Valdir— Você acha que eles sabem que foi eu?— Sim, a senhora não pode mais voltar para o seu trabalho, — acabei de roubar um carro que estava próximo a agência e enfiei a senhora para dentro, no banco do passageiro.— Ai meu Deus! E agora? Como vou fazer? Tenho boletos para pagar!— Eu estou precisando de uma cozinheira — digo forçando a vista para dirigir.Não só a vista como o corpo todo, tudo dificulta dirigir um simples carro.— Eu estou disponível.— Pode começar amanhã?— Sim senhor.— Me empresta o seu celular — estico a mão.— Aqui, sorte que eu o carrego no bolso.— A sorte é que eu decorei o número dela — penso em voz alta.Me lembro da noite anterior, quando Richard confiscou o meu celular, só de lembrar me dá uma raiva que eu seria capaz de me livrar dele com um único

ValdirEu não entendo como foi que eu consegui dirigir até a Felicia, eu estava completamente fora de mim. Passei a noite em claro, machucado e pendurado pelo braços, acredito que foi por causa da adrenalina. Fui atendido pelo doutor Ivo, o médico da família da Felicia e por sorte o meu diagnóstico não é nada pior do que desidratação profunda por ter me esforçado a noite toda e pequenos hematomas, também tem o meu nariz quebrado que eu não havia percebido, de qualquer forma eu preciso dormir mais um pouco, ainda não estou pensando com clareza... Vou dormir até depois de amanhã...(...)— Você precisa se alimentar, são ordens médicas — acordo com Felicia me sacodindo pelos ombros — ontem você chegou aqui todo machucado e sem ter se alimentado, dormiu e agora precisa comer.— Aí... — reclamo, sinto dores onde eu não sabia que seria possível sentir.— Desculpa, deite aqui

Felicia— Felicia, eu realmente sinto muito por tudo o que está acontecendo com você, e mais ainda por tudo o que você passou com aquele crápula do Quinei — Rodney começa a dizer encarando o meu rosto desesperado.A verdade é que eu não quero perdê-lo. Não estou preparada para isso.— Entendi, desculpa a emocionada aqui, é que eu estava muito carente e descontei tudo em você, mas é claro que você pode voltar pra sua vida, Rodney, imagina, é toda essa situação também que não me ajuda a pensar direito...— Outra vez você não me deixa falar, quanto mais você fala mais eu fico como o errado da história, por isso eu peço desesperadamente para que você não diga mais nada.Levo as minhas mãos ao rosto e esfrego os meus olhos para disfarçar o meu constrangimento. O meu coração não me deixa respirar normalmente, acho que estou tendo um ataque de pânico, merda, eu nunca precisei

Valdir- Meu Deus! meu filho, estamos em uma baita enrascada! - dona Nelza comenta no banco do passageiro depois de ter ouvido a minha versão de todo o acontecido entre o Quinei, a Felicia e eu.Sim, ela está certa, estamos em uma baita enrascada, eu e ela. Não temos mais um emprego, e certamente tem bastante de pessoas atrás de nós.- Se for preciso eu mato alguém, que se dane tudo - resmungo aumentando a velocidade, pisando fundo no acelerador.- Eu espero que esse alguém não seja eu, - dona Nelza se segura com medo.Diminuo a velocidade aos poucos, não posso perder o controle, preciso manter o foco.- Eu te levarei para a minha casa, ninguém sabe o endereço, estará segura lá - aviso para que se tranquilize.- E quanto a você?- Eu preciso fazer alguma coisa, não sei - sou interrompido pelo barulho da sirene de uma viatura de polícia que está na m

FeliciaOs dias se seguiram pesados, mas não derramei uma única lágrima. O meu pai e a minha mãe trataram-me como uma criança manhosa que precisava de atenção, minaram-me com muito carinho e com as minhas comidas favoritas, a nostalgia foi intensa, senti muita saudade da minha infância e do quanto eu era inocente e feliz.— Não se esqueça de repassar tudo o que conversamos com a advogada, e se conseguir chorar vai ser melhor ainda.— Pai!? Eu não vou chorar! não acho que a justiça precisa de lágrimas para ser justa.— A gente vai ganhar essa luta, Felicia, mas você precisa usar todas as suas armas! as fotos que a Júlia tem se forem usadas sozinhas podem facilmente serem tomadas como falsas! Mas se forem usadas entre lágrimas não ficará nenhuma dúvida de que são verídicas.— Eu concordo com o seu pai — Ju resmunga e em seguida enfia o conteúdo do copo

