde os meus pensamentos não me deixaram pregar o olho.No entanto, o cansaço tinha tomado seu pedágio, tornando impossível para mim deixar a suíte antes de colocar o sono em dia. Foi exatamente o que fiz, mas antes disso, tomei um tempo para conversar com Sarah e explicar a situação. Queria que ela soubesse que, embora estivesse em Seattle, não seria capaz de visitá-la naquele mesmo dia. Refleti bastante sobre a situação de Rachel e cheguei à conclusão de que era crucial que sua família soubesse que ela estava grávida e, evidentemente, sem o apoio do pai do bebê.Rachel talvez nem soubesse quem era o pai, e talvez tenha tentado transferir essa responsabilidade para mim. Mesmo que ela fosse virgem quando estivemos juntos, o fato de estar grávida indicava que não fui o único a compartilhar da

Rachel As tarefas que eu desempenhava como assistente de Susan eram bastante simples e de fácil compreensão. Não tive dificuldade em realizá-las, mas, mesmo assim, me sentia desajeitada devido à maneira como ela me fazia sentir que estava cometendo erros constantemente.Então, no dia seguinte, quando o expediente na Mitchell chegou ao fim, senti um alívio profundo e uma grande necessidade de sair dali o mais rápido possível. Em resumo, não me sentia à vontade na companhia de Susan, e ela claramente não apreciava minha presença.— Antes de ir embora, você precisa arquivar todas essas pastas na sala de arquivo, no final do corredor — ela ordenou.Susan já estava com sua bolsa sobre o ombro, prestes a partir, quando deu essa ordem, e foi difícil conter o impulso de recusar, especialmente quando o expediente regular já havia terminado. No entanto, apenas assenti em concordância e fiz o que ela pediu, mesmo que eu tenha passado o tempo todo resmungando e dizendo palavras não muito amigáve

Enrico Eu tinha planejado ir direto da casa de Sarah para a casa de Joseph, pois eu precisava ver meu pai e saber como ele estava pessoalmente, independente do fato de Ryan ter me assegurado que ele parecia estar bem e feliz, e que Lindsay estava cuidando muito bem dele.No entanto, quando Hilary e Lorenzo chegaram para visitar Sarah, a conversa se tornou animada, e acabei ficando na casa de Sarah por muito mais tempo do que havia planejado. Senti-me como um completo covarde por adiar mais uma vez esse confronto, e, em vez de ir para onde deveria, acabei acompanhando meus amigos em um passeio pelos pontos turísticos de Seattle, já que Hilary estava apresentando a cidade a Lorenzo.No entanto, era totalmente sem sentido que eu os acompanhasse. Além de serem um casal, eu estava claramente sobrando nessa equação. Além disso, convidei Bruno para se juntar a nós, pois ele deveria estar bastante entediado no hotel e, como não era da cidade, talvez quisesse conhecer as atrações.No meu caso

RyanJá havia passado bastante tempo desde que Enrico saiu da casa de Kael quando recebi uma ligação de Joseph, o pai dele, a qual atendi com um pressentimento sombrio. Especialmente porque sabia que Enrico não tinha ido direto para a casa de seu pai.Quando deixei meu número de contato com Joseph, pedi que, caso algo acontecesse e ele precisasse de ajuda ou apoio, ele deveria me ligar, pois eu estaria à disposição. Considerando que Enrico estava em Seattle, aquilo parecia estranho, e algo me dizia que o assunto não era sobre ele. Ao atender a ligação, confirmei minhas suspeitas de que se tratava de um grande problema.— Em qual hospital Rachel está? — Perguntei, preocupado.Joseph informou o nome do hospital, que coincidentemente estava próximo da casa de Kael, onde eu estava naquele momento.— Estou indo para lá agora — informei a Joseph, que disse já estar a caminho do hospital também.Desliguei o telefone, apreensivo, e retornei à sala de estar da mansão de Kael, onde todos estava