FeliciaSentei-me no lugar que me pertence, ao lado de minha advogada, completamente inerte em toda a situação.O juiz começou a ler o nosso caso, tive que ouvir as acusações baixas que o Lukas realmente teve a coragem de fazer contra mim, juro que os meus pensamentos começaram a girar e girar, tudo à minha volta girou, sinto-me como se eu estivesse fortemente embriagada.— Eu chamo o senhor Lukas Quinei para depor, meritíssimo — voltei a realidade quando ouvi o advogado do Lukas dizer.Lukas caminhou até o local apropriado, durante o percurso ele me olhou de canto, pude notar um pequeno sorriso zombeteiro no canto dos lábios, é o sorriso que ele fazia em público, quando queria zombar de mim.— O senhor jura dizer a verdade e nada além da verdade nesse tribunal?— Eu juro dizer a verdade e nada além da verdade nesse tribunal.— Senhor Lu

Felicia— Como a senhora descreve o seu relacionamento com o senhor Lukas Quinei?Essa é a pergunta do século. Paralisei ao perceber que todos olham para mim aguardando a minha resposta. — Eu... — não estou preparada para dizer abertamente a verdade sobre tudo, em frente à tantas pessoas, — eu nunca fui feliz, e nem o Lukas, — digo tentando encontrar as palavras certas.Vejo no semblante da advogada que eu não dei a resposta correta. Ela não consegue entender o que está acontecendo aqui? É um turbilhão de sentimentos que estão me sufocando! — A senhora nega a acusação feita pelo seu esposo?— Eu nego, nego todas — digo com rapidez.— Sem mais perguntas, meritíssimo.Eu sei que eu não me ajudei em nada e provavelmente vou me arrepender pelo resto da minha vida, mas eu não queria desmoronar na frente de todos, e se eu começasse a falar, to

ValdirQuando Felicia saiu pela porta sendo acompanhada dos pais, não perdi tempo e comecei a caminhar em direção à eles, não terei muitas oportunidades para me explicar sem parecer invasivo. Eu não passei um dia se quer sem tê-la em meu pensamento. — Você acabou de assinar a sua sentença de morte, seu merda — Quinei me disse, surpreendendo-me é me segurando pelo colarinho da camisa, eu havia me esquecido de que o irrite muito.— Senhor, solte-o ou teremos que tomar as devidas providências — um guarda o advertiu.—A gente se vê na saída — ameaçou entre dentes.Sem dar muita importância para o que ele me disse eu continuo o percurso em direção à Felicia, minha única necessidade agora é saber se as chances de uma segunda oportunidade aumentaram. Quando estou saindo pela porta o meu celular vibrou dentro do bolso. Uma mensagem do Zilas:

FeliciaDe volta ao julgamento e todos em seus lugares, os jurados e o juiz estão com outros semblantes, percebo uma escuridão profunda no olhar de Lukas, ele está me encarando com mil promessas, é como se depois dos trinta minutos estivéssemos em uma realidade totalmente diferente. Que diabos há naquele pen-drive?O Valdir me olha a todo instante, provavelmente se certificando de que mexeu comigo ou se estou caindo no joguinho dele.Foquei nas ações do juiz, a advogada ao meu lado parecia bem mais confiante que antes, prendi a respiração quando o juiz começou a dizer:— Pela justa decisão dos jurados, a senhora Felicia Wilsson é declarada inocente das acusações feitas pelo esposo Lukas Quinei, pelas provas analisadas pelo especialista e comprovada vitalícia, o senhor Lukas Quinei perde todos os direitos relativos à fortuna da família e quaisquer bens adquiridos dentro do casamento com a senho

ValdirEstou tomando uma cerveja em um bar quase falindo em uma rua deserta que eu nunca vim, acompanhado de um homem que eu não conheço, que chegou aqui alguns minutos depois de mim. Estou aqui pelo fracassada tentativa de tentar comemorar a nossa vitória, eu sei que não me senti mais feliz e aliviado que a Felicia, mas eu posso afirmar que estou me sentindo ótimo pelo resultado, já por outro lado eu estou perdido.— Eu ajudei ela, eu sei que eu errei, mas eu ajudei também! só que ela não me perdoa! Ela nem olhou pra minha cara, até parece que eu não signifiquei nada pra ela.— Aí é foda, meu amigo — o sujeito gira o copo nas mãos e em seguida ingere o restante do conteúdo alcoólico.— Foda? pff, isso é uma merda! isso é que é, sorte que você chegou aqui, ou eu estaria bebendo sozinho, e seria pior... qual é o seu nome? você vai ser o meu melhor amigo a partir de agora.

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